Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


sexta-feira, 31 de julho de 2009

De cadeira para o céu



"Parece uma sesta serena mas não é. Este homem dorme à beira da estrada, recostado numa cadeira, em Carachi, Paquistão, devido ao efeito da heroína." Fotografia: Akhtar Soomro/Reuters in Público.

Estou tão bem aqui, era capaz de ficar assim horas, recostado neste divã, a música à minha vontade, palmeiras em redor a fazer sombra, a queda de água a dois ou três passos à minha esquerda, 4 ou 5 virgens a abanarem leques na minha direcção, a comida que me apetecer, outras duas a massajarem-me os pés.
Os leques são muito grandes e, isso, têm vindo a incomodar-me um pouco. Por vezes, abanam depressa demais, o que faz com que o cabelo se suma com os grãos de areia, chego quase a despir-me - não são poucas as vezes em que fico sem gravata -, a vodka abana na mesa ao lado e chega a cair ao chão - vidros por todo o lado e a bebida que se perde, o desperdício, ao andar dum lado para outro por vezes corto-me, e então com toda esta descontracção.
Pena só notar muito depois, ou talvez só pensar nisso depois. È que, quando tudo calha a acontecer de novo, quando estou no exacto momento, limito-me a ficar quieto e deixar passar. Apenas a admirar as palmeiras e as nuvens, e a sentir o conforto do divã e o relaxamento das massagens. Aí, e apesar de não perceber, nem me importo que comecem a falar - julgo que deve ser noutra língua, uma língua que exige um tom muito diferente e onde as palavras devem ser engraçadas a julgar pelo quanto as vejo rir, e isso ainda me dá vontade mais vontade de regressar, interessa-me aquele sorriso desalmado. Além disso, já tenho umas quantas da minha feição, aquelas que mais vezes vejo sorrir, dou valor a explosões de alegria. Tenho a certeza que, se continuar a voltar, e se as continuar a encontrar - por vezes desaparecem, mas como voltam sempre com um sorriso e as palavras do custome não me preocupo - irei perceber o que dizem e comunicar com elas o resto da vida, não deve ser assim tão difícil.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Me & Hank


"People, they don´t write anymore, they blog." - È bem verdade. Num lado, há blogs muito bons - Como Uma Apóstrofe, Coração em Demasia, D`um Detalhe, Parrots and Lions, A Luz da Lua Nova, Laranjinhas há muitas, mas como eu não há nenhuma... -, muito bem escritos, sinceros, etc. E não só os que referi, embora considere os anteriores os melhores que conheço, talvez um outro nível - ao qual gostava de pertencer. Mas tenho uma lista aqui ao lado com esses e outros blogs que também me dão prazer ler, que recomendo a todos, que me fazem pensar e crescer um pouquinho mais. Isso também deve contar para alguma coisa.
Mas, há outros que enervam-me com a quantidade de treta que leio. Às vezes espanta-me a quantidade de estupidez que pode conter uma linha. Verdades óbvias, generalizações, presunções, vitimizações, emoções a quente, etc. Só me dá vontade de dizer "cresçam e vejam bem o mundo lá fora."
Sei que não sou melhor do que ninguém, mas pedir um pouco mais de reflexão quando se escreve não me parece muito. Deixo uma sugestão, pensem também na outra perspectiva, no outro lado, o distanciamento ajuda muito. São só mais um(a). Acredito que sentem o que escrevem, nem peço a ninguém que seja perfeito – eu estou muito longe –, podem apenas querer desabafar, ninguém é obrigado a saber escrever - eu não sei. Mas, se escrevem, e se é para outros lerem - por alguma razão é um blog, está na internet -, ao menos que tratem quem vos lê com respeito. Os outros também sabem pensar, também conhecem e já viveram umas coisas, e muitas dessas situações são até parecidas. Há muitos lados.
Esta é a minha opinião, que nem merece ser levada em conta. Eu próprio já errei muito por aqui, e vou errar ainda mais, e arrependo-me disso. Mas tento dar sempre o meu melhor, apesar de tudo o que me pode acontecer, de tudo o que posso pensar mais a quente no momento, mas tento o meu melhor, e escrevendo com sinceridade. E acredito que há quem também possa mais, as pessoas são inteligentes, muitas vezes é um problema de customes.
Cada um pode pensar o que quiser, é livre disso. Digo apenas isto, se mantenho o blog, é por algumas pessoas que já conheci por aqui, pelo que leio dessas pessoas, e que considero de muito bom, sincero, pensado, de humano. São textos a milhas do que faço. E ver isso motiva-me não só a continuar, como também a escrever mais e melhor - sou um pouco preguiçoso. Eu não blogo para ter comentários, sei bem que o que escrevo não interessa à maioria das pessoas - não escrevo sobre amor nem nada disso, não tenho experiência suficiente para isso, não gosto de mentir para proveito próprio, basta ir a uma livraria e ver a quantidade de romances de amor que existem, quanta treta se escreve, é fácil mentir nesse campo e criar falsas expectativas, eu não gosto de o fazer na realidade, não me parecia justo fazê-lo aqui. Mas gosto de comunicar, e se tiver algo de novo e interessante para dizer, tanto melhor.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Beijing

