Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


terça-feira, 29 de março de 2011

É agora que a poeira se levanta
Ensinaram-me isso, o de ela levantar-se quando a chuva
Esquecida, deixada atrás dos meses de Verão
Volta a respirar na calçada
Tornando-a mais subtil ao meu andar

Caminho mais facilmente, parece-me que sim
E, enquanto isto, um taxista passa
Como passam sempre, sem o procurar não o vejo
Ele talvez sim, não sei, simplesmente acabo de passar
e de seguida atravesso a rua

O olhar perde-se, perde-se
E fica em mim uma memória
Onde se perpetuam estas mesmas pedras
E este cheiro, viro costas baixo o olhar
vendo no chão uma folha
que, com o vento, roda atrás de mim

O barulho do motor enfia-se entre ruas - sem as ver
Prédios altos - se sem as ruas ver como afirmo da altura dos prédios? -
Prédios altos convidam-no para uma outra rua
E agora já é outro o som que me ocupa
Em que apesar de também ela molhada
Difere na calçada que piso.