Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

(Sem-Título (mas não digam a ninguém, ou se disseram, baixinho para não chegar à memória))

Sempre me senti como um nabo chegado a um sítio novo, como se do que visse dependia toda a minha vida, olhava, olhava, olhava até que me diziam
-Viste aquilo?
e eu
-o quê?
sempre as coisas importantes me escaparem, ou pelo menos, agora as tomo como importantes, não sei se por apenas me terem escapado mas, se eu ao as falhar, perdi nesse momento toda a minha vida
-Viste aquilo?
não, nunca vi, não sei o que vou fazendo, penso talvez, apenas vagueando à procura, sempre à procura, de algo que pudesse mesmo fazer sentido em mim, tentando ouvir da boca de algum menino ingénuo a verdade que se escapa de quem pensa como eu, ver quem muitos consideram maus, a fazer as mais humanas das acções, acreditem, eles fazem, já os vi, sempre me dei melhor com eles que quem anda sempre em boas línguas, sempre gostei mais deles pois vi-os humanos
-viste aquilo?
apetecia-me perguntar a quem não os conhece e vê se não já com outros olhos, como, se mesmo sem conhecer, espera todo o mal num gesto, não sei porquê, talvez queira espalhar toda a sua inveja noutros
-viste aquilo?
nem mesmo que visse, não eles, eu, acho que continuava sempre à procura doutra ainda maior, um verdadeiro sentido mesmo que não exista ou eu, muito ceguinho, não tenha
-Viste aquilo?
e se visse, repondia sempre
-nã, ainda não chega
talvez nada chegue para mim, eu que sinto tudo, qualquer objecto, qualquer palavra encerra para mim toda a filosofia do mundo, anos e anos de conquistas para agora num
-Viste aquilo?
ver toda a minha sorte, posso sempre continuar à procura.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Não liguem, sou eu que estou doido

O dinheiro teimava em sair das caixas, todos eles, impacientando a vez em que se sentiriam impacientes, doidos naquela fila cada vez mais confusa defronte da máquina
-Porra, o dinheiro não sai
não sai não, cheguem-se todos para trás que agora
-quem manda aqui sou eu
sou eu sou e, se bem me apetecer, o dinheiro não sai
-Mas
não vale a pena, esqueçam o dinheiro, as máquinas, não sei mais o quê, vão todos lá para fora, ponham-se na alheta e nunca mais me apareçam à frente, porque agora
-quem manda aqui sou eu
não digam que não vos deram nada, estão aí os montes
(já cá estavam antes de vocês, não podem ser maus)
tem lá tudo o que precisam para comer, se quiserem férias façam uma caminhadazinha até à praia, não precisam de dizer nada, não agradeçam e, se tiveram a infeliz ideia de o fazer, tenho ali umas grades atrás, agora deixem-me que
-quem manda aqui sou eu
está bem, vá, acabem sem saber, falem de outros sem saberem, eles e vocês
(tanto já é o hábito que acabam por não distinguir)
juntem-se a pouco e pouco e criem mais mortos, tinham ideias que também já acabaram, não me interessa mas, por favor, depois não digam que sou eu
-Ès tu!
quem já passou do prazo, que não foram avisados e não sei que mais
-Ès tu
ok, sou eu, mas agora faço-vos a vontade porque já não mais
-quem manda aqui sou eu
impacientem-se mais um pouco à frente da máquina, juntem-se em filas que dão em lugar nenhum que agora tenho mais que fazer.
(pudesse mesmo, era isto tudo…)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

como posso fazer as coisas doutro jeito?
outro que nem o meu sei qual é
e talvez meu, sim, talvez meu
é andar sob jeito nenhum

não, não é esse que me dizem e escuto sem escutar
não é esse que escutam e outros falam
apenas eles, grandes
não é esse que penso ou fingindo digo

o que é meu é nada
não quero mais, não quero menos, nada!

deixem-me ser só com toda a grandiosidade das coisas pequenas
deixem-se acompanhado com toda a pequenez das coisas grandes
ou melhor, não, não deixem
exijo, exijo isso sim
ser só em toda a companhia que não comigo
faz falta e eu sinto
apenas essa, real
34 páginas e bloqueado, ai se eu não quisesse mesmo escrever...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Gostava de saber escrever como o Lobo Antunes que segundo ele é sobre aquelas emoções para as quais ainda não há palavras ao mesmo tempo que imitiva o Gonçalo M Tavares e conseguia falar da morte entre parêntesis, mas eu nem "parêntesis" sei escrever, tive de ir ao Word com medo de errar...
afinal sei escrever parêntesis, não sei é escrever entre

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Que sei eu das coisas
se nem coisa alguma fui ou sou.
Eu, que não mais que coisa nenhuma
em nada preenchido, em nada conseguido
se não apenas pelo sonho formado do que já não é,
existindo apenas na minha imagem, única real,
e, por em nada me preencher faço-o sem saber.

Sonho, sonho criando e sendo o que não sou nem quero ser,
as dúvidas que alimento e não encontro.
Talvez por delas nada saber e como gosto do que não sei e não conheço
e espero nem descobrir,
tudo para um dia, ter por final um desígnio mantido.
Meu, erradamente meu,
sendo desse sonho o que de mim verdadeiro ou ilusório possa haver.
A recriação do que se é certo sem o ser
Do que não se sabe sabendo.
Mas que pode tudo, se não certo ser?

Sinto das coisas algo que não é meu
e apenas por meu não ser as sinto,
sinto-as com todas as forças de quem não as sente mas ama,
com a força de gritar sem lábios mexer, apenas fingindo que beija.
Todos os meus sonhos e medos,
todos eles vistos em algo, diferente, belo, real.

E choro, choro hoje por outros,
sem saber ao certo se os há,
diferentes, como eu.
Possam eles também me sentir como eles sinto
duma forma que não minha fosse mas de todos
(como de todos gostaria que fosse)
Sentindo a pena de igual em coisa nenhuma ser,
portanto, igual e diferente em toda a plenitude desconhecida.
Mas todos,
todos eles fugindo do que são
em consciência de não saberem do que fogem,
fazem-no sem fazer
apenas porque longe estão.

A Praia - parte V

Há algo no Homem que o faz seguir sem saber, ir buscar ao fundo razões sem o serem, vontades sem se sentirem, uma incerteza capaz de fazer brilhar o que antes era pálido, rejuvenescer aquilo que morria. Não apenas ideais de felicidade, ambição ou qualquer outro sentimento comum poderão ser culpados. Mas é a alma, é nela que existe o que de nós nunca conseguimos descobrir. Carrega por todo o lado na sua caixa subconsciente, as formas experimentadas dos nossos desejos que ficaram por cumprir, os medos que apavoraram as nossas conquistas e derrotas, mas também a coragem. Tudo o que nos faz decidir um lado ou outro, fugir ou enfrentar, acreditar ou duvidar. Algo por excesso ou nada por defeito, talvez, uma coisa no meio, a infinitude de causas que nos levam, não por o que pensam ou querem de nós, mas o que sem sabermos, aspiramos a ser.
È algo que duvidamos quando deixamos de tentar viver, de tentar ser aquilo que estávamos ou não destinados. (Um miúdo que deixou de brincar sem razão quando o fazia por consideração nenhuma, não tendo dúvidas pois é impossível quando nem saberes se têm, apenas seu desejo, brincar). Mas quando dos nossos sonhos dizem que nada valem, que há um mundo lá fora que nos puxa e atormenta em salários, nomes e aparências, verdadeiros “sem-almas” transformados. Onde mais importante do que sentir é possuir e, mesmo não sentido, prazeres momentâneos são procurados, mesmo não havendo consciência, uma moral é defendida, preconceitos mantidos em prol de nada com um objectivo em tudo. Onde há muito tudo deixou de ser para apenas existirem representações, realidades inventadas, virtuais ou não, deixando A verdadeira sem observador. Ao passo que muda, mantêm-se na mesma medida e capacidade de aniquilamento os erros de sempre, incapazes de se sumirem por completo, tal como exterminarem tudo por completo, como se a derradeira vontade do ser humano seja uma dor invisível, não apenas por doenças ou frustrações, vinganças, deslizes, involuntários ou precipitados, mas o sentimento de nada saber em relação a “algo” que pode nem existir, impedida de por todos ser vista. Uma separação de níveis, um sofrimento maior naqueles que a conhecem e sentem, igual nos que “apenas” a sofrem, nada nos que já partiram ou nem chegaram a “acordar”. Uma fugacidade enorme de nada e tudo misturado em perguntas e semi-respostas nunca dadas, palavras ou vozes disparadas apenas para serem mantidas para sempre. Sofrer, sofrer sem o saber, mas afinal o que sofremos nós, do que realmente podemos dizer que conhecemos toda a sua vastidão. O que talvez nem real é, uma nuvem encobrindo razões de algo que nunca o foi, fazendo parecer tudo o que não o é.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Os Quadros - "Still life with Gingerpot - Piet Mondrian"


“As sombras nadam em objectos caídos, traços soterrados em algo que já não o é, num sítio que não existe, por uma razão que nunca houve. Todos os sentimentos, todas as figuras deparo. Quantas vontades há ali? Ali onde não as vejo, onde nem o Sol e a Lua ousam alternar olhares.
Onde nem ver se chama mas sim um sonho que toma conta dos olhos. Quem me dera sonhar desse jeito, chegar onde nem as estrelas alumiam, onde nem com uma infinidade de motores seria capaz, um ponto além do imaginado, verdadeiramente real.
Essa imagem é invadir cidades lineares ou disformes, quem sabe, as duas juntas, nos seus extremos subtis e únicos. Encontrar finalmente uma ordem natural, regente, sem apoios, nada mais que um corpo encerrado numa alma, nunca o contrário, toda essa alma em vontades suas, deixando as de outros com quem de direito. Viver seria voar sentido o vento a bater e empurrar uniformemente, numa cantiga de lugares novos e empolgantes.
O Canto faria verdadeiramente sentido e todas as palavras seriam poucas, mas, mais que belas em redor, encadeadas em novos significados para novas experiências. A minha cabeça levitava e rodaria em movimentos espontâneos, meus, genuinamente meus, fechando e abrindo os olhos, respirar seria nascer a cada momento para prova de vida, um agradecimento celeste.
Mas agora sigo. Há uma rua, edifícios caídos, um pódio azul e partido esperando um único vencedor. O Sonho acabou. Agora sei, isto é a Terra.”

Shministim

Em Israel, o serviço militar é obrigatório e motivo de orgulho, todos os jovens, homens ou mulheres. O caso, não seria tão alarmante não fosse o propósito desse serviço, a guerra. Uma ocupação tirânica, há décadas, para com um país vizinho, fomentando apenas mais guerra, num ciclo vicioso e infernal sem solução há vista.
Há alguns jovens que declaram objecção de consciência, algo que, em termos legais não é aceite. Pertencem ao chamado grupo "Shministim". Como tal, são mantidos prisioneiros na tentativa de mudar de ideias, de fazerem algo que para a maioria das pessoas é considerado heróico e o maior momento das suas vidas. Algo que, na minha visão, chamo "matar".
Neste site, http://december18th.org/, poderão encontrar testemunhos de alguns jovens na sua luta, os seus relatos e razões. Poderão ainda encontrar mais informação sobre o assunto e tirar a vossa própria conclusão. A minha, já foi há muito tomada.
O principal objectivo deste site é fazer pressing para a libertação destes infames objectores de consciência, que, no fundo, só lutam pelos seus direitos e desejam a paz. Para tal, basta que assinemos uma carta disponível na entrada do site, todas as assinaturas são importantes.
Tirar o poder de decisão nestes casos é desumano, é alienar por completo a vontade individual de cada um e os seus direitos, o direito mais essencial para qualquer um, o direito de pensar e decidir por si, sem que por isso, prejudique terceiros. Aliás, neste caso, parece-me ajudar.
Não é apenas um luta por uns, mas sim uma tentativa de mostrar a outros que existem mais soluções, não apenas em Israel, mas para todo o Mundo.