* Um muro em Beijing, China.

Vinha com ela pela mão e encostou-a aí. O muro, uma pequena tira branca em maior relevo, uma espécie de vermelho por cima, um pouco mais para dentro. Deixou o guiador inclinado, um vento passou e as folhas teriam voado se ainda na árvore, a sombra desta na roda da frente, a galgar um pouco e também no guiador. A roda de trás esquecida mas outra bicicleta a sair - esta de tons mais escuros, parece-me.
Passei a tarde a vê-la correr pelo muro, ao julgamento do Sol, não tive clientes e apoiei a cabeça no punho, ela a andar dum lado para outro apesar dos pedais direitos como se fossem pratos duma balança antiga. Tive pena da ventania que fazia, juro que a bicicleta mais pequena com o vento.
Aliás, logo que a vi pareceu-me abanar, ainda estive para dizer ao homem mas mal lhe vi a cara. Virou para este lado da rua, entrou umas quantas portas à esquerda, e só o vi subir as escadas. Sei que é um prédio onde há andares e andares cheios de escritórios - um amigo que mo disse, Deus me livre de lá entrar - embora não tenha o aspecto comum. Trabalho por aqui numa loja e mal se põe noite volto a casa.
Mas isto foi ontem. Não voltei a ver o homem e, hoje, mesmo antes de abrir a minha loja, lembrei-me e reparei que a bicicleta ainda ali estava. Falei com um comerciante aqui perto e ficou surpreendido, aos anos que ela já ali anda. Voltei para dentro e outra brisa, virei a cara e duas sombras na tira branca, a arvore como fundo e o ramo de outra não sei se atrás ou à frente que daqui só consigo ver a arvore. Parou um bocado e pode sair uns metros, as sombras a entrar no vermelho, a bicicleta encostada ao muro e outra a querer fugir, o outro comerciante diz que é sempre assim.
Vozes ao fundo, noutra língua de certeza ou então é da distância, se eu não conhecesse o dono como conheço - não nos cumprimenta-mos nem nada disso, mas uma vez entrou aqui dentro e bem lhe vi a cara - roubava-a e nunca mais me ponham a vista em cima, entrava muro adentro e quem me tirava de lá? A bicleta no muro e a sombra na roda da frente, as arvores em cima mas não sei qual em primeiro pois daqui não as vejo, dois homens ao fundos e, agora, já a cabeça de um no vermelho. O vento outra vez e folhas pelo o ar em forma de cone, quase que não se percebem. Entro para dentro da loja e fecho a porta, está um frio que não se pode.

