by Elliot Erwitt.
Foi à outra mesa e deixou-me o casaco, o casaco que, já lho disse, feio nele, tão preto - e ele loiro -, o casaco que fá-lo parecer gordo. Os meus ombros no chão devido ao casaco, nem se apercebeu, uma amiga acenou da outra mesa, ele respondeu e fez com que eu respondesse, "uma amiga" disse ele, passou um vento e eu disse "que frio", ele estava a sorrir e confinou a sorrir para mim enquanto eu lhe falava do frio, tirou o casaco enquanto dava a volta a mesa e colocou-mo às costas, deu uma pancadinha no ombro esquerdo que o fez descer uns 2 centímetros, "já venho" disse ele, com o olhar preso nela. No caminho parou junto ao empregado e deve ter pedido 2 cafés, um que está aqui a arrefecer e outro que o empregado levava na mesma bandeja e que deixou na mesa dela, largou uma moeda e vi-o abanar as mãos ao empregado, talvez a dizer tudo bem, bebeu-o mal ele se virou e, desde aí, têm-se mantido com a cara pousada no punho esquerdo enquanto conversa com ela. O meu café talvez já tão frio quanto a água do rio, e sinto bem o frio que dele vêm aqui neste barco, de manhã ele a falar-me numa surpresa. O cabelo bem do jeito que ele gosta, a maquilhagem, horas na casa de banho enquanto o ouvia queixar-se do tempo perdido e depois a rir-se, devagar, como se pensasse que eu não ouvia, e eu de olhos no espelho a esboçar um sorriso do seu riso e do meu tempo perdido, da surpresa que a manhã me reservava, eu já com planos, a visita à zona histórica da cidade como combinado com as minhas amigas para estas férias. Igreja e museus, nos intervalos lojas como é normal, uma recordação para a família, alguns amigos, parece-me que ele anda a precisar duma camisola nova e ontem vi uma bem gira, o jardim da cidade onde agora devem estar, se desse tempo subir a montanha e ver tudo de cima. Se lhe disser, talvez me responda que a montanha fica ali para sempre e aquela nem com um terramoto dos grandes lá vai, da amiga talvez já se terá esquecido. Aposto ainda num sorriso na cara quando voltar, talvez ganhe coragem e até o café saberá melhor, pergunto-me agora se já tão frio como o rio. Por enquanto, o barco lento tal como me disse, uma tarde inteira para aproveitar a paisagem, de uma ponta à outra da ilha, que coisa estranha, uma ilha deste tamanho com um rio, dizem que nasce numa fonte tão funda que nunca ninguém a viu.
P.S: Este saiu assim, salvo pequenos retoques, não fiz grandes correcções nem tentei misturar muito o texto. A foto parecia-me tão natural e disse-me tudo - adoro aquele olhar. Escrevi tudo em pouco mais de meia-hora, desculpem-me os inúmeros erros e a superficialidade, as estas horas a atenção já não é a melhor, além da dificuldade natural que é para mim tentar entrar na cabeça duma mulher.
7 comentários:
Adorei o facto de te pores a pensar "no feminino"! Soou bastante natural.
Acho que às vezes escrever fora dos nossos olhos, da nossa cabeça, da nossa maneira de ser (ou até algo mais profundo como o sexo oposto) é algo muito complexo e, na realidade, pode causar certas dúvidas. 'É isto que eu penso que eles pensam/sentem, mas será que não sentirão isto?'. (Isto sou eu a divagar e extrapolar.)
Quanto ao teu comentário, acho que também já fui assim. Muito contrariada pela vida, achava que era injusta, etc e tal.
Mas no outro dia na praia é que me apercebi 'Espera lá, eu não a acho horrivel. Mas agora é que percebo o quão bela é.'
E achei que era preciso falar disso, dizer a toda a gente que está triste e que acha que a vida é difícil e injusta que afinal não é assim tanto. Fazê-las pensar nos pormenores. Porque na realidade, são eles que contam.
Um beijo *
não que tenha sido aquele texto em expecífico, talvez me tenha expressado mal. Foi só o facto de ter ficado sem te ler durante tanto tempo e depois ter lido aquele texto, foi essa sensação que isso me transmitiu, que me fez ver o quanto é que gosto de te ler :)
E este teu escrito foi mais uma prova disso. Apreciei o facto de teres conseguido tão bem entrar na pele de uma mulher. Nada mal ;) *
Acho que lhe estás a ganhar o jeito. O de entrar na cabeça de uma mulher, não o da escrita: esse já o tens desde que te "conheço".
O teu comentário fez-me sorrir. Temi que fosses julgar pela lamechice, o coração em demasia. E gostei de saber que me achas de tamanho coração e que não julgas. Eu acho que, um dia, sentirás assim: o coração a sangrar e tu a sorrires por isso mesmo :p
Que textos tens aqui, adorei ler-te. Este último está muito bom, se bem que acho que independentemente de sermos homens ou mulheres somos pessoas, logo a coincidencia de sentimento é muitas vezes comum.
Gostei mesmo muito, parabens pelo teu talento. Virei aqui mais vezes:)
Um beijinho:)*
A mulher é uma complexibilidade constante, e estives-te muito bem no desafio que te propuseste a ti mesmo. Adorei-o.
E para entrares na cabeça dela e reproduzires isto já foi muito bom. :)
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