Alguns testemunhos:

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Praia - parte IV

A Praia era dirigida. O “silêncio” controlado em sons imperceptíveis, criado por um dos seus fiéis, um Sem-Nome como todos, um Sem-História iniciado. Como um fantasma independente, não por consciência própria. Vagueando rumos de ninguém à procura das respostas de todos, insaciável no seu desígnio, apenas mais um entre nenhuns. Era assim o desejo de outros.
Tudo começara como uma experiência, encontrar o timbre que fizesse o Homem levitar. Um objectivo puramente artístico que abrangesse o seu propósito, desenvolver novos mundos através de expressões. Um enlevo de poeiras sensoriais, onde o corpo era esquecido e como alimento do espírito a sua fiel companheira, música.
Nas primeiras tentativas, havia um grande conjunto de instrumentos alinhados na mesma nota mas em amplitudes diferentes. Sendo a confusão dada como resultado inevitável. Muitos foram tentados para papel dominante, algo que pudesse reger os restantes numa melodia calma. Nada resultava. Um som auto-proclamado, quase de origem divina, procurado desesperadamente em tantos instrumentos, nunca poderia resultar, teria de ser um só.
Transportas várias experiências, a resposta foi dada pelo resultado inicial, aquele nevoeiro de sons onde se mutilava algo ímpar encobrindo por outros. Uma voz única formada na repetição, sem se ouvir de inicio, essencial, sublime, diferente depois. Uma alma que eleva as restantes pela sua singularidade e presença, desprendimento material. Era o que bastava, o Didgeridoo, instrumento de sopro, originário dos aborígenes e tocado há mais de 1500 anos. Tribal, espírito e corpo num só.
Um chamamento surreal de paz. O chamariz onde correriam todas as almas desocupadas. Mesmo além da transcendência inevitável de tal objecto, foi aumentado o seu poder. Uma simbiose de vontades em prol dum único objectivo, levitar. Tudo levado ao extremo de potencialidades diversas e próprias, mil influências originando mil sonhos cada um. Aperfeiçoando assim, o mais abstracto, impercebível e marcante som possível.

Didgeridoo:

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

As árvores voavam ao vento
no sol que inundavam
As palavras paradas na distância,
O sorriso parou-a
(como a obrigação de falar)
Sorrisos acenos, olhos e olhares, sombras dançando

O mundo como cabeça de nada

Esqueci-me do Sol,
Amei-me no Mar
(Com o silêncio de ondas certas e frias, onde
Pedras engolidas no abismo da sorte
desenhavam-se no horizante,
da queda inveja sentia)

Gaivotas planavam sonhos meus, asas delas, num
Cheiro de brisa mais forte que mar

Ela, que longe me viu
ela, que longe me gritou
Eu que longe lhe acenei.
Os dois, que sozinhos estávamos
não fossem gritos sorrisos olhos sonhos
tudo...
e além, o mar.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Obrigado

Reencontrei um livro que há muito lera, um livro que muito gostei e muito me fez rir, um livro, também ele duma escrita envolvente, por tão pura ser, tão da sua nobre origem pertencente, angolana, mas universal; "Os da Minha Rua" - Ondjaki; fala sobre a infância do autor, da infância que no fim acaba por ser de todos, dos medos que vivíamos e agora rimos, descredibilizamos, das memórias que ainda temos, que pena tenho eu de as ir perdendo, pouco a pouco. A minha vida, pouco a pouco. Sinto que deixei a minha infância nas mãos de outros, os fantamas que me impediam de ir mais além, de explorar mais. Mas agora, recuperei-a a ler.
Também ele, o livro, perdido no meu sótão, desterrei-o do pó e esquecimento, agora aceso na sapiência que procuro, na brisa da vida que hoje me corre. Perdido dum tempo em que não lia, foi esse, foi esse o livro que mudou tudo, a minha primeira compra, o meu despertar! Como se tivesse nascido aí... meu Deus, nasci aí e quantas vezes já o fiz, quantas ainda terei? Sendo o meu mundo, tal como o conheço, germinado nas raízes dessa compra, desse livro, dessa infância, a minha infância, que, apesar de diferente da retratada, acaba por ser de todos, todos a passamos, todos a saudamos.
Não, não quero voltar a vive-la, gosto do que até agora descobri e, acima de tudo, do que ainda irei. Mas espero, sinceramente espero, poder recordar o tempo em que era eu puramente, onde sonhos reinavam sobre o medo e o futuro era aguardado com impaciência.
Agora me lembro, queria crescer depressa para poder fazer tudo o que quisesse, que vontade de rir me deu. Triste depois, triste por saber que por mais que faça, nunca o serei, inteiramente livre, talvez, o meu maior sonho de infância, o único que ainda me acompanha com toda a sua genuidade.
Pudesse eu voltar, não para sempre, apenas determinados momentos, determinadas memórias, saboreá-las, sentir tempo e espaço, pessoas desaparecidas, novas descobertas, sentir e ver, a Vida.
Um livro como semente, obrigado, Ondjaki.

Os Quadros - "Commissions et colloques" de Pierre Alechinsky



“As estrelas foram coladas no céu para serem admiradas. Às vezes, gostava de ter uma tesoura e recorta-las, levar todas as que possa para a minha vida, para a minha parede, para o meu sonho. Minhas, só minhas.
Dizem que partilhámos a mesma matéria, a mesma origem num ponto minúsculo, um começo de Vida do qual todos surgimos e um dia regressamos. Uma viagem onde humano e divino se misturam em cores e brilho, magia e Arte. Intermináveis corredores de ilusão.
Nesse corredor, elas imploram-me por altos brilhos que as leve, feche os olhos e ao abrir as vejo de novo, num abrir e fechar transformando escuridão em imagens encadeadas de desejos e desilusões, memórias. Tudo à minha frente entre quatro linhas pretas. Sendo o luar a banda sonora dessa música onde inúmeras formas como um todo soltam inúmeras formas como um só, mostrando inúmeros sentimentos meus, simétricos, em que a vontade de ficar è igual à de fugir e, apenas por simétricas serem, fico.
Uma mistura de luz e sombra, Vida, pós-Vida, admirando tudo o que nunca vi antes, lado a lado com o que conheço de hoje. Um "quadro" de mil figuras entre chamas de fogo, mil sonhos por cumprir em corpo de ninguém, mil sonhos por sonhar em corpo de quem?
Ao adormecer, o mundo parece um reflexo de imagens concebidas à minha vontade e gosto, pena não ser pra sempre”


P.S: Rita, agora já tens um quadro de Pierre Alechinsky, não na tua parede, mas na tua imaginação, de maneira concreta. Basta fechares os olhos e sonhares.

sábado, 13 de dezembro de 2008

A Praia - parte III

Éramos poucos apesar de isso não interessar, não sei quem eram, quando entravam, figuras tal como eu era, corpos com sombra, nada mais. Sentia-me parte dum clube secreto mesmo para os seus participantes, unidos por uma teoria involuntária do apocalipse mas igualmente pacifista. Nobres, genuinamente nobres por em momentos estarem fora de algo que se pudesse parecer humano, nem divino, coisas e com toda a beleza e singularidade de apenas coisas serem, incompreensíveis.
Era uma relação de dependência, como se uma voz me chamasse para algo irreal, um sonho enquanto dormia para outro sonho ir. A realidade era uma ténue linha entre o insólito e o ideal, uma mistura de ideias e sensações inexplicáveis como paz, tudo em troca dum despejo completo das frustrações do dia-a-dia, uma elevação espiritual sem alma, tudo em forma de carne, a sua base.
Foi estranho o dia em que descobri a Praia. Já antes tinha vontade de estar só num local tranquilo, num local onde pudesse realmente deixar de pensar, mas nesse dia quando vi outros parados num sítio de nenhures imediatamente senti-me atraído pelo silêncio, lembro-me de ver ao fundo os corpos no areal sem gestos completamente nenhuns, numa perfeita simbiose de companhia e afastamento. Apesar de me intrigar com a placa não temi e fui, fui sem alma e sem problemas também, pela primeira vez na minha vida tinha ido para um sítio sem problemas. Ao regressar não fazia a mínima ideia do que tinha acontecido, apenas a minha alma voltou e com ela o mundo, não fiquei triste, apenas com vontade de regressar e assim foi, sempre que pude, sempre que a Praia existiu.

Uma vida como rio

As emoções são como a água que corre debaixo duma velha ponte de dois arcos em pedra a cair, ervas enterradas e anos de vestígios passados. Há um sol moldando paisagens verdes e coloridas, árvores e flores misturam-se de mãos dadas num horizonte que nunca tinha sido pintado, cânticos ecoam vidas que ainda não existem e o vento sopra fotos nas faces de cada um em impressões deixadas para algo desconhecido e inesquecível. Mas, as emoções, se começam a correr são impossíveis de apanhar, e tentamos e voltamos a tentar mas nunca pensamos que irão fugir, tudo o que queremos é deixá-las cair e correr, calmamente na sua cantiga até que damos por nós e vemos que o nosso tempo já passou, que as nossas vidas são agora impossíveis de recuperar e por mais que façamos a água que passou não vai correr outra vez, é a vida, uma corrida fulminante.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Escreves por mim?

Às vezes sinto-me tão pequeno, ligo a coisas que mais ninguém liga, penso em coisas que mais ninguém pensa, e ninguém liga ou pensa em mim. Outras, sinto-me maior que o Universo e capaz dos maiores feitos da Humanidade, serei respeitado por 1000 anos e lembrado por outros 1000, depois, apenas mais uma poeira que andou por aqui.
O que sou não é nem o pior e mais insignificante nem o maior e mais deslumbrante, nem outra coisa pelo meio. O que sou é alguém que não sabe o que quer, quando quer e porque quer ser algo que ainda nem descobri, o que sou é um ser incapaz de perceber a indiferença de outros mesmo admirando a glória de alguns, o que sou nem eu sei ao certo, nunca o saberei, és capaz de me dizer?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Reino - parte V

Passava entre as fechadas ruas pensando “quantos deles defendi eu para agora esquecido ser”. Nunca os lugares lhe pareceram tão longos, os caminhos tão sós em companhia morta. Pensamentos entrando e saindo sem em nenhum se debater, e todas aquelas portas, quantas histórias, quantas vidas como ele foram já caladas, quantos gritos foram já queimados, quantos haveria para o ser ainda?
Agora não havia perguntas, lamentações de nada serviam, de nada sentia-se arrependido, tinha a razão como aliada. Apenas a pura certeza de um futuro que não haverá com um passado bem real de presente incerto, ou não fosse a injustiça toda dele e de toda a gente.
Apenas uma redonda pequena e brilhante ilha branca passeava constelações inexistentes num escuro mar espelhado, outros chamam-lhe céu. Eu não sei com o Inferno a subir no horizonte de quem olha certo, atingindo essa Lua que não merece através de cadentes contrárias.
Todos quanto o guiavam impacientes seguiam, “Chefe vai largar moeda” “bom mês nos espera” riam outros. Ninguém lhe valia, só o suspiro dos seus lembrara que também era humano, mais nenhum olhar e toque seria feito, abraçado, devido a quem manda.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Os Quadros - "Card Players" de Theo van Doesburg


“A confusão é um estado onde se aclaram as ideias. Qualquer imagem é antecessora duma outra, duma outra vida anteriormente influenciada, tudo isto numa ligação interdependente, irreal e possível ao mesmo tempo, um conjunto de carecterísticas comums dando forma ao que hoje vimos, ao que somos do que vimos, ao que todos como um só representamos numa rede interligada, indissociável de sentimentos, pensamentos e formas, o mundo. Ressentindo quando um quebra, subindo quando outro engrandece.
Indissociável é igualmente minha alma que alastra-se em linhas procurando novos caminhos, novos eus. Um encontro de motores na rua, um lado um sentido, outro lado outro, um ponto uma vida, outro ponto outra vida. Uma comunhão de existências singularmente completas entre si, em mim representadas neste canto que por momentos é meu corpo, ele que jaz assustado num canto de sala, num canto de nada, uma inexistência concreta, palpável. Nunca mais que uma figura pois perpétuo só o transcendente. Só estes pontos de emoções retidas capazes de carregar milhões de anos em imagens, em sentimentos e pensamentos, em vidas que ficaram, estes pontos tais como imagens, tais como palavras, tais como sonhos e outras essências verdadeiramente duradoras para salvar o mundo. Uma vida como sentido, um sentido como força, força de pontos poéticos de mil cabeças entre si, pontos nossos hoje meus.”