(o post, até agora, onde, ao mesmo tempo, fui mais simples e labiríntico. à primeira não se vê (vá, quase) nada.)

sábado, 25 de julho de 2009

About a girl



I need an easy friend
I do, With an ear to lend
I do, Think you fit this shoe
I do, But you have a clue

Take advantage while
You hang me out to dry
But I can't see you every night. Free
...I do

I'm standing in your line
I do, Hope you have the time
I do, Pick up number two
I do, Keep a date with you

Take advantage while
You hang me out to dry
But I can't see you every night. Free
...I do

I need an easy friend
I do, With a ear to lend
I do, Think you fit this shoe
I do, But you have a clue

Take advantage while
You hang me out to dry
But I can't see you every night,
no I can't see you every night...
free

I do...

I do...

I do...

I do...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Menina da praia



Andava a correr pela praia quando ouvi a minha mãe chamar. Virei-me para os meus amigos e disse que já vinha. Segui a correr até ela, quando cheguei perguntou-me que fazia eu sempre a correr, abri os braços e nada respondi, ela começou a andar e eu segui atrás dela, a olhar os seus pés. Entrei em casa e aí estava a minha avó, como sempre, deitada na cama.
Desde que o meu pai partiu nos barcos para um sítio que chamam a Espanha, ela ficou pior, costumava passar os dias a falar com ele, eu também. Quando ele não tinha de ir pescar, levava-me às escondidas no barco para me mostrar os peixes. Eu gostava muito de deixar uma mão na água, fazia uma espécie dum corte e ia uma onda para cada lado, pequenina e rápida, sempre a correr atrás do barco. Um amigo disse-me que lá na Espanha arranjam mais peixe e outras coisas, deve ser por isso que ele foi. Quando ele foi embora, eu estava na praia com a minha mãe, ela estava com os olhados molhados. Eu ainda pensei que era um salpico do mar, mas quando chegamos a casa sentou-se a um canto e os olhos continuavam na mesma.
Perguntei a um amigo aonde ficava essa Espanha, ele disse-me que até lá chegar era preciso dar 2 vezes a volta ao mundo, beber muita água do mar porque às vezes entra no barco e pode fazer cair, e mesmo assim não é certo lá chegar, há muitos caminhos e podem-se enganar. Quando se chega, não é como aqui que há areia e podemos correr uns atrás dos outros, vê-se pedras muito grandes a esconder o céu, por mais que a água lhes bata, nunca saem dali. Têm de se agarrar muito bem a elas, pois é preciso subi-las, só com as mãos e as pernas, ele disse-me que a isso se chama escalar. Disse-me ainda que lá, a Espanha, é tão grande, que as pessoas podem acabar por se perder e não voltar mais. E era para chegar duma ponta à outra, é preciso andar a vida toda a caminhar, e mesmo assim pode não chegar. Por isso é que, quando eles querem voltar, não conseguem encontrar a mesma água.
Eu olhava para a minha avó quando a minha mãe me deu este alguidar, mandou-me ir buscar água. Como tinha medo que o partisse a correr, obrigou-me a calçar os chinelos, eu não gosto nada - o meu pai nunca mos obrigou a usar. Voltei à praia, esperei pela primeira onda, - gosto muito da água a bater nas pernas - e enchi logo. Passei pelos meus amigos, olhei para eles mas não me disseram nada, nem ouvi o que diziam, mas eles seguiam-me com o olhar. Tinha os chinelos molhados e colavam-se nos pés, não gosto nada disso e tive de os tirar, se não fizer barulho pode ser que a minha mãe não veja. Digo que já cheguei com a água e volto logo a correr para a praia. Passo outra vez junto dos meus amigos e começo a correr à volta deles, para os provocar, sei que não correm tanto como eu. Na volta trago os chinelos.


