Gostava de inspirar ar suficiente que me fizesse duma vez por todas chorar a sério, enquanto isso não passo dum pingo de quando em quando, mais pelo esforço que outra coisa, pelos empurros que tenho sentido contra a pele, influências da dilatação que o fogo causa. Julgo ter um nariz traidor, um sacana como apêndice, ou então os pulmões incapazes de maior capacidade, chegando-se mesmo para lá da pele, por vezes meto-lhe a mão em cima em auxílio, isto talvez por obra dum qualquer tubinho estragado nas imediações. Apenas de manhã, quando os sentidos estão menos despertos, o meu raciocínio traz o correio. Tenho uma carta do sistema respiratório numa letra ofegante, mas muita bem escrita, em que me pedem desculpas mas só estão a fazer o que o meu cérebro inconscientemente manda, ao que parece, sou um ingénuo que pelos dias de Dezembro manda cartas ao Pai Natal e, acima de tudo, neste momento, deseja não se fechar, custe o que custar. Pedem desculpa por não poderem retirar a carrinha dos dilúvios que me anda a empaturrar o trânsito, mas tratou-se dum acidente muito grande e é preciso ter cuidado a tirar os feridos, houve ainda um camião cheio de gás que passava por lá nesse preciso momento e acabou por explodir, deitando alguns edifícios abaixos, houve projécteis a bater nas nuvens e outros a chegar ao mar. Têm depois de limpar as ruas e ao que soubrou fazer um inventário como prova futura, estas coisas pedem organização e não podiam deixar que um sopro varresse tudo de seguida, fazendo ranhuras ao que lhe aparecesse pela frente.
Numa nota final, deixaram-me a pequena história duma caixa vazia que um dia foi até à praia, o vento era muito e a tampa arrancou-se, os grãozinhos de areia, sendentos dum espaço novo, foram logo a correr, contentes, formando fios e fios que depois se elevaram em muitos cumes pela caixa, ao que parece uma cadeia montanhosa com os picos a dizer olá aos céus. A caixa ficou por lá ainda uns tempos, mas depois viu que tinha de voltar a casa, só que agora, com todo o peso que levava, não tinha pernas para isso. Revirou-se e revirou-se e lá foi-de despejando. Está agora no caminho de volta para um banho onde, se possível, tire todo o pó e as pedrinhas que se agarram a tudo naqueles cantinhos a que mais ninguém consegue chegar. Agora não têm assim tanta vontade de ouvir as ondas de novo, mas os autores da carta garantem-me que assim que estiver bom tempo de novo, não vai resistir a voltar, e como é um pouco descuidado, pode mesmo voltar a esquecer-se dos cuidados que a tampa lhe pede, e deixar entrar os grãozitos outra vez, caso se livre do pó e das pedritas que agoram o sujam. No final da carta pedem-me desculpa pelos incómodos causados, tentarão ser o mais breves possíveis, dizem estar pura e simplesmente a tratar do bem geral. Eu, claro, acreditei neles e tenho de me aguentar com o barulho que fazem com as máquinas.
Em Post Scriptum, disseram ainda que me deixavam uma boa fotografia das areias que causaram isto tudo, eu agradeci está claro, mas disse-lhes que o cérebro pode estar descansado que os sentidos adormecidos guardaram uma imagem ainda melhor, um quadro surrealista da autoria deles próprios, enquanto sonhavam e batiam as asas pelas nuvens. O valor estéctico desse quadro será sempre bem mais que positivo, mas o que encanta é a sua profundidada que faz notar, sem explicações racionalistas.
Numa nota final, deixaram-me a pequena história duma caixa vazia que um dia foi até à praia, o vento era muito e a tampa arrancou-se, os grãozinhos de areia, sendentos dum espaço novo, foram logo a correr, contentes, formando fios e fios que depois se elevaram em muitos cumes pela caixa, ao que parece uma cadeia montanhosa com os picos a dizer olá aos céus. A caixa ficou por lá ainda uns tempos, mas depois viu que tinha de voltar a casa, só que agora, com todo o peso que levava, não tinha pernas para isso. Revirou-se e revirou-se e lá foi-de despejando. Está agora no caminho de volta para um banho onde, se possível, tire todo o pó e as pedrinhas que se agarram a tudo naqueles cantinhos a que mais ninguém consegue chegar. Agora não têm assim tanta vontade de ouvir as ondas de novo, mas os autores da carta garantem-me que assim que estiver bom tempo de novo, não vai resistir a voltar, e como é um pouco descuidado, pode mesmo voltar a esquecer-se dos cuidados que a tampa lhe pede, e deixar entrar os grãozitos outra vez, caso se livre do pó e das pedritas que agoram o sujam. No final da carta pedem-me desculpa pelos incómodos causados, tentarão ser o mais breves possíveis, dizem estar pura e simplesmente a tratar do bem geral. Eu, claro, acreditei neles e tenho de me aguentar com o barulho que fazem com as máquinas.
Em Post Scriptum, disseram ainda que me deixavam uma boa fotografia das areias que causaram isto tudo, eu agradeci está claro, mas disse-lhes que o cérebro pode estar descansado que os sentidos adormecidos guardaram uma imagem ainda melhor, um quadro surrealista da autoria deles próprios, enquanto sonhavam e batiam as asas pelas nuvens. O valor estéctico desse quadro será sempre bem mais que positivo, mas o que encanta é a sua profundidada que faz notar, sem explicações racionalistas.
1 comentário:
Eu também já lá estive, em pequena, por isso não me lembro muito bem. :)
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