Imortal

Estranha é a formo como poeto
estranho sou eu nas minhas formas e ideias
Grande é o mar que debaixo leva o vento
grande é a vida de quem vive depois de morrer
Enganador o sonho que hoje me espanta
Sublime o sonho de viver

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A Praia - parte II

A todos pertence história enquanto existe alma, naquela praia éramos desprovidos de tal certeza. Desejos, pensamentos, sentimentos, inalcançável. Fantasmas com corpo, figuras amontoadas em sombras sobre o areal, pedras moldando imagens perante o relógio do Sol, rodeados por dois montes, nenhuma vegetação, ondulação ou algo relevante, tudo envolto num pequeno eco, uma pequena música que guiava ordenando entradas e saídas, um chamamento em forma de silêncio, fora isso e de igual grau, nada. Apenas algo físico se movia, liberto de consciência, comandado por uma vontade de fuga física levada ao extremo, viciante, incapaz de reconhecer feições, unicamente provida duma tentativa de equilíbrio interior em detrimento de qualquer religião ou conduta, uma crença também, uma crença num escape real sem sentido, sem reflexão, um proveito procurado, era a calma que nos guiava sem entendermos.
Inconscientes, encontrávamos sempre o caminho para a placa, como se uma energia encaminhasse depois de completos. Passado o Caminhos dos Desalmados regressávamos com ela, solta no vento à espera dum regresso capaz de a tomar, de a usar plenamente. Nunca fiz, tanto o pleno como um jogo de pés entre os dois estados, sem alma-alma, inconsciente-consciente, um objectivo em que se podia perder e ganhar alternadamente razão, possível num lugar lógico, não o era. Assim, quem a perdesse era imediatamente reencaminhado para a praia, calma como castigo, um ritual de purificação.
Quando saía algo era diferente, demorava até a alma se organizar. Observava-me, sei que me observava, rapidamente deslumbrava imagens, flashes com tudo o que fazia sem perceber. Momentos cambaleando pela praia até me encontrar sentado ou a abandonar, carregado duma estupidez em níveis profundos, uma completa ausência de raciocínio. Olhando para nada e tudo sem algo focar, imóvel na paz aparentemente perpétua, como se o Mundo, longe, fosse um esboço incapaz de existir, também o espírito escapava, apenas uma calma enganadora e puramente física, libertando corpo e mente no final, matéria moldando verdade, quem sabe, não mais que uma inconsciência.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Reino - parte IV

Noite posta, uma comunhão de vozes e espíritos denunciados, tochas à frente dando certa a perdição, a escuridão como espelho do medo. Rostos como sombras, sombras como rostos, essas ruas hoje não eram delas, algo as invade. Fogo conhecido de todos e por nenhum enfrentado, uns ouviam escondidos no seu beco, no seu receio, outros nem ouvir tentavam, incapazes. Poucos, os que falaram apenas sentenciaram a Voz da manifestação (nunca seu espírito), impotente perante a chama de almas sem cor, sem brilho, sem o timbre ficava, só.
Entraram e levaram-no, nada podia fazer, evitava as lágrimas de Clara e seus filhos. Atingido por erros de julgamento. Juízes com mão nos jurados, jurados com mão na bolsa, advogados estendendo a mão. Nenhuma defesa possível, todos o sabiam.
Choros, alegrias, crianças, mulher, casa, vida, tudo condenado. Esperança para nenhum, longe estavam os urras e aplausos, apenas uma mulher chorava seus filhos confusos e Um olhar cabisbaixo, um olhar fixo na próxima morada.
Pai, gritavam sem nada ser respondido.
-Pai!
As escadas rangiam dor e anos, lentas, primeiros momentos, últimos momentos,primeiros passos, seus últimos passos, (talvez só agora lhes dava importância, só agora que nunca mais as veria), imploravam na sua cabeça para ficar, tentasse e uma arma como resposta teria, linguagem de onde era natural.
Foi, pensando em mil problemas, mil sentimentos em vez de coração, mil angústias em forma de alma, tudo á volta do mesmo, os seus que ficavam, que o choravam e olhavam sabendo ser a última vez, nada podia ser feito mesmo desprovidos de culpa.
Para trás uma casa materialmente igual, mas sem seu guia. Como se a Lua faltasse à Terra, tornando-a incapaz de controlar seus elementos, seus mares, preponderante como sempre fora. Suspensos agora aqueles planetas sem satélite, sem a beleza de em momentos escuros a verem, sem a segurança de mesmo em luz a terem. Um simples grão agora, um aglomerado de grãos tais eram os sentimentos, a Lua. Alguém de imagem distante mas sempre presente faltava agora, nobre na sua essência. Rodeados de planetas e estrelas, milhões…mas sós.
Um vento enorme entrava pelas portas, pelas janelas, por qualquer buraco anteriormente invisível mas bem real agora, sem a Lua, a sua Lua. Ela como vento, eles apenas o sentiam, agora já não é deles, passam outros que não os conhecem, sem resposta, sem olhar, sem chorar com eles, iguais a todos os outros, outros mais, não interessam, outro mundo, o vento como Lua passa, eles, planetas apenas outros mais, outros mais…
Outros mais num sítio que já não o é, pessoas que já não o são, alegria que já não vive, pois ela, Lua como vento, foi-se.
-Pai!
-(Lua!)

3 Eras

O presente está influenciado pelo futuro. O passado serviu apenas como exemplo, um modelo, a experiência das nossas emoções, planos e a maneira como estes foram encarados por outros, em termos gerais, é a nossa herança, em nada nos deveria limitar caso não houvesse intolerâncias, perdas, quer sejam físicas ou mentais, ambas na maior parte dos casos.
Mas na verdade, é do futuro que nos influenciamos para tomar as decisões actuais, a memória serve apenas como guia, um conselheiro que pode ou não ser respeitado, nunca ignorado. E por não o poder ser é que temos medo de nos expor, de ser quem de verdade sentimos e pensamos, as nossas limitações. Fosse o mundo uma ininterrupção do mesmo momento e nunca igual seria caso houvesse consciência de tal facto. Muitos não se fartariam fosse seguida a estupidez como padrão, sucessivamente superada, alguns sem cessar, outros até começaram a sentir nojo de si próprios, da inutilidade de suas acções. Incompreendidos, julgados, haveria sempre quem a integridade, a dignidade humana respeitaria até aos seus limites, fossem eles o medo, momento em que se juntariam á oposta causa ou inclusivamente até à morte, mortos da sua honra que sempre confundiu o homem comum e sempre o irá fazer.
Não houvesse Passado e Futuro, apenas o Presente como senhor dos Tempos, a humanidade não existia enquanto sentimento, quem sobrevivesse em clausura vivia, a mais nobre e única das soluções para algo manter, contrário, unidos unicamente dum código animalesco, a destruição seria inevitável. Sorte nossa, apenas por uma progressiva e abrupta falta de conhecimentos tal seria possível, até porque nenhum dos três guardiões da memória é independente. Existiu, existe e sempre existirá algo, que por mais pequeno ou maior que seja, será sempre esse algo notado na uniformidade.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Omissão

Dizem haver sempre uma razão, mas terá a razão tudo?
Será a verdade o que realmente procuramos, teremos a coragem de aceitar os nossos erros e os de outros, não digo em consciência, como primeira resposta em situações fáceis e perfeitas, mas nos momentos difíceis, somos realmente capazes de aceitar a desilusão, a mágoa, o afastamento, aqueles momentos em que já sabemos a verdade nos olhos de quem conta mas insistimos em pensar noutras palavras. Pedimos por favor, mentira, diz-me que é mentira; assim tão fracos, não é a mentira, a verdade, a verdade que mais tememos, aquela que destrói de tão real que é, chegando ou não a desfazer uma falsidade.
Odeio a mentira, temo a verdade.
Poderá o que ganhamos ser mais preponderante que a perda. Não defendo a mentira, não a desculpo, abomino-a até, mas, por vezes, a verdade pode ser evitada e não, não é o mesmo que mentir.
Gosto de pensar que sou capaz, de preferir a mais cruel das verdades à mais dócil e perfeita das mentiras. Acho que tenho de crescer mais um pouco.

Os Quadros - "Female Figure with Head of Flowers - Dalí"


"Vou passando, sinto o vento, sinto o mundo. Há o meu corpo e a minha alma. Enquanto há as estrelas sei que não estou só.
Toda a minha figura é levada, rostos ficam, pessoas ficam, o passado fica. O encontro com a impossibilidade acalma-me, sem nada que encontrar avanço, se houvesse o que encontrar não. As sombras vão ficando para trás, já não vivem, lindas são as sombras que vivem, estas não, nem cor lhes resta. A meus pés, sem se poderem mover, não eu, eu movo-me, a alegria que levo por única ser até nada, a força que me faz andar, um acto irreflectido é o que me move, segura, ando e nada mais, ando e paz. Flores em vez de cabeça, flores na alma. Algo que já não o é e não importa, meu humano corpo, agora voo ao lados estrelas, não quero matéria.
Entro directamente, voo para o quadro onde já me encontrava, não eu, minha alma, agora sim, um só, paz. O calor é enorme mas não demove, há o vento e as sombras que leva, longe. Apenas cores, formas, flores, algo não meu mas sou eu que sigo, só isso importa enquanto todo o resto cai."

sábado, 6 de dezembro de 2008

Os Quadros - parte I

Eram traçadas linhas na parede, branca e igual fora, o mundo dentro. Delimitada a preto, os seus "quadros". Inês imaginava à noite, os seus quadros, dentro dessa tela marcada na parede.
Todos os que gosta, os que já viu, os que já pintou e irá pintar, tudo o que sente e imagina, tudo. Horas assim, sentada, a uma distância idel para os admirar, às escuras. Uma janela aberta deixa entrar a luz, a pouca e única que necessita, a dos carros que passam, dos candeiros grandes, sempre presentes, sustentavam o sonho, a Lua, meu deus, da Lua vê sempre algo que a assuta e espanta tal é a beleza. Mas são as estrelas, que num céu límpido de pontos reluzentes mostram todo o seu pontencial. Imagina-se a pintar, como num sonho, presa a ele, não havia necessidade de voltar, preocupar com algo mais além das suas pinturas. Durante esses momentos via os grandes mestres, os seus estilos favoritos, inspirava-se neles, vivia neles, pensava neles como também entrando naquela tela imaginária e fazer parte duma realidade diferente, algo apenas pertencente aos Deuses, à Arte. As estrelas saindo do céu e formando formas com ela, como se fosse modelo dalgum artista, á mercê do que surgisse, sempre mágico, outras vezes só elas, apenas vendo. Melhor só quando tudo se junta, e vêm os carros, os candeiros, a Lua, as estrelas e algo mais, tudo aliado á imaginação e levitava, formavam-se formas e cores, riscos e emoções naquele local, como num sonho, o seu sonho, a sua Vida. Criavam-se e recriavam-se sucessivamente, por vezes ficava assim até o nascer do Sol obrigá-la a parar, um choque de cores e escuridão alastrava naquela mente, toda ela, naquele pequeno recanto, a voar, Arte a voar.

Praia - parte I

Era chamada a Praia dos Mortos. Frequentada por vivos sem vida, apenas caras e corpos; olhar, em cada um havia uma igual expressão, apagada.
Longe de tudo, o silêncio era a música dos seus ecos, batendo as ondas mais à frente, uma pequena baía. Não havia horizonte, apenas um estreito canal rodeado de pedras montanhosas. Era o que víamos, montanhas. Como a nossa vida, obstáculos sem cessar, reduziam a esperança, o horizonte.
À entrada, não sei se por gozo ou por um pessimista convicto, uma placa colocada, madeira velha sobre madeira velha, feita de algo diferente, porfurada a canivete palavras antecessoras duma seta, "Caminho dos Desalmados". Um ponto, um local de passagem, resistente a ventos e marés, não no mar, em terra, fixa, antes o mundo, depois os mortos. "Caminho dos Desalmados", um pequeno carreiro de areias e pedras. Como se ao chegar com a carregada alma automaticamente a perdessemos. Ia, não sei, desaparecia, e desaparecia mesmo. Não eramos nós. Nunca eramos nós que seguiamos aquele caminho, o dos sem alma, esta ficava encerrada na mesma placa que abrigava a de todos os mortos, deixavam e depois seguiam, sem ela, a alma.

