Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.
Franz Kafka, "Aforismos"
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
A aldeia dos adictos
"No remoto povoado de Sarab, na província afegã de Badakhshan, toda a população é toxicodependente, desde os mais velhos aos recêm-nascidos. Raihan, a jovem mãe que se vê na foto, deixou-se capturar pelas garras do ópio quando estava grávida do seu filho, agora com um ano, fazendo dele um dependente da droga ainda antes de ter visto a luz do dia. «Quando nasceu estava sempre a chorar e agora só adormece quando a Raihan lhe sopra fumo na cara», conta o avô, Islam Berg, também ele opiómano. O caso de Sarab não é único: naquele recanto do Afeganistão há dezenas de aldeolas onde o suco da papoila é pão para a boca." in Visão, 13 a 19 Agosto de 2009
Foto: Julie Jacobson / Associeted Press
Os 5 tubinhos do lado esquerdo e os 5 tubinhos do lado direito entrelaçados, um boneco de peluche no meio que agarro devagar para não partir os tubos como gelo. Passa uma cobra perto do poço, de tantas cores a cobra, o peluche vira-se para o lado da cobra - talvez faça vento, não sei - e ela para trás. Mexe-se pouco a cobra, por vezes anda ai à volta, uma investida pelo tecto, acaba por descer e deve enrolar-se atrás de mim, novamente o vento a fazer mexer o boneco, marca círculos em redor da cadeira a uma velocidade tal que acaba por voar, - isto 1, talvez 2 segundos - volta junto à boca do poço e cada vez mais depressa, eu a julgar que sim mas cair no poço é que não cai - talvez seja pelo elefante que está sempre a tapar a saída. Mas isto pouco importa, a cobra tão pequena, sento-me na cadeira de baloiço e para trás e para frente, do movimento os tubos cada vez mais frios, se por um movimento diferente, estalam - não me importa, os tubos são de gelos, não sinto nada.
Os tubos, como é obvio, saem dos ramos e, bem junto a eles e aos tubos, um boneco de peluche - também ele 5 tubinhos a sair duma pequena bolacha cheia de fios, a bolacha dá fim aos ramos, depois dos ramos não sei o que fica, julgo que não longe do boneco. A cadeira sempre a baloiçar, há vezes que suspira e outra parece-me chorar, mas claro que tudo isto é estúpido, a madeira é como o gelo, não respira nem chora. O peluche - tão pequenino já vos disse?, tem ainda duas folhas enterradas, as folhas já gastas de certeza, nota-se por um pontinho preto bem no meio e o resto tudo branco à volta, nunca vi folhas assim - , em volta a cobra costuma fazer as folhas mexer e com tantas voltas parece um arco-íris.
A cobra trouxe para aí outras coisas. Uma rosa muito escura que deixou perto do poço, eu estava na cadeira e de inicio nem dei conta. Uma vez a cobra apanho-a com a boca e trouxe-a até mim, fui com os tubos apanhá-la, a cobra chegou-se para trás, - julgo que pelo gelo - apanhei a rosa e levei-a ao peluche, mesmo num risco abaixo das folhas, o risco ora fechava ora abria, acabou por abrir - novamente, julgo, o gelo - e a rosa lá para dentro, ficou irrequieto uns segundinhos até que ganhou de novo posição - os tubos, outra vez, uma ajudinha. Há ainda, pendurada não sei em quê, um desses lençóis das pessoas que se vestem de branco, daquelas pessoas que usam ainda mascaras e passam o tempo todo à volta de tubos, - não parecidos com os meus, seria bom gosto a mais para essa gente - tubos que enrolam uns aos outros e onde misturam muitas cores, no final metem-se uma caixa e aquilo anda tudo à volta até sair de outra cor. Na minha opinião, se é pela cor, não valia a pena, conheço uma senhora que se farta de vender tubinhos, têm-nos às cores e tudo. Com o trabalho poupada, até dava para se meteram numa cadeira a baloiçar, um peluche entre ramos para acompanhar, às vezes passa-se com os tubos numa zona de fios que fica por cima das folhas, - mas como raio saem tubos de ramos e bolachas? - uma cobra às cores para manter na memória outros tubos, uma cora que vai mudando e outra e outra.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário