I
Não suporto ver mais a minha mão escrever
entregando a uma caneta aquilo que em Vida não consegui desvendar.
Mas por do mesmo modo me ser já impossível respirar sem te ter em mente,
[apago as luzes e escrevo às escuras.
De modo a evitar sobreposições aponto a folha a um resto de lareia, dela vindo
resquícios de chamas. Atentando às palavras sem de seguida ser obrigado a vislumbrar-lhes a face.
Calor em brasas para ao frio não perder a luta dos meu dedos.
II
A cabeça pesa mais do que é seu hábito. Derrotado
estendo-me pelo chão e ao abrir mãos e braços pergunto
o que faço eu aqui. Suplicando lágrimas ao olhar.
O rio de tanto passar já não passa
e agora no leito que anteriormente escavou
procuro em apuros a razão pela qual deixou.
III
Ontem foi dia do sino tocar, (lembrei-me.) Tal como o é hoje e será amanhã
até a corda que o liga ao chão
deixar as ameças de lado e finalmente rasgar,
[deixando metade na mão.
Há um momento antes de ele tocar
em que no jardim me distingo e sinto o meu corpo gritar.
Cada poro se abre e segue em uníssono com o vento
[e tal como às ervas e flores, deixa de existir.
Oiço passos dados há muito, revejo olhares que à memória pertenciam.
Duma gruta um nome aparece, repetindo-se constantemente.
Como algo etéreo que se junta e mistura. Um novo ser em mim.
E ando não porque às minhas pernas chegam sinapses para andar
mas por nas paisagens de sempre encontrar um novo caminho
do qual não quero nunca me desligar. Cada esquina um palácio, cada pedra uma rua histórica.
4 comentários:
Espantoso, adorei adorei !
(eu juro que se hoje nao te apanho na net me mando da janela, Nuno.)
aquilo não é sobre mim, ams obrigada pela preocupação :)
e.. DESCULPAA! mas ontem foi jantar, cama. Estava a morrer praticamente. *
Antes da sinapse existe o sentido das coisas, dai tudo funcionar.
Não escreves porque se fazem conexções na tua cabeça, mas porque o teu desejo assim o permite.
Beijinho
Fazes da poesia uma arte maior e nem sempre o sabes.
Enviar um comentário