Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


terça-feira, 30 de março de 2010

E olho para o ar - pois o ar agora é tudo.
O horizonte não mais uma linha
que delimita e outros locais esconde.
Mas o efeito duma caixa de lápis na mão duma criança
rabiscando dum lado para o outro.

Os raios de Sol em força nos meus olhos.
Sinto-me cegar.


O sorriso duma mulher é o sorriso duma mulher. Que mais poderia ser?
Do mesmo modo o canto dum pássaro escondido entre ramos não pode ser mais que isso.
( - Porque os distingo então? - )


Nos campos as balas deixaram-se abandonadas
[roubando o lugar às sementes.
Há minas que se descobrem a passo, e interiormente se ouvem.
À primeira vista... saí impune.


Mesmo as infiltrações que chegaram aos lençois de água
na aldeia os poços não deram sinais de veneno nos baldes que se tiravam.
[E continuam a tirar-se.
Abatimentos soterraram árvores.
Em fuga asas bateram dando outra cor aos céus
[poeira levantou-se.

Carreiros que passos foram construíndo com o tempo
ao efeito dum repetido pisar de erva que acalcou o solo
são agora simples traços em mapas antigos.


Preciso respirar.
Da confusão tirar o que me alimenta e fez feliz
[e recordar.
Sair desta terra saturada
na qual os meus pés se tornam pesados e mascaram-se no chão
[não os reconhecendo.

Já que agora sem rumo, simplesmente andar por uns tempos.
Celebrar espontaneamente a beleza.
Consiga respirar.

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