P.S: Imagem cedida por Qel, do blog Um chocolate à chuva, a quem dedico este post. Não só pela gentileza ao passar-ma, mas também pela humanidade que revela ao escolher esta foto para fundo do seu blog. O qual recomendo visitar.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O tradutor


"O tenente Cumbie da Companhia Dagger do Exército americano e um intérprete falam com um homem em Kolack, no vale de Pesh, na província afegã de Kunar. Fotografia: Tim Wimborne" in Público.

Os soldados perguntaram por alguém e indicaram este velho. Por sorte, vivia já na casa ao lado. Por esta altura costuma estar sempre em casa, o calor. Só de manhã bem cedo, ainda dando para ver a lua, e ao final do dia é que não. Fica-se pelos campos, têm alguns terrenos para amanhar, além de ser uma maneira de ocupar o tempo. Era o homem mais velho da aldeia.
-Sim, sim, houve uma explosão na semana passada. Uma aldeia a uns quilómetros daqui. Estava num campo aqui perto e fiquei com medo, não me pareceu muito longe, só me acalmei quando cheguei e vi que estava tudo bem. Se quiserem, posso mostro-vos essa aldeia. Sei que deram cabo dumas casas, agora se morreu alguém já não sei. - disse o afegão.
-Ele diz que não viu nada, têm andado tudo calmo por aqui, não vale a pena ir a lado nenhum. Só uns rumores com os amigos, metem-se no café e não fazem outra coisa. Nada seguro. - o tradutor, agora virado para o tenente. O afegão olhava com atenção para ele enquanto este falava.
-Pergunto-lhe se reparou nalguma coisa de diferente nos últimos tempos. Diga-lhe que não minta, que isso eu sei ver. Andam sempre por aí uns taliban escondidos, parecem ratos os cabrões. - ajeitou a espingarda - Se for preciso reviso isto tudo que é um instante. - respondeu o tenente.
O tradutor virou-se para o afegão e continuou o inquérito.
-Por aqui ainda não houve nada, um desconhecido, grupos a passar, nada?
-Não, não. Felizmente, não. - parou um pouco, mas fez um gesto com a boca, talvez garganta seca - Sabe, eu vivo aqui desde que nasci, já tivemos muitas guerras, já tivemos os taliban, mas também já tive os meus filhos, já enterrei os meus pais, alguns dos meus filhos também já são pais. Agora tenho esta barba e este cabelo branco, e todos os dias dou graças a Alá por isso. Por nos ter livrado um pouco disso. Acho que é de ser uma aldeia pequena, compreende. Não saímos muito daqui, eu conheço todos os habitantes desta aldeia desde que nasceram.
-E não viu ninguém? - insistiu o tradutor.
Se alguém passa por aí, e se não formos estúpidos, safamo-nos. È raro passar alguém por aqui, mas também se aprende muita coisa com a vida. Só houve isto agora, naquela aldeia. Mas Alá é grande e vai-nos proteger. Nós rezamos todos os dias por isso, decerto que nos irá ouvir. E acho que com Essa ajuda vocês vão vencer, ganham todos com isso. - o afegão baixou os olhos e mirava a espingarda do tenente, o tradutor virou-se novamente.
-Ele diz que não. Às vezes passam por aí pessoas que não conhecem, é normal, mas não têm tido problemas. Agradece muito aos soldados americanos, diz que são muito bons. Agora sentem-se mais seguros, estão todos muito agradecidos por esta visita. - o tradutor levou a mão à cara, afagava com cuidado a barba. o velho levou as mãos às costas, decerto que lhe doíam - Meu tenente, acho que não vale a pena continuar aqui.
-Agradece-lhe também, temos de ir andando. Ouvi falar duma explosão numa aldeia aqui perto, temos de ir ver. O senhor volta agora para o quartel, pode ser perigoso. - concluiu o tenente.
E depressa se meteram nos jipes, o afegão voltou para dentro, o tradutor ficou no mesmo sítio, sem se mexer. Buzinaram do jipe que era suposto levá-lo, virou-se e foi na sua direcção. Só ia ele e o condutor, mas sentou-se atrás. Afagava a barba.

