*Post como resposta à Pecado Original (desculpa, escrito assim pode parecer um pouco esquisito mas não sabia que outro nome pôr :P), ao lembrar-me mais uma vez porque escrevo aqui, para pessoas como ela (principalmente os 5 primeiros nomes da lista aqui do lado, pelo que são, e pelo que me conseguem transmitir nos seus blogs.) Gostava de poder estar ao nível delas nessa partilha.
Deixo aqui algo que a minha imaginação me trouxe enquanto estava hoje no comboio, na viagem de regresso, e que me dificultou a pose séria (ou seja, cara de parvo com um sorriso pequeno e idiota que ia escondendo, mal, com a mão.)
Texto:
Entraram e deixaram-se ficar de pé, perto da porta de saída. Ela estava junta aos bancos de trás, ele ficou um pouco antes. Eram umas 10:30 e apenas uma mulher, a rondar os 60, viajava com eles, sentada depois dela. Trocavam alguns olhares, e não paravam de sorrir. Ele olhava, ela mantinha os olhos uns segundos, até virar e baixar de novo a cara; notando apenas um pouco do sorriso. O autocarro parou, dois rapazes entraram e sentaram-se num dos primeiros bancos, um ao lado do outro, falando alto e entretidos com uma revista de jogos de computador. Ela continuava a olha-la, ainda de cara baixa. Vira-se por um momento e o sorriso maior, ele mantêm-se igual e ela volta à mesma pose, segura apenas com a mão direita, baloiçando a cada curva. Ele, quase num salto, vai para trás dela, perto das janelas; é capaz de lhe notar um sorriso maior mas vira-se de forma a escondê-lo. Ele, com passos seguros e de modo a fazerem barulho, segue para o banco de trás, o do meio; tirou um jornal que tinha na mala e fingia que lia, com toda a cara escondida. O autocarro volta a parar, desta vez entra um senhor de muita idade, de bengala, que se senta logo no primeiro banco; ao sentar-se, desequilibrou-se e por pouco que caía, os dois da frente riram-se. Ela tentava vê-lo, mas só conseguia vislumbrar algumas frases; o riso deu lugar a um ar de espanto. Passou uns 30 segundos atrás do jornal, até que, com o indicador direito, baixou ligeiramente uma página, apercebendo-se que ela o olhava; deixou cair o indicador e, de trás do jornal, sorria ligeiramente. Fez o mesmo, mas agora ela desviou o olhar, sorrindo já um pouco. Ele soltou um "Pssst" fraco, fazendo-a virar-se, e ele esconder-se de novo. Um dos rapazes gritou agora ainda mais, dizendo bem alto que não achava possível alguém não gostar de "Counter Strike". Ele voltou a usar o indicador, e ao "Pssst", ela virou-se na sua direcção, tal como a mulher que se sentava atrás, lanço-lhe um olhar muito forte e perguntou se por acaso ele não teria recebido educação em casa. Ela ria da cena a bandeiras despregadas, ele, endireitou-se no banco como se tivesse acordado, fez uma cara séria e pediu desculpa; ao mesmo tempo que olhava para ela, a rir cada vez mais; a mulher voltou-se para a frente. Guardou o jornal e chegou-se para trás no banco, ela veio a sorrir na sua direcção. Quando passou, a mulher abanou a cabeça e juntou muito os lábios, chegando ainda a mala preta que tinha nas mãos contra o peito. O autocarro parou, saíram os rapazes, ainda a falar alto. Ela passou-lhe a mão pela cabeça ao sentar-se, ele sorria novamente.
6 comentários:
:) M. é o outro nome (se é que se pode chamar nome a isto). Não sei se gostava mais de andar contigo de bus ou se de andar na tua imaginação.
Agradeço-te mesmo mesmo pelo sentimento, pela escrita e pela oportunidade de me fazeres sorrir numa sexta-feira vazia.
Besito
Gostei tanto, tão subtil e encantador. Deu para ver toda a cena, até a mim nela, que as vezes dou por mim a olhar para alguem e a sorrir. Cada um com a sua pancada.
mesmo que aparente no meu blog o contario (nao sei), sou até como tu. interessar-me interesso-me a jeito até, mas apaixonar, é quase uma fechadura impossivel de enfiar a minha chave. o decorrer da minha vida agora apanhou-me de surpresa, ainda tem um pouco de assustador.
É defeito de fabrico, bem sei. Para mim nao há um ontem e um hoje, há um todo de acomular das duas vertantes. o que doeu antes doi de igual forma agora, tal como o que aqueçeu o frio no passado nao mata a sensação de que precisa de aqueçer no presente. seja nesta historia ou em qualquer outra. é complicado, sou um mar dele.
ah e obrigada por mais uma vez o destaque que me deste nesta pequena parte do teu mundo. sabe bem *
Foi delicioso ler-te. Sorri.
adoro descrições. gostei ;]
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