Ao seu lado uma cadeira com três pernas e óbvio que de cu no chão, nas suas mãos a outra perna a raspar pelo chão, para trás e para a frente, dum lado ao outro, em rectas e em círculos, por entre as suas pernas, ao longo da direita, a raspar a esquerda. Uma parede de tijolos nas costas, vermelhos apesar de diferentes com a Lua e as sombras da parede da frente. A perna de madeira sozinha entre as mãos já que os olhos apenas peito e início das pernas. Um carro passou e da cabeça um gesto, os olhos acompanharam e carro apenas nos ouvidos, dos ouvidos passou às pernas
(movimento de inclinarem-se)
das pernas ouve um ligeiro recuo e a mão esquerda que ainda segurava a perna da cadeira obrigada a largá-la e dar-se a conhecer ao chão, o chão alcatrão com restos de areia de certeza já que inúmeros pontos vermelhos depois do cumprimento, os olhos lançados na parede da frente e no segundo seguinte já esquecida tal como as costas dos tijolos
(não contar com um ligeiro adormecimento ainda sentido e pequenas dores, principalmente nas costas, e as pernas que até ao segundo terceiro metro custaram a responder)
depois do segundo ou terceiro metro
(não estou certo)
inúmeros que se seguiram e com eles luzes, outros carros, risos sem voz e corpo à sua passagem, passadeiras sem darem sinal
(dando origem a pequenas corridas dum lado ao outro embora sem grande preocupação, não tanto pela elevada hora da noite onde pouco movimento como se sabe)
postes que por vezes ao seu encontro sem se desculparem
(mal-educados os postes)
inútil a espera pelo pedido de desculpas dado que nem um olhar para trás ou qualquer sinal de afrouxamento
(palavra utilizada numa linguagem mais própria da de instrutor de condução ou qualquer outro chico-esperto que se julga habilitado a isso)
escadas onde se desconhece a altura apesar de tantas vezes subidas, na parede buracos dum lado e doutro onde se escondem de perfil pequenos rectângulos de madeira cujo objectivo é a passagem de seres humanos
(quem diz seres humanos refere-se igualmente a electrodomésticos, plásticos, mobília e afins)
e onde por uma razão desconhecida há chaves de difícil acesso que pedem colaboração ao joelho direito enquanto se faz um ligeiro barulho com a boca sem tradução possível para palavras
(qualquer coisa como huu; bem disse que não sabia)
e se deixam num qualquer lado para posterior perda de tempo e amaldiçoamento
(-já tás pouco atrasado)
na entrada óbvio que nada, ou seja, sofá, televisão, papéis
(julgo que papéis)
revistas, jornais
(ia dizer livros mas livros não pois todos eles noutra divisão onde é permitida mais concentração caso disposição para isso)
pensa-se noutras coisas e para quê o trabalho em descrevê-las
(não descrevê-las pois feias, o mau gosto desta gente)
e dado isto os pés encaminham-se para a varanda onde acabam por encontrar descanso no muro, as costas numa cadeira aproveitada da casa dum amigo
(não exactamente da casa, o amigo sabe-a toda e logo uma piscina pois claro, a cadeira daquelas que normalmente brancas e com um toque áspero devido a anos e anos ao relento por descuido, os braços cruzados sobre o peito, a mão viva por instantes até que o olhar no buraco onde a cadeira com três pernas e uma arrancada relembra à mão necessidade de descanso, os olhos sem parar no local da outra cadeira até serem vencidos pelo sono.
(a vontade que tenho de ter sido assim, não estava agora a pensar nisso, a minha imaginação vale o que vale)
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