O Reino - parte III

João fora um dos revoltosos. Estudado e General chegaria, os pais não podiam, seu nome não deixava, faltavam títulos na herança, nunca no espírito. Comandava sim, os mancebos que em sua casa apareciam e bebiam, capazes das maiores proezas como 3 copos duma só vez, cuspir além de dois metros e enumerar todos os palavrões que não pertencendo à Língua, eram bem portugueses.
Ouvia todos, um líder, talvez por isso sentido a obrigação de falar naquele dia, ele, único que levantou a voz do povo foi o último a sair. Sabia-o bem, nunca mais nada seria igual, já o sentia. A polícia passava mais naquela rua, olhava, João olhava, eles riam, João pensava.
Figura forte e respeitada entre os seus, trabalhava como tantos outros nas construções que surgiam. Ao invés de cuspir falava, de beber ouvia, ser mandado pensava. Por isso era já conhecido da Real lei, ignoravam-no de tanto o conhecer, não agora, pressionados para o vigiar, subversivo, nada lhe podiam fazer, o povo por ele defendido haveria de o defender também, sua força fora bem testemunhada, inclusive o Bispo, sua única vontade era excomungá-lo, faze-lo arder para impor suas ordens. Não o poder era uma afronta ao seu cargo.
Nunca se queixava, nunca falava se não por todos, todos o sabiam. Sempre disposto foi a colaborar, muito conspirou e evitou das brasas, conhecidos ou não. Aclamado como um rei fora da sua presença e da quem se relacionasse com tal figura. Nunca o pedira, era apenas algo que não podia ser evitado, o mínimo que poderiam fazer em sua honra.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O reino - parte II

-Ousais vós, duvidar da Real vontade que nos manda, que em problemas torna vossos como seus. Criticam a ele, por imagem de nosso amado Solo tentar manter. Espelho de rei é espelho de Portugal.
-Imagem de Portugal é seu povo pobre e explorado, oprimido de quem manda e o crucifica, em nome de quem o foi para não calhar a nós. Fosse real a consciência que dizem ter e a Reinante Presença não apenas respeitada. Amada.
Tamanho reboliço o chamou, nosso Bispo, inchado de caras e quentes mordomias, fazia saír a vergonha dum rebanho explorado por seu Santo Hábito. Tal era o luxo, sedas e oiro cobrindo semelhante face. Altiva imagem encaminhava seus súbditos escravizados, uns de corpo, outros pensamento.
-Criticam vós quem em terra pastoreia povo do Divino, localizada em representação de Roma nesta ilustre terra, como tantas outras, espalhando fé e ensinamento.
-Delegação vil e corrupta, do dinheiro mantida e motivada quer sua Excelência dizer, sendo esse, único mandamento que vos rege e obscura, faltando aos 10 outros da Ensinação. Mantidos por quentes e horripilantes queimadas que afastam vozes contrárias. Medo e obdiência cega, calados nos tornamos, incapacitados de agir e gritar. E mesmo que o fizessemos, imponentes são vossos recantos que Novas não passam, pedra e onstentação, orgulho e submissão.
Multidão pensavam os reinantes. Sempre mais fortes e brilhantes, os raios inundavam as almas, fossem rápidos e liderados, a algo haveriam chegar. Condenados, depressa o sonho deixaram esquecer.
Foi medo, foi não saber, fosse o que fosse, não mais do que sempre, capacidade para mais ver.

Ri-me

À saída um rapaz lia. Movido duma inexplicação interrompi-o, agarrei no livro e vi o título, ri-me. Incrédulo nada disse, eu também. Deixei-lhe o que lia e saí.
Horas passaram, elas ou eu. Parece sempre igual o tempo, como se fosse apenas eu que mudo nesta constante.
Tinha acabado, chorou. "Porquê, porque me fizeste isto? Devolve-me a paz"
Não podia, apesar de não ser paz que queria, fosse, não a sabia dar. Ignorância, era o que queria, incapacidade de ver, realmente ver. Continuei calado enquanto me gritava "devolve-me a paz". Nada feito, sendo a única resposta capaz, fui buscar outro livro, aceitou-o sem reclamar.
Leu, eu outro. Por vezes olhava-me, medo sentia, não sabia que fazer, dizer, pensar, sentir, meu deus, nem que sentir sabia ele. Procurava uma resposta, algo ainda por descobrir, sem ideias do que seja, como todos, mas conhecendo, como eu a sua existência.
Acabou, voltou-se, "devolve-ma a paz", calmo o disse. Novamente, outro livro, impaciente olhava, não para mim, para o livro seguro nas minhas mãos. Leu, continou a ler, acabou, seguiu o seu caminho. Nada disse, nada havia para.
Encontrei-o dias depois, "não há paz", filosofava fino então. Nunca houve, respondi.
Foi, nunca mais o vi, também fui,outro caminho. Os dois, contentes, não tinhamos paz...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Bilhete

Alguém rouba-nos, deixa como bilhete, ao lado da arronbada porta, o fatidíco, "Roubei-te". Então, olhamos para dentro e vemos tudo aparentemente igual, mesas no sítio, dinheiro escondido, preciosidades limpas, roupa no armário, enfim, tudo igual, como se nada tivesse passado, igual à última vez em que verdadeiramente as vimos, as pensamos.
Mas aquele bilhete, aquela parte, aquela sensação, quem ousaria ter levado, o que faltava? Já não era o quem nem o quê, mas como, porquê? Algo, não todos os valores que havia, nem os dispensáveis, um mísero papel no lixo, nada. Teria sido, em vez de tirado, posto? Não, tudo igual. Medo, inquietação, juntou-se talvez isso. Entre tudo o que poderiam tirar, nada era pior.
Sem solução, nada aparentava ser diferente, mas havia aquele bilhete...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O Reino - parte I

Te rogamus, audi nos!
Fosse rogada em português, não teria tamanha atenção, mas, como era Santa sua origem, o povo calou. Nada tinham para dizer e espantados de tanto nada calaram-se igualmente. Já vozes levantavam motins e indiferenças quando obrigados foram, gritaram novamente:
Te rogamus, audi nos!
Foi ponto feito, nem que fosse de nada terem dito, coragem ganharam, avisados que à segunda o efeito seria menor, de imediato, o silenço e espanto pelo orador cortado.
-Povo que me escuta, desígnio de el-rei aqui me fez chegar. Deste alto recado vos é pedido mais esplendor que em Portugal não haja e, por esforço vosso, seja hoje de novo o antigo interesse maior da Nação.
-E nosso soberano, que fará ele por nós enquanto abastadas noites apresenta e farta seus fidalgos e pagens, de nosso trabalho pagas, com a dívida de tédio e desdem olhar para sua "defeituosa" plebe, perdoado seria, não fossem os defeitos próprios de todos.
Nesta Primavera em flor, onde manhãs de Abril agradeciam com seus verdes raios anunciadores de Esperança, a brancura trazida suscitava nos revoltosos a febre que precisavam, a coragem que faltava. Inquietos, vozes surgiam em acusações à Corte e seu Senhor, ao Clero, pouco mais via que missas em língua morta que nada entendiam, estabelecidas duma forma desconhecedora de razão. Fosse pouco, há ainda a juntar essa Santa Fogueira que almas queima em troca duma aparente e luminosa Verdade. Vivo fosse O representante na Terra que pensam ser, não sabendo queimado também seria, por grandes valores defender. Nem ao O ouvir conseguiriam ver. Essa, que de nós leva, conterrâneos desta terra por Camões pisada, quando, fora de madeiras flutuantes, aumentava mundos ao mundo, conhecimentos ao conhecimento, seu então Rei, dinheiro e ostentação. Herói esse esquecido foi, como tantos outros houve, mas não sem antes engraceder o “peito ilustre lusitano” com seus 10 cantos e demais feitos.

A Maldição

È engraçado ver relógios parados. Como se o tempo tivesse acabado e nós continuassemos a existir por uma rotina que já não acaba, tivessemos problemas por nos serem inseparáveis, mais naturais que a essencial operação de respirar. Aniquilavamos para preencher o tempo, como até aqui sempre fizemos mas já nem tempo era, uma interrupção sem fim, amaldiçoado até ao último que resista e veja por fim a desgraça humana, capacidade de auto-destruição, numa perfeita imagem do mundo por genuína ser.
Não haveria mais ar, mais passáros a cantar, mais água a correr, frio, calor, nada. Apenas nós, humanos e nossas coisas, deixados para trás em vigança por o tempo ousado descuirar, todos os nossos erros, guerras, intolerâncias, tudo. Acabar seria um desejo sem saber para onde. Veríamos sempre o mesmo, intocáveis, relógios, passavam sempre as mesmas horas, sem haver dia nem noite, horas e tempos, apenas nós, nossas coisas, nossa destruição e todos os relógios parados, anunciado a nossa desgraça. Haveria um tic-tac inacabável de algo que já não responde mas existe, infernizando todos os ouvidos com seu ensurcedor e repetitivo barulho. Lembrando a cada um seu mal, sua existência, aumentando sua ira, acelerando o fim anunciado.

Outra vez, nada

È cedo, cedo é para me encobrir em falsas providências; juízos, mil faço, mas que sabedoria encerram, sei não mais do que em mim penso e faço, escrevo e represento pouco do sou, sempre menos que imagino.
Podia fazer tais considerações que outros fizessem igual, algumas faço, outros tento mudar, qual a certa, as duas erradas? Não vislumbro tal solução, apenas reconheço que de mim partiram, primeiro ou último a fazê-las, quem sabe, que interessa, nada interessa.
Pouco se passa neste mundo que de real interesse é, ou imaginado. Não há razão para o ser. Igualmente para como sou, mas sou-o, tal como és quem não aparentas ser, seja salvo quem bem minta.
Não há ciência no que faço e penso, no que fazes ou pensas, até no que pensas fazer, tal, agora irrelevante.
Agora, que já houve ivenção, patente e nome para tudo, não há maior liberdade ver tudo ou nada, quais dos extremos pertenço, não sei eu nem tu.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

País que não existia

Vou contar a história dum país que não foi, com habitantes que não o habitaram, com heróis que não o engradeceram, com um terretório que não existiu, com uma alma que perdura.
Nesse país, as pessoas acordavam todas á mesma hora e deitavam-se de igual forma. Nesse país, todos liam os meus autores conterrâneos que eram previamente escolhidos. Todos pensavam duma forma que era previamente pensada. Ninguém sorria, nem chorava, nem falava. O trabalho era para todos igual e tudo o que necessitivam aparecia sem saberem, nem questionarem, enquanto dormiam.
Nesse país, houve finalmente alguém que acordou enquanto todos dormiam, houve finalmente alguém que ouviu barulho e gritou, mas ninguém respondeu, todos dormiam. Sem respostas, encheu-se de coragem e caminhou para junto da inquietação.
Foi aí que viu quem de noite ia buscar o que de dia trabalhavam, foi aí que viu quem de noite trazia o que de dia precisava, foi aí que viu quem de noite pendurava avisos sobre o que deveriam fazer no dia seguinte. Foi aí que pensou pela primeira vez.
Pensou, e ajudado por um cérebro novinho em folha decidiu mudar os cartazes, enquanto outros dormiam, ele, percorreu todo o país escrevendo :"Hoje não se trebalha, porquê? Pensem vocês."
De tanto correr acabou morto, mas de trabalho feito. Quem o viu nem ligou até que à primeira voz que falou, também esse pensou. Ele e todos, ninguém nesse dia trabalhou, tudo pensou e discutiu, "que teria ele visto, que teria ele feito", que havemos nós feito sem existir, que somos nós sem pensar?
E de tanto pensar o país começou a existir, as pessoas começaram a habitar, os heróis a surgir, e tudo porque alguém viu, pensou, outros viram, outros discutiram, todos ganharam.
Todos excepto quem nessa noite voltou e, surpreendido, também pensou. "Que fizemos nós, fujamos antes que cheguem." E assim acabou a exploração, acabou um país que não existia, ou seja, passou a existir, tal como as pessoas, os seus problemas, os seus heróis, os seus orgulhos, a sua história.

sábado, 29 de novembro de 2008

Colher

O mundo pode ser visto como uma simples colher. Para isso, bastaria imaginar uma simples gota, melhor, uma sucessão de gotas, uma atrás da outra, a cair. Vindas todas de igual sítio, um imaginativo local onde Vida se concebe. De onde iguais somos para diferentes acabar.
E as gotas vão caindo, passam todas elas por um largo, deslizando sobre ele, umas rápidas e elegantes mesmo que depois, de tanta graciosidade, algumas possam desmoronar. Outras há, pequenas ou grandes que possam estorvar. Por diferentes ângulos possuírem, por outras serem obrigadas a esperar e as levem também, para onde, agora contentes aparentem estar, na realidade não querem ir.
A todas as que chegam ao enorme lago, juntas, indivisíveis, identidades não únicas mas retocadas. Retardadas levadas a ser e pensar. No início, poucas, depois, mais vão caindo e tornando, o único e singular, em banal e colectivo, todas elas, gritando. Até que o lago enche e transborda, infelizmente levando, apenas quem o sustente, indeferença de qualquer guerra, caem como sempre, para um nada desligado da memória, da emoção, das outras gotas, que agora apenas pedem para não tombarem também. Nesse vazio excomungável de almas vãs, localizadas em pontos vagos.
Há ainda aquelas que no primeiro cair, passaram uma fase e vão logo para o segundo. Sem chegarem a ser, foram futuras imagens de quem não sorriu e chorou, de quem não fez sorrir e chorar, de quem agora, sorriou ou chorou, talvez até, os dois gestos ao mesmo tempo, ao imaginar, uma a uma, as gotas no seu triste fado, a cair.
No final, caem todas.

