Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

(texto vago; desculpem mas com preguiça de escrever)

Momentos há em que consigo ficar apenas comigo. Geralmente dou comigo sentado - a andar devo-me mandar passear; peço portanto desculpas pouco sentidas a mim - e sinto alguém de lado prestes a entrar, se não me mexer nem pensar em mais nada entra. Dentro de mim cada parte parece ganhar o seu devido espaço e vozes soltam-se, confusão. Caso me consiga manter a confusão desaparece em detrimento duma que talvez deva falar mais alto, ou tenha ganho o respeito das outras, e estas calam-se. Então começa a falar e a falar sem que eu a entenda ao certo - não deve ser falar o que faz - até ser apenas um ponto no centro do meu corpo e que se espalha pelo corpo o peito oprime-se, as palavras são impedidas de sair ou então nem surgem, o sangue ganha outras velocidades, até que através dum espasmo sou obrigado a levantar a cara e abrir a boca como em surpresa, os olhos sobem e olham em redor durante alguns segundos em que depois desperto me despeço e tento recordar tudo o que se passou. Tento chegar ao nível harmonioso em que estava e transportá-lo para a "realidade" e fazer dessa harmonia o meu estado natural, em que o menor objecto levanto pelo vento é ouvido, decoro o alfabeto das formigas, cada toque tem intensidade e as lembranças, essas finalmente chegam, quase que claras de tão fragmentadas que estão.
Gostava de apanhar todos esses momentos não para os escrever - o que não fiz, fui superficial - mas para melhor interagir com a razão que causa esta voz e que tem sido sempre a mesma, que se tem repetido imensas vezes já há muito tempo, e que nesse estado - onde pareço mais eu, como que liberto do que me envolve embora sendo ainda mais perceptível - nesse estado em que me sinto capaz de...

3 comentários:

Joana M. disse...

Capaz de?

pecado original disse...

Não te desculpes do insigth fabuloso que acabaste de ter.

Fabulosoooooooooo

maria miguel disse...

É assustador ler este texto e ter noção que sinto exactamente a mesma coisa Nuno.