Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.
Franz Kafka, "Aforismos"
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Espiral
Um teclado a oferecer resistência, os dedos voam e tiros por baixo, andorinha ao chão, um vale onde um rio diminuí, mais e maiores cascalhos à pedir ao céu uma corrente mais forte, nuvens brancas espaçadas por quilómetros, numa um sonho a aparecer de mão estendida, escadas brancas a um passo com um limite a perder de vista, noutra os olhos ao nível médio, uma árvore seca de savana, outra final que se deixou no reflexo duma poça, uma pedra em cima e ondas, uma cara que apenas o espelho conhece aos èsses, devido às curvas a miragem dum sorriso, palhaço pobre, fitas pelo chão no dia seguinte ao Carnaval, roxas, uma roda sem dentes, um novelo a resignar-se à brincadeira dum gato, no sofá o dono que com o comando na mão vai contando canais, uma antena que decerto mal sintonizada, a televisão aos riscos, chuva, olhos no chão à procura de abrigo a passo de corrida, em toda a rua ninguém, nenhum carro na berma, nenhuma janela corrida, lembrança dum livro de Kafka no que outrora foi um poster, outra poça que a esta velocidade mal me passa, um ténis por cima, atacadores ao lado de andorinhas, um atacador molha-se na poça e novas ondas, se se tentar um olho para trás nem a recordação do dito poster traz um raio de sol, um arco-íris, uma luz forte nos olhos, um gato em confronto com o novelo, palhaço rico com jeito para balões. Um dedo no botão da televisão e cama, amanhã (já hoje por uma hora e seis minutos), outro dia.
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3 comentários:
Tu escreves, mas mesmo escrever :O
eeeeh fiquei tonta na tua espiral de palavras.
As tuas associações livres são divínas. Freud iria adorar ;)
de pregar os olhos ao ecrã.
(Ja' me faz falta as nossas conversas..)
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