Mão

Sei que hoje ao adormecer, noite boa terei. Mas egoísta me sinto, pois em consciência sou dono da informação de muitos nesta escuridão passar, o marcante inferno de suas fugazes vidas ou de crassos erros, enfrentar o culminar.
Incrédulo fico, neste meu pensar, quantos pedidos de socorro, quantas vozes ficaram pelo ar. Quem sabe, quantos foram os casos, em que uma simples mão chegaria para uma vida poupar, um coração que cedo demais se apaga, um objecto segundo muitos, que outrora de alegria, traduz nestas horas pura inquietação. E eu, continuo, como sempre fiz, dormir. Continuarei, por infeliz incapacidade de minhas acções, (ai, fosse a mim o poder ás Mãos parar). Mas durmo, não sem antes, mostrar que todos a dormir continuam, que para muitos, mais ninguém quer e importa, enquanto longe, quem sabe, apenas uma mão bastaria.

Antagónico

O que escondo é como se da minha vida não se juntam-se mais do que duas, a vida que supostamente, realmente vivo, e uma outra, essa em que imagino viver.
Da primeira, quem há anos me reconhece, não é capaz de ignorar a solidão que não sentindo, demonstro. A leveidade com que o Futuro encaro e a minha incapacidade de verdadeiramente algo fazer, impossibilita-me de pontenciar tudo o que quero ser, ou tudo o que outros querem que eu seja. Descortino sempre razões, que, por pouco plausíveis serem, afastam-me, como se houvesse um íman que primeiro atrai, depois repele.
Apenas na minha companhia de estar sozinho, sinto-me como realmente outros me vêem. Apesar de não saber o que observam, sinto-me nos meus olhos como olhos de outros transmitem esta minha sensação de pena e desconforto, algo que se fez e não cumpriu. Feito de algo que nunca em voga esteve, por infelicidade minha, hoje muito menos apesar da doença se ter alastrado, apenas sonhos e ilusões num mundo para quem de mim diferente é.
Irremediável vagabundo de ideias por realizar, feito de almas não minhas, mas que seus rostos, seus olhares, seus gestos, seus ditos me influenciam, para o bom e para o mau, para o que sou e não sou, para o que penso e deixei de pensar. Não fossem esses, emoção nenhuma seria capaz deixar.
Sei que incapaz sou, de em total me integrar, mesmo amor ou outra nobre causa, nunca esta minha prisioneira liberdade de errante que sou iria abandonar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Inútil

"Todos os caminhos vão dar a Roma"
Pena nenhum dar às respostas que preciso, se não esses, outros houvesse. Das respostas nunca conheci existência, mas se as há devem estar noutro plano e, quem delas conhece a solução para tudo o que sofremos, têm como condenação na alma uma insanidade interminável por tanto das nossas dúvidas rir, que nele não passam de certezas puras.
Sempre me qustionei sobre tudo, sempre o faço, creio que sempre o farei, sem esperanças de obter respostas. A verdade é que faço sempre a mesma coisa, todos as horas, todas os dias. Aliás, para mim nem há dias, apenas uma sucessão de momentos repetidos. Nunca fiz nada que desse um filme ou um romance, nem tenho qualidade para os criar. Qualidade para nada. Não sou atleta, não sei pintar, não sei fingir, não sei observar. Escrever, escrever também não. Esta é apenas a forma como fui levado a pensar. Apenas tento reflectir o que sou mas erro constantemente.
Engraçado seria, alguém, ao ver um verdadeiro génio a criar, desistisse por completo do que faz. Por exemplo, se me deparasse com Eça de Quirós e a sua incrível, marivilhosa, descritiva facilidade de escrever genialmente, acho que parava no instante seguinte. Sentiria-me tão inútil, tão vulgar que apenas contaminava um mundo diferente do nosso com defeitos mundanos. Há coisas que estão destinadas a poucos, mas feitas para um público geral.
O meu pecado seria não concardar com isso, e a cada palavra que escrevesse (e escrevo) esquarteje por completo uma área tão bela e exigente, uma língua tão rica e da qual me sinto ignorante. Mas, por erro meu e sofridão vossa, concordasse em parar, nem este texto teria escrito e apesar de nada alterar com isso, eu perderia muito. Mais nada, mais nada como sempre foi e será, mais nada mudaria.
Nada, excepto eu. Seria diferente. Apesar da nobreza de tal atitude, desistir nunca seria solução, merecia por certo ser discutida (pena não o conseguir). Apesar de também esse jesto ser artística, talvez mais que qualquer que já tivesse feito, mas nunca, nunca tão grande como a menor arte que Eça possa ter feito. (como fosse possível Eça ser capaz de algo menor)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Outra coisa é medo meu,
não por de mim sentido ser
mas por de desconhecida razão,
desconhecido em forma abater.

Paredes insurjo em fúria,
fúria de preso sentir.
Em nada mais libertava fogo
fosse possível sonho comandar.

Adormeço o jazente sono
de em mim não deslumbrar
outra ideia que não me pertencer,
encostado em revalações e conquistas por cumprir.

Desapareço sem despedir,
volto sem nunca ter alienado.
Fui eu e nem se soube.

Vários sentidos feito fui,
acertar? responde-me tu.

sábado, 22 de novembro de 2008

...de tanto não saber

Novamente sobre vagas continuo. A incontinuidade demonstrada por um rosto pálido reflectido em sonho nenhum é fazer não mais que sua sombra, não mais que seu cheiro e passado, levantar sem dúvidas tudo o que desconheço em ânsia de florir conhecimentos que não meus, floresçam num jardim que quero cada vez mais largo e rompante. Apesar de em mim, pouco seja o fundo deixado, evito ao de outros descuidar. Mas imaginação minha não compadece, dando não mais do que sou, faço outros pensar mais perto do medo deles viver. Mentiria se verdade dissesse, não conhecendo, nem verdade se chama (…será ignorância?)
Hoje fiz menos que deveria, daí? Não foi o mesmo que todos. Escassamente fazemos o que deveríamos, em compensação, mais do que o desejável em cobardia, mistura contra balançada de bem e mal, certo e errado, estúpido e feliz, eu e tu. Sempre fugindo dum bem irremediável em alcanço dum mal besteiro e momentâneo, retardador e suicida.
Não seríamos humanos não o ousado feito. Tantos os erros que nos marcam que acabam por nem erros considerados ser, oh vã glória de viver, porque não tornas o mal que é de hoje na vontade maligna de outrora morrer.
Quem em consideração não se reveja fuja, ainda é tempo. O medo de se rever é igual em tantos como eu, mas furibundo não se encerra em mim, pensamentos presos como restos de cabelo e alma no vèu. Certo estou da futilidade que é acabado.
Ocupado em conhecimento do meu ser, poderia explorar o que de mim igual é feito (talvez parecido) medo, mal, suposta bondade de ar rarefeito (que de raro em mim há em achar), porventura crença e descrença em que algo seja ou não real, mas ideal seja a ideia de Nele alguém socorrer, não meu caso que de há muito em incógnitas suspendo. Algo mais mundano, só amor e ódio.
Mas igual a tantos me vejo, sem saber se algo concreto realmente existe. Deslumbro algo que mais sentido faria, apenas por idealizado ser. Quantos sonhos ficaram por dormir em desproveito de quem os poderia sentir.
Ao tempo destes segundos passados, pouco mais me cego, não sendo a ideia de duvidar encerro. Futuro? Fazeria sentido alcançar não fosse o medo de nele me afundar. Por agora, certos sentimentos denunciar ouso, sem conhecimento nem vivência que me façam perito, igual seria aceitável.
Que poderei eu dizer, se não apenas imitando: Amor é …sol…mar…céu…vida…natureza, quem sabe se não a morte da qual fujo. Talvez seja não mais que tudo, não sei explicar mas sua existência conheço.

Não sendo mais que emoção, mexe a razão.
Serenidade te peço
até em mim achar justificação.

Hoje sei que de longe olho,
e entre cruzados por certo,
qu`é isto se não solidão?
Mais certo, em seco cair.
Peço desculpa, teu amor não serei capaz cumprir.

Pior,
só mesmo quando em ti despertas
este meu sentimento de alienamento,
levando à imaginação
este devanaio jeito meu ser.

De mim não voltarei
enquanto coração arrastado em brasas
não se extinga na recordação.

Vis juízos sempre fiz
(erros de incompreensão)
mas do que te peço agora
não seja eu saber,
porque da esperança de não o ser
surgiu em mim tal apreciação.

Sei que culpado fui,
caso se da culpa se faz o sonho
seja feita sua condenação,
condenado fui por toda esta admiração.

Mais nada digo, demais foi exposto sem de mim haver reflexo ou comoção. Não deixando enganar, sei de minha mão a presença de palavras deixadas em vão.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"Em resposta a um belo desafio"

Andam a circular uns questionários originais e não era capaz de deixar Bob Marley fora disto.
1) És homem ou mulher? "Bad Boys"
2) Descreve-te: "Soul Rebel"
3) O que as pessoas acham de ti? "Slave Driver"
4) Como descreves o teu último relacionamento? "No women no cry"
5) Descreve o estado actual da tua relação: "Rumors"
6) Onde querias estar agora? "Smile Jamaica"
7) O que pensas a respeito do amor? "Sun is shining"
8) Como é a tua vida? "Waitting in Vain"
9) O que pedirias se pudesses ter só um desejo? "No more trouble"
10) Escreve uma frase sábia: "Could you be loved?"

P.S: E tudo isto porque a minha amiga Rita gosta de me pôr a trabalhar...

