Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mal a mim regressam os olhos e imagens aparecem. O ar deixa de circular, as vozes que fazem parte de ruas e prédios são postas de parte, aparecendo ao invés gatos que se escondem em telhas, um saco em remoinhos na calçada, um autocarro que vem quase vazio ao fundo. Ando sem atentar aos passos, escapo passadeiras, noto que nas janelas ninguém. Entre esquinas surgem pequenas praças, ruas alongam-se num asfalto interminável, ligeiras inclinações.
Esgotado este mundo escondido, a simples dois passos dos quiosques que multiplicam, de esplanadas, entradas subterrâneas para parques, metros, lojas de outros mercados, portas de diversos feitios e nomes mas muito semelhantes, rostos cansados, rostos alegres, rostos sobre pedras despercebidos... e a vontade de chorar aumenta. Continuo andando, com a minha Irís em forma de barragem, segura mas prestes a transbordar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Espontaniedade

Adoro sorrir de forma espontânea, e normalmente esse sorriso acontece em mim quando vejo actos espontâneos que demonstram algum sentimento que me agrada, como por exemplo a celebração da vida de uma forma genuína, revelando um espírito original, único. Como uma vitória sobre todas as limitações do ser humano, e que se têm de demonstrar sempre, ganhando assim um significado ainda mais forte, de luta e máxima dignidade.
Só podia mesmo ser do país de Che, de Borges, do Tango...

(Aconselho a ligar o som. :P)
O barulho das ondas em baixo, na arriba, o vento em força, obrigando-me a meter um pé atrás que por pouco não me fez tropeçar numa pedra. Olhei em volta e as paredes do meu quarto haviam desaparecido, agora dobrado observava a agonia das gaivotas, rápidas em redor da colina: Nas minhas mãos não notava mais o cobertor com o qual tinho adormecido à janela. Sentia o pó que debaixo das minhas solas se ia formando, os meus passos para à frente e para trás. Julgo aperceber-me do mar escalando, à montanha retirando pedra. Pingos nas ondas.

sábado, 22 de maio de 2010

Olho-me ao espelho e é um bocado das minhas mãos que desaparece, metade do cabelo, contornos que o tacto ainda reconhece, um tom de pele cada vez mais pálido. E é um esptáculo tão horrível que me aprisiona e me obriga a assistir, como longe dele nada se deteriora-se, altera-se. De olhos fixos, pés imóveis, sentindo por dentro movimentos constantes sem resposta dada.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Contra a parede

Estava simplesmente com o telemóvel na mão, não era mais que uma irritante mensagem da Vodafone, e deixei-me ir... 2-3 segundos depois notei uma pausa e todos os olhos em mim, uma amiga a sorrir pergunta: "Inês?". E neste momento tento disfarçar o melhor que posso o espanto que sentia interiormente: "Hum?". Um colega ao meu lado: "Tu disseste Inês.", ao que eu respondi que não, que não tinha dito nada, a forçar um leve sorriso e a olhar em redor. Não me lembrava de nada, só me lembro de ter o telemóvel na mão e estar a olhar para ele, sem pensar em nada, não tenho na memória que tenha dito o nome. Eles não sabem quem é, ou melhor, não sabem o que ela representa para mim, e assim escapei entre: "Tu devias tar a escrever uma mensagem e disseste o nome.". E assim passou, não respondi e só uma hora depois é que, em tom de brincadeira, o mesmo amigo voltou a dizer o mesmo, mas também aqui sem consequência. E assim espero que continue, que ninguém se lembre desse episódio perto dela ou das amigas dela. Pois apesar de estar assim, neste estado em que além da dor física que se apodera do meu peito e por vezes o andar, também o meu inconsciente se apodera desta forma de mim e me impede de esquecer. Não quero lançar um bidão de gasolina deste tamanho para um incêndio que apesar de gigante se encontra controlado. Os olhares que dela recebo ainda são intensos, mas ao mesmo tempo inquisidores, ela cansou-se por minha culpa e seguiu o seu caminho. Prometi a mim mesmo que apesar de tudo respeitaria essa escolha, e ainda que seja muito difícil e por breves instantes quase que me deixei ir, considero que até agora tenho cumprido.

Não quero nem imaginar...

sábado, 8 de maio de 2010

Love Hurts



Tenho andado com muito ruído em volta das minhas palavras, o que não me deixa com grande vontade de escrever e assim até não o anular acho que terei pouco para publicar. Estas músicas substituem-me.

sábado, 1 de maio de 2010

No comboio tenho um café que vou segurando com a mão direita e de seguida despejando em golos, aquecendo-me a garganta. O copo fica entre mim e uma janela à minha frente, onde em instantes paisagens sucedem-se de forma contínua. De dentro o tempo só passa no relógio do telemóvel, o qual tenho escondido no bolso sem o notar apesar de notar o tempo num sítio que apesar dos passos que entram e saíem, que pelo meu pescoço ou em frente aos meus olhos se deparam, não muda. E não movo o olhar do que de lá fora aparece em fotografias instântaneas.