Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.
Franz Kafka, "Aforismos"
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Os Quadros - Matisse - "Memórias de Mrs. Dalloway"
Não tarda, o mesmo. Andam por aí, não me disseram. Entraram numa casa ali em cima, ficaram um pouco por lá que bem os ouvi, saíram não sei por onde e já volto. Vou tirando estas jarras sem o consentimento das coitadas; passa um bocado e toco-as novamente, voltam ao sítio.
O que não falta é vinho nesta casa, os desgraçados. È mal feito não serem as maçãs a distorcer as imagens, essas também eu as trinco. Eu gosto tanto de maças, não percebo porque as espalham todas. A toalha deveria ser lavada, mas a parede primeiro. Acho que é humidade.
Daqui a pouco vou lá fora, sento-me na cadeira de baloiço e procuro o som das dos troncos e seus ramos numa tarde sem brisa. Na volta apanho um ramo para a jarra. Tenho de lhes dizer que a cadeira anda a ranger há uns dias. Não há cadeira que aguente tardes tão grandes. O mais certo é virem cansados e com fome. Sobem o monte em menos dum segundo, nunca se demoram à mesa e acordam todos os dias bem cedinho. Eles dizem que se eu não me mexer muito, com o tempo acabo por me habituar.
Hei-de voltar para uma maça ou outra. Como pode sair da madeira uma coisa com este sabor? Os desenhos da toalha e da parede são iguais, não são? Tratarei da humidade. A cadeira fica bem guardada, dentro de casa pois pode chover. Arrumarei o resto da mesa e não sei que mais. Tratarei do jantar. Perdem-se muito por lá e são lentos a descer, deixo a porta aberta para os ver chegar. Enquanto esperam, beberão um pouco do seu vinho e atacarão as maças que tendem a fugir. Só espero não me sujar.
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