Tanto de nada

São tantos os momentos em que questiono o que irei escrever (como agora), não tendo se quer imaginação para o fazer (quase sempre). Mas, por alguma razão o faço, razão essa que desconheço e me atormenta continuamente. "Porque não posso simplesmente apanhar uma bebedeira como todos? Raio, que mania". Tinha eu de ser diferente!
Acabo sempre por escrever e gosto, não do que escrevo, do acto. Transformar pequenas letras numa pequena aglutinação, mais tarde formarei uma pequena frase, e reunidas formarão um texto, grande? pequeno? (Bom ou mau? já é com o leitor…)
Aprendo sempre algo que não meu, faz parte de mim. Talvez uma simples ideia, que possa até já ter sido pensada, mas sempre com novo toque, tal como Goethe disse: "Todos os pensamentos inteligentes já foram pensados; é preciso apenas tentar repensá-los."
Não sei se acredito realmente nisso, há sempre mudanças, temos vivido grandes mudanças, talvez não tanto em termos de sentimentos (esses fazem parte da Natureza há seculos e pouco mudaram, amor, amizade, traição, desilusão, perdão, reconforto, inveja, mesquinhez. Enfim, tudo o que de humano existe) mas ocorreram grandes revoluções sociais, e impulsianados por uma tecnologia fria descaracterizamo-nos continuamente.
Hoje em dia tudo é feita para evitar o esforço, tanto físico como mental. Todos sabem somar 1+1, mas quanto será √1 sem usar máquina? (apesar de reconhecer que esse banal conhecimento não sirva para nada, ou eventualmente, para muito pouco)
O papel dum escritor não é só compor frases, criar personagens e histórias, também mostrar o que muitos não vêem, apontar o que muitos não sabem. Se esse papel desaparecer, desaparece muito mais que um simples livro, desaparece uma consciência.

P.S: já agora... √1 é 1 (uma simples curiosidade matemática)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Reflexo

Não, não tenho medo de morrer. Tenho medo sim, medo de viver. Coisas boas, coisas que não percebo, outras, simplesmente más. A morte...apenas um estado, não sei se haverá vida, se seremos apenas um corpo, um espírito. Ninguém o pode assegurar, e, sinceramente, pouco me interessa. O que serei depois?... nem agora alcanço tal vislumbre.
O meu maior medo é das coisas boas, tomo-as perfeitas. Isso sempre foi irreal e suicida. A perfeição só existe em tentar alcança-la, e mesmo aí, duvido a utilidade. As más, conheço-as, não desiludem.
O pior mesmo é a consciência, embora seja inútil, martririzo-me por todos os meus erros. Agradeço que só me veja, em média, uma vez ao espelho em ciclos luz/escuridão. Entre adormecidos olhos não me impaciento com o seu significado, do que realmente vejo e é visto, se será por mim... ou, por mim. Não interessa. Se será realidade? imaginação? não invejo essa verdade aparentemente descoberta.
Única que conheço, mesmo desconfiando: A imaginação mais real que a felicidade humana. Duvidam? então também não são felizes.
(não disse tristes... mas isso, talvez outra história)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Vinco

Hoje, tal como muitos dias, segui o caminho normal da minha consciência, a biblioteca municipal. Igual a tantas outras, sendo o único relevo...os livros. (Incrível como o espaço físico é muitas vezes sobrevalorizado em detrimento da verdadeira função). Têm, como todas as outras, uma biblioteca, onde estão arrumados cuidadosamente muita da sabedoria esquecida. Há um espaço, onde sentados se lêem inúmeros jornais e revistas, diários, semanais, mensais, anuais…Esta tem o requinte de possuir outra biblioteca, dedicada aos mais jovens. Um excelente auditório e dois espaços para Internet. Enfim, um verdadeiro luxo desperdiçado na ignorância de quem do conhecimento foge.
Sentei-me, pensativo no livro que tinha em mãos, aconselhado por duas amigas,"A Ponte para a Eternidade" de Richard Bach, estou longe de o acabar mas para quem adora metáforas têm aqui uma pérola.
Ao mesmo tempo que me absorvia na leitura, também em mim concentravam-se ideias para outras coisas, fruto da imaginação da história. Ideias de que também eu poderia ser capaz de escrever um dia algo que fizesse alguém como eu sentar-se. Há poucas coisas mais poderosas. Ideias de que não seria capaz, fruto duma descrença em quem exige muito de si próprio.
Infelizmente tive de ir, e, como o livro não me pertence mas não podia deixar um marcador, faço algo que não se deve fazer em algo que não é nosso, um vinco numa página. Espanto meu surge quando reparo que este já tinha sido marcado na mesma folha, mas na página contrária. Ao tentar desdobrá-lo ouve algo que me impediu, o passar dos anos dessa página, uma certa dificuldade colada. Apesar de acessível a todos, porventura, ninguém se tinha apercebido antes dele, a não ser eu e o antigo marcador. Nunca antes, alguém tinha marcado a mesma página ou no meu caso, não tinha sido a página a marcar o leitor.
E então pensei que ao demorar a virar a página, já algo em mim seria diferente, já a minha percepção seria diferente, tal como foi a do antigo leitor. Apenas ele (ou ela), leu essa página á sua maneira, numa maneira só dela, inatingível a todos os outros, possível de alguma compreensão, mas a sensibilidade que foi lida, nunca mais. Pois há sempre algo em nós que faz com que a visão não seja global, genuidade.
O mundo é feito de sucessões, não fosse a biblioteca, não fosse as minhas amigas, não fosse um autor, não fosse um livro, não fosse um vinco e talvez nunca teria pensado nisso. Não fosse eu, a sentar-me aquela hora, naquele local e talvez também não me tinha apercebido, e não fosse isso, talvez a sua leitura não me parecesse agora indispensável. Apenas a palavra é a mesma, mas sempre lida de maneira diferente, sentida de maneira diferente. Devo tudo á primeira pessoa que gemeu as primeiras onomatopeias.

domingo, 16 de novembro de 2008

Insurgam-se

A intemporalidade é um marco. Não escrevo porque não queira morrer, de facto, nem sei de certo se não o desejo. Nem conseguiria eu alguma vez ser imortal, mas a verdade é que sendo algo que possamos imaginar, algo que nos possamos fazer passar por outros, da maneira como nós próprios gostaríamos que fossemos é algo idílico de mais para rejeitar. Eu sei que todas as conclusões parecem desajustadas mas sem as tentar encontrar, ou pelo menos uma pequena parte, nunca evoluiria. È a favor disso que me insurjo, não apenas brincar com palavras, acho isso completamente irrelevante, toda a arte deve incorporar nela própria uma alma, emoções que só dela nos possam tocar em diversas maneiras. Um piano que apesar de libertar bons tons melódicos dá-nos uma sensação de repetição, completamente irrelevante e absurdo. Não tento dizer que tudo o que á partida é igual é errado, mas a consciência com que fico é que o pretensiosismo é em muitos casos gritante, impulsionado por um novo egoísmo cada vez mais patente na nossa sociedade. Como gostava de poder sair e ser quem realmente sou, sem olhos críticos em mim. Apesar de essa ser uma realidade que a mim pouco afecta, sei que não o é a muitos, responsável inclusivamente por boa parte da tacanhez, do preconceito latente na nossa sociedade em todos os níveis. Enquanto que a imagem é sobrevalorizada, o conteúdo deixou de ser levado em conta muitas vezes. A essência duma obra passou a ser o contraste, não duma forma extremista mas apenas uma alteração visível em certos detalhes que permitam dar uma assinatura. Mas temos de ser realistas, o contraste, o ser alternativo, embora que seja só por fora, nunca em termos individuais mas sim identificativos duma ideologia (consumista na maior parte das situações) é hoje um dado adquirido, quase que nos foi imposto. Tornando a verdadeira diferença uma miragem. O espírito, a alma, as ideias são sempre as mesmas e com o mesmo propósito, a atenção. È necessário uma revolução de mentalidades, algo que varra por completo todos os preconceitos, justificações subtis, que estão agarradas a ideias pré-concebidas, tradicionalistas, enraizadas em sociedades ultrapassadas e mesquinhas torna-se hoje urgente, como sempre foi. Mas enquanto que toda esta geração marcada pela comunicação poderia fazer uma alteração rápida, é ao mesmo tempo influenciada pelos mesmos males que a corrompem, impedindo uma clara divergência entre o que é certo ou errado, colocando apenas em quase tudo o que nos possa causar dificuldades, evitando a todos o custo soluções graças a movimentos imperceptíveis que aniquilam qualquer tentativa de mudança. Leio em muitos sítios: ”È tempo…”, sempre o foi, mas actualmente e pela primeira vez, corremos o risco de ele nos ser negado para sempre.

sábado, 15 de novembro de 2008

Velha Dor

Por vezes sinto-me como se o mundo fosse explodir
e á minha frente um menino perdido.
À nossa frente
haveria tudo o que digno seria supor em tal situação.
Um ensurdecer do vazio
em que seriamos levados até todas as memórias devido ao encoberto desvendado,
glorificando pela primeira vez,
cada dia como um mal adiado.
Um vento cortante que nossos cabelos levam
na ânsia de toda a frustração acabar
mas mesmo ao partir volta sempre a quebrar.
Haveria ainda uma ravina
onde seriamos tentados á saltar sobre nuvens de água que se insurgem no bater
mas quem na verdade batia seriamos nós, desfeitos neste dia anunciado.

De repente paro,
entre meus olhos parados de medo
diante do verdadeiro medo que em mim se insurge.
Parado pensava em fugir
essas que pareciam quebrar,
não sei o que realmente me fez parar
a não saber, tal como em nada da minha vida,
sei apenas o que vi.
Via nessa criança a confiança que em tempos foi minha,
via nessa criança o olhar superior de quem não teme como eu não temia fazia tempos,
mas acima de tudo, via o olhar que meu foi,
escapado nessa dor há tempo demais.

Que teria significado crescer?
Teria realmente sido verdade
ou apenas enganado um espelho.
Hoje não faço pergunta para a qual possa saber resposta
apenas porque o que desconheço, desconheço em mim e nos outros,
apenas porque exijo saber porque vivo e para onde caminho
(se é que realmente caminho).

Mas porque penso,
quão condenado me sinto,
toda a minha filosofia nada serve perante o medo.
O medo de nada saber
o medo de nada ser
o medo de meus sonhos falhar.
Mas agora sei-o,
todos os meus sonhos falharam,
agora que me vejo preso
agora que mais nada posso perder
agora que em mim algo cresce
em sentido contrário ao razoável.

Diante dele estou,
á nossa volta, nada vivo parecia existir:
"Porquê nós?"
"Não é essa a pergunta certa,
certo seria perguntar, porquê tu?"

De joelhos caí,
nem a dor das pedras me fez demover,
em mais nada conseguia pensar se não em infortúnio assistir.
Que terei eu feito para além
de viver me negar,
do medo abastecer todo o meu corpo
e em mim próprio rodar.
Para todos os convites arranjei desculpas
até que as arranjar deixar de ser preciso.
De todos os meus amores vago me senti,
baixo, sem palavras se quer para olá dizer.
Aos poucos fiquei também velho,
só por natureza.

Passei a ver todas as luas, todas as estrelas, todas as nuvens, todas as noites.
Só, irremediavelmente só,
e do mundo conhecer apenas algo que fora dele levita no meu imaginar.
Desculpei sempre o indesculpável,
caí sempre que me empurraram sem tentar segurar,
todos os possíveis olhares
a correr fugir do medo de alguém poder conhecer,
do medo de alguém poder criticar o vazio que criei,
do medo de alguém criticar todos os defeitos que tenho e conheço
e apenas por os ouvir de novo,
vir outro medo mais forte por alguém o dizer.

"Vai! Atira-te!
Atira-te agora enquanto podes,
enquanto a pouca lucidez que resta não se acaba
e acabes num beco como um vagabundo.
Vai, vai ou nem sequer vás,
volta! volta a ser o menino que foste
e aprende outra vez."

Como eu gostava de voltar a ser.
Quantos amigos tinha,
que deles nem um postal recebo
apenas vejo um que perto vivo.
Quão feliz já fui
quando não pensava sequer em morrer.
Porque pensei, porque pensei eu?

Não me sinto capaz
nem de ir nem voltar,
não me sinto se quer capaz de respirar.

Não me vejo a acabar,
este egoísmo transformou-se em algo tão forte
que me controla, vendo sofrer.
Nem de pensamentos existo,
nem de afectos resisto,
porquê voltar?

"Entre milhões não tens nem um,
tudo te escapou,
tudo te fez morrer,
tudo te fará acabar"

Em mim o vejo
sempre que olhos fecho.
Daquele dia foi mais que o vento ou o mar,
mais que o menino ou a dor.
Fui eu que me fiz voltar.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Verdade, sem definição

Gostava de me responder.

Conheço a verdade há muito descoberta
sentido dela a derrota.
Derrota de quem a procura sem cessar,
derrota de quem a pensa encontrar,
derrota, até de nela me ver.

