Momentos há em que consigo ficar apenas comigo. Geralmente dou comigo sentado - a andar devo-me mandar passear; peço portanto desculpas pouco sentidas a mim - e sinto alguém de lado prestes a entrar, se não me mexer nem pensar em mais nada entra. Dentro de mim cada parte parece ganhar o seu devido espaço e vozes soltam-se, confusão. Caso me consiga manter a confusão desaparece em detrimento duma que talvez deva falar mais alto, ou tenha ganho o respeito das outras, e estas calam-se. Então começa a falar e a falar sem que eu a entenda ao certo - não deve ser falar o que faz - até ser apenas um ponto no centro do meu corpo e que se espalha pelo corpo o peito oprime-se, as palavras são impedidas de sair ou então nem surgem, o sangue ganha outras velocidades, até que através dum espasmo sou obrigado a levantar a cara e abrir a boca como em surpresa, os olhos sobem e olham em redor durante alguns segundos em que depois desperto me despeço e tento recordar tudo o que se passou. Tento chegar ao nível harmonioso em que estava e transportá-lo para a "realidade" e fazer dessa harmonia o meu estado natural, em que o menor objecto levanto pelo vento é ouvido, decoro o alfabeto das formigas, cada toque tem intensidade e as lembranças, essas finalmente chegam, quase que claras de tão fragmentadas que estão.
Gostava de apanhar todos esses momentos não para os escrever - o que não fiz, fui superficial - mas para melhor interagir com a razão que causa esta voz e que tem sido sempre a mesma, que se tem repetido imensas vezes já há muito tempo, e que nesse estado - onde pareço mais eu, como que liberto do que me envolve embora sendo ainda mais perceptível - nesse estado em que me sinto capaz de...
3 comentários:
Capaz de?
Não te desculpes do insigth fabuloso que acabaste de ter.
Fabulosoooooooooo
É assustador ler este texto e ter noção que sinto exactamente a mesma coisa Nuno.
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