Saltas do balão e o teu lugar fica com um tom de cinza. Suspiro. Depressa as minhas mãos procuram uma pequena pá de ferro, daquelas que levam a cinza assim que encaminhadas por uma vassoura de ervas gastas, usadas sem interesse pela mão, e que deixam os tijolos a postos para uma outra vez. O suspiro evapora-se e deixa uma nuvem para respirar. Estes tijolos só agora conheceram o toque paralisante das calotes polares.
Respiro fundo e deixo a cabeça cair na almofada, olhos fechados. Borboletas vou descortinando no ar, onde sei não as poder encontrar, o indicador direito ganha vida e navega em reticências, com o braço em perpendicular ao meu corpo. Os olhos são expulsos dum carro velho e deixados numa rua estreita, a mirar a tua imagem. Volto a fechá-los, reabro-os, e a imagem mantêm-se.
À visão são ensinadas novas danças, uma borboleta em ziguezagues sempre a um milímetro do dedo, o dedo está prestes a apanhá-la e ela, quando parece já não fugir, no último segundo escapa; dos lábios solta-se um sorriso em admiração aos espíritos livres. Outra em que o dedo fica como estaca no ar, à espera dum lápis de cor que o pinte em tons iguais aos da asa, essa que agora roda sobre ele; um desenho, se possível, abstracto e cheio de vermelhos.
O dedo tenta apanhar a borboleta com as asas que espera pintar, asas essas que não vê mas sabe não serem de cinza, e nunca graças à brusquidão dessas raquetas a fazer lembrar as de badmington após um murro no meio, e que se enchem de quantidades de vento a cada pequena corrida.
Desejo haver no meu balão hélio suficiente para depois, sem o amparo da gravidade, conseguir voar. Apenas duas asas.
3 comentários:
Digo. está lindo
E eu que pensava ser impossivel conseguires ser melhor ainda . cativante , só digo isso !
Olha, sinceramente não percebo porque é que não estás interessado na minha oferta. Tratarem-te como se fosses um bicho do mato só porque tens sintomas que na gripe a também se tem, é tãão divertido.. ahah
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