Sei igualmente o muito que perco
ao me perder em mim.
Sei realmente que o muito que posso perder
faz parte, mas de outra ordem,
ao muito que posso ganhar.
Mas não sei eu, e aposto que não sabe muitos,
quanto deveremos nós ganhar?
quanto deveremos nós perder?
Equilibrar, aniquilar?
Ser infinitamente uma coisa
ou infinitamente coisa nenhuma.

Quando penso que único desejaria ser,
uma solidão invade o vazio.
Mas se acompanhado me vejo,
de seguida, só me repleto.

Nunca dois extremos se juntaram,
nunca nada virou se não em tudo,
nunca viverei a primeira vez.
Afogado, minha alma me fez.

Quererei a verdade numa resposta
ou apenas minha dor mascarar.

Insurgindo montes de nada
contra nadas de tudo.
Vejo e desprezo
tentado eu, que me desconheço,
ser infinitamente algo que não eu.

Será de facto um mal
ou uma dor de olhos reflectindo sem pensar.

Serei em todos apenas um?
Serei realmente apenas eu?
Quão diferente me vejo e revejo
ao em nada me deslumbrar.

Até que de verdade, a verdade responde:
"Rostos pálidos e vazios,
sem gosto e alma
morram hoje comigo em ânsia de encontrar"

Viverei tentando conseguir
a paz que me falta ao acordar,
serei verdadeiramente capaz de me ver
ou hoje nem imagem vejo.
Por algum motivo nem capaz
da minha amplitude em ideias abandonar.
Sendo tudo o que hoje
por bem ou mal, nem imaginado ouso.

Verdade...sem definição...

...nada por mim acabará.

Verdade? Será em nada nem ninguém acreditar
e desse motivo, apenas continuar.
Verdade? Será em mim me reencontrar
e a luz...pela última vez apagar...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ruas

Com esta dor desmedida
surpreso me vejo entre pisadas de calcário
fosse eu dono
saberia aonde deitar.

Enquanto venho e passo
uma imensão em mim abala,
vivendo olhos de quem vejo
levito entre ruas intermináveis,
ruas de sonhos e "eus".
("Como gostava..."
"O que queria..."
"Que inveja tenho..."
"Eu, eu, eu")

Vivesse eu mais tempo
e de louco não escaparia.

O cheiro que hoje se ouve
morre em mãos de homens que o provam.
Sem sentido vidas morrem em rotinas de alma acabada.

Vontades tornadas pensamentos
pensamentos tornados nada.

Parte dum pequeno gruto me sinto,
lado a lado, adormecidos espirítos cruzam ruas de sonhos postos.
O tempo virá, e nele, serei eu o adormecido.
E então sim, poderei eu cruzar essas ruas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sentir

Que breve sensação
me sente agora a alma
imaginando pelas estradas
que só dela, minha pertence.

Imagino eu
como veria o mundo se não sentisse
(Será que existiria mesmo.)
Não sentisse eu o amor,
cantando de quem não sente
outro sentimento a não ser
aquele (tomado como meu)
me transforma em dor.

Morrese eu de pronto
se me fosse dado a escolher
sentir, viver?
Verdade seja,
sem coração bater nunca sentir será
mas quem da vida nunca sentiu,
nem a vida lhe pertence.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

In dubio

Leve enleio que escurece a alma
surgindo entre mares furiosos
porque não sentes agora o caminho voltar
até os meus dias de novo gloriosos?

Não faço se não esconder
e entre encontros e surpresas
que a mim desagradável sinto
tudo a que me vejo, fujo e minto.

Sem sentir hoje fico
nesta nova lucidez que depressa afasto
em sentimento que de mim transbordo
espero o amanhã e corro p`ra soltar
o grito com que acordo.

Talvez já em mim viva
esse desejo de viver reposto
mas até que dele o rumo se acerte
não destapo ou mudo o rosto.

Vivendo em mim puro rasgão
tarde pela primeira vez escuto
seja razão a certeza
um viver que discuto.
Minha única gratificação
fosse outra não saber, saberei hoje,
foi minha alma primeira a ser?

Eu

Sinto-me cada vez mais lúcido apesar da alienação a que me submeto. Nem o pessimismo(que em mim será muitas vezes patente) é me agora visto de maneira negativa. Talvez apenas mais uma característica da minha alma, que de tanto a ter, acabou por agregá-lo, formando muito da personalidade que disponho.
Sei, dum jeito que nem saber chega a ser, que todos os meus erros, todas as minhas dúvidas caminharão sempre comigo até ao fim e o meu úncio propósito é isso transmitir. Errar é tão bom como acertar, em doses certas ensina, demais destrói.
Talvez esteja finalmente pronto, para o meu sonho seguir e com ele a felicidade poder cumprir. Sei que a segurança não será minha aliada mas os riscos fizeram de mim muito do que sou, e não me sinto mal com o resultado. Sei igualmente que pouco sei, que tarde comecei, mas a preseverança que transporto fará tudo o resto, e esse resto sou eu, profundamente.

sábado, 8 de novembro de 2008

Poeta que (não) sou

Que quero eu se não mentir
mais nada faço embora nem nada chega a ser.
Mas que outro anseio poderia eu ter,
se não o anseio de algo ser?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Direitos dum tonto

Com que direito eu,
ser em que as dúvidas ladeadas de respostas soltas permanentes são,
me ouso entre a verdade na mentira,
(talvez a única que realmente existe, por isso nunca a saberemos)
"Que tipo de ignorante sou?"
me ouso eu? se quer tentar
à grande luz de recitais antigos mostrar algo novo por palavras já antes nascidas.
Que mostrarei eu? que mostraram eles?
Emoções, erros, dúvidas. virá tudo do pensar, não virá nada, será que vêm realmente algo?
e nem pensar eu me ouso fazer verdadeiramente, talvez só discursar.
Porque não acabo já aqui,
miserável e redutor como sempre fui
livrando de algo, esse algo de ser que nem algo um dia será.

Com que desígnio se não aquele que nunca atingirei,
nunca o atingirei e porventura essa será a minha única certeza.
que sonho eu nesta tormenta de esperanças, muitos lhe chamaram Vida, eu nem chamar sei de momento.
Desvaneço, desvaneço como sempre fiz
como sempre fez quem como eu
foi maior que o seu ser, mas sempre menor que o ser de outros, igual
(sem o mal de igual a outros ser,
quantos vezes fui eu mais repudiente que tu
mas nem esse direito chega a ser nosso
e nosso, talvez apenas o de perdoar)
Porque não acabo já aqui? (Nem isso realmente quero fazer, mas que quererei eu de mim, que mais posso eu fazer?)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Devaneio do ser

Acho que nunca conseguirei explicar a ninguém porque crio, ou se é verdade que crio, porqure razão o faço, ou já fiz, duma maneira que da minha maneira de ver é altamente influenciada por uma outra, que não minha, uma impossibilidade fisíca de ser dois ao mesmo tempo, mas essa impossiblidade creio que só existo mesmo fisicamente, mentalmente considero-me mais que muitos, muitos seres habitam em mim, talvez todos os seres que até hoje vi habitam realmente em mim, todos os seres que verei, todos os seres que sonhei e todos as coisas que nem seres são mas que por alguma razão me marcaram.
Mas creio, creio duma forma indubitável que a minha maneira de pensar, a minha maneira de ser, a minha maneira de ver já foi escrita e que agora, já preso dessa situação sinto que devo seguir uma outra que não a minha, em busca duma falsa originalidade, dum espaço meu que embora se possa criar nunca será realmente preenchido e apesar de nem uma marca, uma caracteristica literária, um estilo ou algo que se queria chamar realmente conheço, mas com a certeza plena de ser a única que desejo. Sinto, e sinto principalmente ao ler tudo o que leio de Fernando Pessoa, que já houve alguém que já sofrei da mesma maneira que sofro, que já houve alguém que colocou todas as minhas questões mesmo antes de eu pensar que seriam minhas, mas ao vê-las sinti-as duma forma que muitas vezes me coloco em auto-análise, vindas duma explicação metafisíca que desconheço adiavelmente a origem e porventura, todo esse adiar faz-me ainda pensar mais que tudo é ainda mais parecido, que tudo em mim já foi, que não sou eu, outro ser dum ser que se considerou duma forma que nunca seria eu capaz de fazer mas que a todo o momento sou eu, capaz de a sentir.
Como gostava agora de explicar tudo o que sinto, pois também em mim toda a sensação, toda a emoção tem de ser intelectualizada, exprimida duma forma para que esta possa de alguma maneira deixar de a ser, sendo apenas não mais que um pensamento ou algo que se possa parecer. Poderão acusar-me de pretensioso, apesar de no fundo sentir que possa haver uma certa verdade nessa crítica, aceito-a apenas pela enorme admiração que a sua obra me desperta e não por qualquer outro objectivo que não suscita outro sentimento a não ser repudio. Nunca nada é absolutamente simples, e felizmente, também nunca nada é obsolutamente certo, mas o que mais verdadeiro se possa desvanecer é que entre o meio, o meio de coisa nenhuma e duma imensão de algo que porventura ninguém conhece existe uma razão que desconheço. Essa razão sei eu muito bem que todos a desconhecem em igual comigo e em igual comigo irão todos continuar, pois sem esse desconhecimento talvez nem a vontade de viver, nem a vontade de morrer fosse hoje vontade, pois já nem a Vida existiria.
Igualmente, peço porventua desculpa, não sei se a mim, nem sei se a quem estes devaneios lê, mas peço desculpa se por alguma razão estiver ou a mim ou alguém a enganar, sei que se for a mim, será apenas mais uma a juntar ao rol de certezas descredibilizadas que fomento, agora, se for a outro alguém, se existir outro alguém que se possa ofender, então que se ofenda, não o digo por desconsideração a esse alguém mas por desconsideração a mim próprio ao já não ser capaz de apresentar alguma virtude que não seja considerada individualista. Será inteiramente erro meu?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Eles

Por entre as formas irrecusáveis da incompreensão dos sonhos
estende-se a lassos mares a simples memória
relatando na paz tudo o que nela desafia.

Este viver infernal conduzido por ferros humanizados
faz viver tudo duma forma
onde a forma viva já morreu.

Tudo é hoje se não nada
e o nada que é para muitos
é senão tudo para poucos.

Esses que doutros vivem
sem o saber morrem deles mesmos,
da morte mais dura que pode haver, eles...

(poema antigo)

The Mars Volta - The Widow

domingo, 2 de novembro de 2008

Lugar

Não há senão razões,
(que nem razões são)
de nos fazer estar aqui.

A Vida
que sei eu, que sabia eu?
Que vivemos nós para nos julgarmos,
que alcançamos nós para outros criticarmos,
Com que direito respiramos nós se nos for negado o direito,
de apenas aqui estarmos.

As horas passam
e com elas, passa o tempo.
Com o tempo nós,
não deixando mais que a memoria,
dor pensada de quem esteve para aqueles que no futuro estarão.
Mas hoje não,
hoje sou mais imortal que o tempo,
hoje ele não passa por mim,
por mim e em quem de mim ouvir
pois hoje é mais que o tempo.
È a Hora, é a razão pela qual esperávamos
é o tumulto pelo qual os nossos antepassados
nos deixaram não outra coisa, a não ser a memória.
Hoje é a Hora de nos levantarmos,
hoje é a Hora de sermos quem nunca fomos,
hoje é a Hora de sermos mais que humanos,
hoje é a Hora de ser.

Não, não aceito mais comentários derrotistas,
não aceito mais julgamentos de ocasião,
hoje sou eu em pleno
e hoje vocês são vocês em pleno.
Essa plenitude que vos peço,
Irá preencher-vos de coragem e dignidade,
será a luz da harmonia,
o calor das ideias,
será o sangue que corre em vós,
será a gente deste Mundo.
Seremos, todos, pela primeira vez
os astronautas da Terra.
E, conquistando-a,
será como no maior dos sonhos,
no mais longínquo dos horizontes,
mais brilhante que o Sol.
Será, tudo o que sonhares.

Essa plenitude que vós peço,
não foi por mim inventada
será por todos descoberta.
E por todos, outra vez vos peço.
Levantem-se...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Que tempo?

