Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"Olhos nos olhos"

Uma bola aos saltos. A bola, saí da mão tentando não forçar, por um ligeiro abrir de dedos. Há uma sala branca, sem paredes, cheia azulejos brancos pelo chão, onde os quadrados formam figuras quando a visão foge pelo horizonte. Há a sensação de enormidade, mas também de ambiente fechado, onde o nariz procura uma brisa para cheirar e se ela calha vir duvida-se da força. A bola precisa dum tornado para acelarar a rota, no seu jogo de subidas e descidas. A gravidade não entra, nem influências de corpos estranhos como Vènus ou outros planetas; a bola tem o peso duma pena e como que flutua.
Neste plano, apenas a Lua cabe. A Lua de duração intermitente. Aos poucos, a bola vai chegando tão alto que pode ficar dias sem dar sinal, inacessível aos ventos mesmo tempo na sua forma pequenas marcas dele. Um dia a bola acaba por saltar a atmosfera, espera-se com a força e direcção suficiente para alcançar a Lua, mesmo que sem o vento a empurrar.

2 comentários:

MafaldaMacedo disse...

ai as alegorias Nuno, excelente *

pecado original disse...

Olhos nos olhos até a lua serve de bola entre os mundos desconhecidos.

Beijocas