Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.
Franz Kafka, "Aforismos"
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Pingos, pingos, pingos
Corres à chuva. Tentas um passo fora do abrigo dos prédios e mal ouves o "splah", os teus olhos chegam primeiro ao próximo vão de entrada onde tentarás escorrer a água com os dedos. No outro lado da rua ninguém, e aí bem que um Boeing poderia ser estacionado no espaço dum Smart que nem os gatos dariam por isso. Voltas à estrada, tens onde chegar, a cada passo as calças vão ficando mais azuis, com sorte apenas isso. À tua mala nenhuma função de guarda-chuva pode ser atríbuida, esse objecto que já não distingues onde o perdeste, e como na mala tens algo frágil, usas os braços para a segurar junto ao peito, onde objectos dão sinais de vida a cada metro percorrido. Ao agachares-te para o defenderes, os pingos rumam em peregrinação para as tuas costas, agora com ares de Meca e Muro das Lamentações. Chove mais, e a água escapa-se pelos cabelos inundando-te a face. Caso houvesse em mim poderes de S.Pedro, na tua mão haveria de estar sempre o comando duma nuvem branca.
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3 comentários:
Fazes descrições tão invejáveis, perfeito.
Nas tuas palavras a chuva nem é coisa feia.
A M. tem razão, até eu fico a gostar da chuva.
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