Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


segunda-feira, 22 de março de 2010

Chega a noite
(no asfalto o calor das rodas impregna-se. Dos vidros
poucos são os rostos que atentam ao passeio)
e as paredes do meu quarto concentram-se
um sólido que ao passar dos ponteiros menor.
As subidas ganham mais inclinação.
(Uma criança lança uma bola pela calçada acima e espera que volte atrás.)

Ao fechar os olhos - por impulso! - o vazio ouve-se mais.
Como um folha de papel arremassada ao lixo e que no movimento ganha asas.
A distância faz as vozes que na minham mente surgem
mais ímpossiveis de reencontrar.

Surge a vontade
de simplesmente errar pelas ruas...
Passar prédios - não interessam quais... - e ser cruzado por carros.
Ver rostos -mesmo sabendo que os que se deseja não encontrar.
(Sucedem-se olhares aos quais não respondo...)
Longe, deixar o que o mundo manda fazer. E num jardim
entre as folhas que nas minhas costas caem, sentar-me.

Tentar com que o fogo que dentro mim mesmo sem oxigénio alastra
- e que pelas divisões invade em fumo -
não vá somente pela resposta fugaz de abrir as janelas.
 - Como sem o sonho deixado para trás - 
O verde tende a passar, a água falha em alguns cantos, os pombos levantam voo ao passar. 
Nas paredes que ficam infiltrações deixam-se...
por buracos perigosas correntes de ar.

1 comentário:

pecado original disse...

Passei por aqui mas estou tão cansada que não consigo me concentrar.
Amanhã volto.
Bjs