I
Acordei com uma folha em cima da mesa da cabeceira.Estava cheia de riscos abstractos, muitas cores.
Algumas formas que a mão deixou formar enquanto dormia.
Agarrei a folha de raspão cortando vento
ela que me batia na perna enquanto andava (lembro-me agora
[que quase sem eu notar.)
Atirei-a para cima de outra mesa onde guardo textos para rever.Corri a janela e deixando o Sol entrar.
Olhei para baixo e alguém havia arrancado o jardim
cortando pelos pés as rosas e deixando as pétalas a cobrir o chão.
II
Desci as escadas a correr (seguro que os degraus já os conhecer [de cor) e tropecei.
Ainda doendo tirei a mão da cabeça para chegar à maçaneta e reparei que a porta tinha sido arrombada mesmo que de
[dentro nada parecesse fora de lugar.
Saí à rua tal qual acordei e apenas com o frio e o vento me dei
[conta.
Um carro acelerava ao fundo da rua e travou apenas ao guinar à [direita. (Desapareceu da vista ficando no ouvido a ecoar.)Do meu plátano as folhas amarelas que há muito ameaçavam
[caem agora às centenas.
A terra remexida seguia o caminho do vento
e dum pequeno monte (Que azar esta coisa dos obstáculos)
uma montanha se formava ao encontrar os meus pés.
Voltei para dentro trazendo terra sem dar conta.
Abri-fechei gavetas enchendo-as de hipóteses, dúvidas.
Pela porta pétalas entravam sem permissão pedir.
III
(Desde aí) entretenho-me pelo jardim: reconstruo-o, procuro
[pistas.
A porta não fecha mas (Que sorte a minha) arranjá-la não desejo
Em compensação as gavetas ganharam outro peso em casa.
1 comentário:
As gavetas são as recordações, a porta que não fecha, o desejo que alguém entre, sem obstáculos e com muita sorte.
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