Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


domingo, 16 de novembro de 2008

Insurgam-se

A intemporalidade é um marco. Não escrevo porque não queira morrer, de facto, nem sei de certo se não o desejo. Nem conseguiria eu alguma vez ser imortal, mas a verdade é que sendo algo que possamos imaginar, algo que nos possamos fazer passar por outros, da maneira como nós próprios gostaríamos que fossemos é algo idílico de mais para rejeitar. Eu sei que todas as conclusões parecem desajustadas mas sem as tentar encontrar, ou pelo menos uma pequena parte, nunca evoluiria. È a favor disso que me insurjo, não apenas brincar com palavras, acho isso completamente irrelevante, toda a arte deve incorporar nela própria uma alma, emoções que só dela nos possam tocar em diversas maneiras. Um piano que apesar de libertar bons tons melódicos dá-nos uma sensação de repetição, completamente irrelevante e absurdo. Não tento dizer que tudo o que á partida é igual é errado, mas a consciência com que fico é que o pretensiosismo é em muitos casos gritante, impulsionado por um novo egoísmo cada vez mais patente na nossa sociedade. Como gostava de poder sair e ser quem realmente sou, sem olhos críticos em mim. Apesar de essa ser uma realidade que a mim pouco afecta, sei que não o é a muitos, responsável inclusivamente por boa parte da tacanhez, do preconceito latente na nossa sociedade em todos os níveis. Enquanto que a imagem é sobrevalorizada, o conteúdo deixou de ser levado em conta muitas vezes. A essência duma obra passou a ser o contraste, não duma forma extremista mas apenas uma alteração visível em certos detalhes que permitam dar uma assinatura. Mas temos de ser realistas, o contraste, o ser alternativo, embora que seja só por fora, nunca em termos individuais mas sim identificativos duma ideologia (consumista na maior parte das situações) é hoje um dado adquirido, quase que nos foi imposto. Tornando a verdadeira diferença uma miragem. O espírito, a alma, as ideias são sempre as mesmas e com o mesmo propósito, a atenção. È necessário uma revolução de mentalidades, algo que varra por completo todos os preconceitos, justificações subtis, que estão agarradas a ideias pré-concebidas, tradicionalistas, enraizadas em sociedades ultrapassadas e mesquinhas torna-se hoje urgente, como sempre foi. Mas enquanto que toda esta geração marcada pela comunicação poderia fazer uma alteração rápida, é ao mesmo tempo influenciada pelos mesmos males que a corrompem, impedindo uma clara divergência entre o que é certo ou errado, colocando apenas em quase tudo o que nos possa causar dificuldades, evitando a todos o custo soluções graças a movimentos imperceptíveis que aniquilam qualquer tentativa de mudança. Leio em muitos sítios: ”È tempo…”, sempre o foi, mas actualmente e pela primeira vez, corremos o risco de ele nos ser negado para sempre.

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