Sim, de facto é tempo.
Mas sempre o tempo foi tempo.
Sempre o será.

Não irei mais dizer: "È tempo"
Não é mais do que dizer que o tempo já passou e com ele,
esse tempo em que o tempo parecia ainda ter tempo.

Quem me dera voltar, e comigo qualquer um levar,
quem dele quisesse apenas regressar,
ao tempo em que o tiveram,
ao tempo em que o foram,
ao tempo em que podiam,
marcar o seu tempo.

Imagem

A árvore voa entre os ramos do passáro,
que não dela, não dele
se transformam num só.

Esse ser que hoje me foi deslumbrado
é não outro a não ser a razão do meu existir
ao ver a conjugação entre o que não é e o que é,
sei que o é, ao não o saber ao certo
pois de mim
só vejo o que não acredito,
só vejo o que duvido,
só vejo o que crio,
querendo assim continuar.

E apesar da imagem não passar duma visão,
foi para mim mais real que a real não vista.

sábado, 25 de outubro de 2008

Nada é sentido

Tudo o que não sei, aqui escrevo
e escrevo por não saber o que
escrever...
escrevo, sim escrevo, por não saber como escrever.
Escrevo por mais nada saber fazer.

Como gostava de ter objectivos e sonhos,
ás vezes penso que era capaz
de um dia apenas ser.

Dou graças,
a loucura é um devaneio que em mim
depressa se sume,
e com ele, toda essa
irreal desapontação que agora senti
por em mim não haver.

Ao sentir os meus sentimentos
sei que não me pertenço,
gostava de ser apenas alma
e em redor navegar.
Tão difícil que é apenas ver.

Não me posso entregar,
nunca em inteiro como gostava,
como gostava de apenas levitar, não sentir.
Pois de mim há quem depende,
pois há outros dos quais ainda dependo...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Todas as palavras que hoje escrevo,
já foram ontem ditas.
Todos os sentimentos que hoje experimento,
são do conhecimento humano há milénios.

Sou apenas mais um,
por vezes, quem me dera ser apenas um.
Gostava de ser inteiramente único,
não ter influencias,
não ter desiluções,
ver a realidade tal qual como se apresenta.

Mas os meus olhos estão mais do que treinados,
falham na percepção do real,
criando no seu lugar o meu "real".

O meu mundo ainda está por criar,
que remédio o meu
se não lançar aqui as minhas palavras.

Divagações da certeza

Eu estou perdido, não tenho a miníma noção do que quero fazer, apesar de ter várias em cima da mesa, nenhuma me agrada, ou quando me agrada, já a oportunidade passou. è como estar num grande corredor, rodeodo de portas que estão sempre a abrir e a fechar, uma a uma, mas que são abrem uma vez, se deixo perder a opurtunidade o vento feche-a com toda a força e a chave perde-se. E eu sou obrigado a andar continuamente á roda, cada vez mais depressa e só tenho uma opção, mas cada vez sinto que a "tal" já passou, não a aproveitei, não a soube ver. Dava tudo, passava pelas provas mais complicadas, chegaria aos limites da condição humana, se agora, me fosse dada novamente, a oportunidade de viver, a oportunidade de aproveitar, de ser algo que me satisfaça por inteiro e não apenas mais uma alma perdida, que ou se afundam de forma degradante ou se tornam eles próprios, donos de uma alma degradada. Gostava de poder romper com tudo, adorava conseguir ter a magnitude que me fizesse realmente diferente, sem necessidades humanas, apenas eu e a minha alma, que falta me faz agora, não saber o que fazer.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Deixem-me viver
por entre as luzes do medo.
E entre elas
soltar todos os traços
com que pinto o meu quadro.

Metade da tela está a branco
e já se acabou a tinta,
não tenho maneira de arranjar mais.

Simplesmente deixo chover
e borrar todo o quadro,
pelo menos ficará...

A outra opção
é simplesmente deixar de pintar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Poetry takes no name ahead

Poetry takes no name ahead.
The place of the future
is in between the desire of the present,
forget about it.
Just let it happen.

domingo, 19 de outubro de 2008

Mas que tristeza
ser tudo igual
ao ser tudo diferente,
tudo diferente de algo,
todos diferentes de alguém.

Nunca mais vou poder repetir
nunca mais vou poder sumir.
Como gostava eu de poder parar o tempo,
e viver sozinho ao lado de outros
como se nem só estivesse.

Passava todos os meus dias
fazendo o que agora não posso,
subia todos os edificios,
passava todas as barreiras,
quebrava todos os vidros.

Queria eu,
ser invisível.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Poema Esquecido

Meu Deus, como eu tenho medo agora
de sentir e voltar a esquecer,
ou pior, não sentir e disso me lembrar.
Tudo o que acabei de ler,
tudo o que acabei de sentir,
tudo o que de forma inesperada
e irracional entrou em mim,
não por mim,
alguém novo que se encarcerou,
eu já não sei aonde vou,
já não sei aonde a minha alma parte
mas parte certamente algures,
o barco com a vela rasgada
já vai ao fundo e de lá não sai,
e com ele, eu.

Que sei do que é ou não é.
Sei eu se algo é realmente
ou a realidade é a única mentira
que os meus olhos me contam,
será ela algo, serei eu vivo,
seremos todos imaginação?
Todos de cada um e cada um de todos.
Explicava tudo,
contradições, confusões,
ódioes, amores...
Mas serei eu ou serei eu outro,
já não eu, dono de alma
que jaz no fundo,
culpa do barco da vela rasgada.

Que seria eu sem pensar,
serei eu mesmo pensamento?
Estarei agora a sonhar?
Sonho, sonho que tudo é nada
e nada é mais que eu
nos braços largos do sonho
onde me minto e já não sei,
será o vento a passar?
Sonho ou realidade?

Será tudo o que não sei,
tudo o que recuso conhecer
ou enfrentrar os meus verdadeiros medos,
levando-me a mim a sonhá-los,
imagino-os a toda a hora
para sem sofrer morrer diariamente.
Será que tudo o que anseio
não será tudo o que odeio
e ao alcança-lo poder dizer agora,
tudo o que fiz não é se não desperdicío de vida.
eu, que ao me entregar desapareço
sou agora ainda mais pequeno
pois já nem eu sou.
O propósito da crítica acabou
e fiquei aqui agora, como sempre,
só, sinto que me devo deitar.

Quem me dera ao menos
ao rio ter coragem de me atirar,
contra as pedras remar
e o meu futuro enfrentar.
O juizo final está longe
mas o Luz já está a desparecer,
quero gritar!

Espantar em mim todos os diabos
todos aqueles que me afastam
tudo o que hoje me faz
de mim longe estar,
mas não consigo se não tentar.

Sinto-me mais livre,
as almas estão a sair, uma a uma
deste ser disforme,
sem a mais pequena deixar,
quando poderei eu voar?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Flaming Freedom

À medida que me vou integrando,
mais só me sinto.
Vejo, vejo continuamente toda a diferença
que da minha cabeça suscita
a maneira de outros viver.

Que ser estranho sou eu,
não tenho medo de outros
mas vivo apavorado em mim,
e em mim todos os medos se concentram
até gritarem a bela cantiga da despedida.

Não, não quero partir,
quero deixar aquilo que hoje não encontro.
Sinto esse desgnio como meu,
viver á luz da escuridão actual.

Não sou de risos nem gestos,
choros ou suspiros.
Vivo apenas pelo olhar profundo
que adoro ver em quem em mim encontra fundo.
Mas a palavra que gostava de ver
está ainda num sitio de dificil amplitude.

Não sei se quero ser encontrado
adoro viver livre,
poder fazer tudo o que quero
nem que me digne apenas ao mais simples que haja.
Como gostaria de poder beijar a luz sem que esta me queimasse.

domingo, 12 de outubro de 2008

Normalidade

Como de mim surge
mais espontaneamente que a necessedidade de respirar,
a luz mortal da consciência.

Penso e penso no que hoje fui,
todas as perguntas que faço
ocupamem-me sempre do meu comportamento.
Até hoje, nenhuma das respostas
foi capaz de me deixar melhor.

Queria fugir de tudo,
nunca largando nada que goste,
gostava de poder viver apenas quando quisesse
e poder desligar sempre que me convenha.

Tudo é normal,
a normalidade é usado como uma imposição,
pois hoje "tentar" ser diferente
é palavra de ordem.
Tantos rostos iguais vejo eu.

Nem eu escapo,
quase ninguém escapa.
Meu Deus, como queria escapar,
como gostava realmente ser,
em toda a minha plenitude,
usar todas as minha capacidades
e delas surgir em força,
aquilo que hoje ansio que alguem possa ser,
brilhante.

domingo, 5 de outubro de 2008

Palavras

Gostava de fazer o melhor poema de sempre
e viver na sombra o resto dos meus dias.
Toda a vontade que tenho
é que um dia possa ser lembrado,
não pelo ser que sou
mas pelo trabalho que criarei.
No final, gostavam que fossem ditas apenas duas palavras,
Nuno Rodrigues, e com elas podesse haver alguém que se levantasse
que olhasse o mundo de frente,
que fosse diferente.
Gostava que essas palavras funcionassem amanha
como as minhas funcionam hoje.

sábado, 4 de outubro de 2008

Demand

Clear your soul
with the tears of your river,
the running water
will hitch the humanity’s destiny.

Only with peace in you
it’s possible peace in earth
Won’t you understand your mind?
So that the modern refugees
don’t stop selling their “truth”.

Nowadays
ever single action
is started with an ambition end,
never let that happen again.

Run from your prison,
liberate your sins
in order to keep you forgiven.

Open your eyes
and let the revolution begin,
the world needs you
and you need a place to return.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Confissões de um des(crente)

Que vontade que tenho
de ser nada e tudo,
e ao mesmo tempo
irromper pelo nada
que a todo o minuto me completa
na esperança que essa imensidão
um dia me leve ao ponto de partida.

Queria fazer parte dum mundo
apenas ainda não descobri qual,
todas as alternativas me pareceram iguais,
tão simples, tão banais!

Hoje sonhei que era novamente eu
e ao me ver pela última vez
tive a sensação que foi igualmente a primeira,
a saudade da despedida ficará sempre em mim
até que me resolva soltar.

Não sei por quanto tempo
conseguirei viver acorrentado.
Alterno entre fases de exaltação e desalento
por momentos onde a pureza de nada sentir
me faz sentir que o meu destino á muito foi traçado.

Todos as noites
que fisicamente passei só,
vivi-as em alma juntamente com outros
dos quais nem a face conheci
mas ao contrário de quem já a vi,
a eles me deixei ver.

Todos os acontecimentos são consequência
de outros passados,
apenas agora a relembrá-los
revejo o quão grande já fui
e quão pequeno serei.
O tempo cura tudo, dizem...
mas sempre deixa marcas da sua brisa.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Propósito

O porpósito de escrever
é o reflexo da minha inquetude.
Respondo aos ciclos tal como a Natureza às Estações,
pois viver é saber se estou a deixar cair folhas
ou estar preparado para amadurecer os meus frutos.

sábado, 27 de setembro de 2008

Redenção

Não compreendo,
como não conseguem compreender
que o que sou não é igual
ao que todos os outros são
ao que outros querem que seja
ao que estaria destinado a ser,
o meu destino foi feito no passado,
cheio de memórias do futuro,
apenas nele sei que hoje devo viver.
Como gostava poder responder àquilo que sinto,
poder escrever o que anseio não se faz por palavras
e tudo o que sinto não é passível de ser descrito.
Tal como a minha alma nunca será acabada
hoje ponho um ponto final nas dúvidas,
aquilo que me faz de humano não passa de carne e osso,
o meu espírito vive num sítio que criei para mim próprio
e do qual não ouso descer.

Tudo o que vejo faz-me pensar
que não fui feito para viver,
o meu desígnio nunca foi vencer,
nunca em mim impus qualquer limitação ou objectivo
que vulgarizasse a alma que tomo como minha.
O cálice que a alimentou transborda de vazio
pois a sua missão foi entretanto cumprida.
Por agora desejaria dizer o mesmo de mim
mas nem essa paixão conheço,
não sei sequer se a chegarei a ver
mas o máximo que posso dizer,
é que por agora sinto-me perdido.