È engraçado ver relógios parados. Como se o tempo tivesse acabado e nós continuassemos a existir por uma rotina que já não acaba, tivessemos problemas por nos serem inseparáveis, mais naturais que a essencial operação de respirar. Aniquilavamos para preencher o tempo, como até aqui sempre fizemos mas já nem tempo era, uma interrupção sem fim, amaldiçoado até ao último que resista e veja por fim a desgraça humana, capacidade de auto-destruição, numa perfeita imagem do mundo por genuína ser.
Não haveria mais ar, mais passáros a cantar, mais água a correr, frio, calor, nada. Apenas nós, humanos e nossas coisas, deixados para trás em vigança por o tempo ousado descuirar, todos os nossos erros, guerras, intolerâncias, tudo. Acabar seria um desejo sem saber para onde. Veríamos sempre o mesmo, intocáveis, relógios, passavam sempre as mesmas horas, sem haver dia nem noite, horas e tempos, apenas nós, nossas coisas, nossa destruição e todos os relógios parados, anunciado a nossa desgraça. Haveria um tic-tac inacabável de algo que já não responde mas existe, infernizando todos os ouvidos com seu ensurcedor e repetitivo barulho. Lembrando a cada um seu mal, sua existência, aumentando sua ira, acelerando o fim anunciado.
1 comentário:
os teus textos tambem estão lindos!!!
bigada pelo comentarios ...
sempre que poca venho comentar o teu!!
beijo´s
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