Luas

Sinto-me tão bem agora, tão calmo. Engraçado.

(Só me falta escolher um curso para seguir. Poucas ideas, ou pelo menos coincidentes com as que me querem impor, e eu sem grande paciência para isso. Não é o dinheiro que me motiva.)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

End?

Não tenho a menor motivação para continuar a escrever, continuo apenas pela obrigação que me imponho. Fazer isto por mim já não chega, está tudo gasto. - sinceramente, há pouca coisa que me interesse por agora. Tenho pena, pois sinto que estou perto de alguma coisa, mas sem essa vontade é difícil manter-me concentrado e tentar melhorar. Isto em termos mais gerais.
Quanto ao blog, também não tem o menor interesse - arrependo-me de muitas coisas que já aqui pus (excepto os que falo de outra pessoas como por exemplo este, mas normalmente são os menos vistos ou interessantes para outras pessoas, mas a mim é o que me toca mais). Muitas vezes falo demais sem ser o que realmente penso, acho que não percebo nada de nada e não sou assim tão seco como quero fazer parecer - embora, e isto é verdade, houve uma fase em que me senti completamente seco (o que não quer dizer que agora sou o contrário, muito longe disso, apenas sou muito desligado e indiferente, tenho de admitir que 99,9% das raparigas não me interessam e duvido muito da existência das 0,1% - não procuro ninguém perfeito e até conheço muitas raparigas interessantes, mas não me cativam minimamente. A característica que gosto mais é a loucura (ou a diferença em relação às outras), mas quando a têm, geralmente é apenas em situações que não me interessam, ou sem serem sinceras. Tenho um feitio muito difícil de moldar, mas também não quero mudar ninguém. Há coisas que me enervam bastante na generalidade das raparigas/mulheres que conheço e isso afasta-me logo, tal como há muitas outras coisas que me fascinam, a mim parece-me normal e acho que no sexo oposto deve acontecer o mesmo. Digo adeus em menos dum segundo, não respondo a olhares, detesto sms - só consigo falar a sério com alguém quando vejo os olhos, consigo medir melhor e perceber quando mentem, é melhor assim para todos. Só me apaixonei uma vez e duvido que esse espaço volte a ser preenchido. Tenho pouca fé, eu sei. E mereço ouvir muitas críticas por isto - não sou nada de especial - mas acho que a sinceridade ainda vale alguns pontos). E como falei deste podia falar de outros assuntos.
Nervos a mais?, talvez, quando não estou bem alterno entre a vontade de partir alguma coisa e a de estar isolado. Não ando por aqui a fazer nada. Gostava de saber fazer como as donas de alguns blogs que conheço e admiro - refiro-me aos três primeiros da lista ao lado, isso sim são blogs. Não me admiro por raramente ser visto (e para quê?, penso eu).
Mais uma vez, este não passa dum mau post e tenho a sensação que falei novamente demais, e logo eu que detesto falar - não tenha nada para dizer, não penso nada de jeito, além de com isso evitar alguns erros. Talvez ande é perdido e muitas coisas passam pela minha cabeça actualmente, coisas que não sei se consigo responder, ou pelo menos da melhor forma. Guardo tudo para mim e agora abri-me sem razão nenhuma, muitas vezes tenho a sensação que fujo do mundo, que me isolo porque quero, penso que sou capaz de aguentar tudo - ou pelo menos quase, eu nunca choro, e isto inqueita-me por ser verdade. Tornei-me num cubo de gelo que anda dum lado para entre correntes, cabeça baixa (tenho o cabelo enorme e dá para esconder os olhos, ainda bem) e mãos nos bolsos. Ou talvez tenha explodido e seja ainda mais fraco do que me julgo, preciso tanto de crescer. Sinto que me falta a vida e deixar de ancorar a de outros (tenho 19 anos, importam-se?). De mim, só gostava que dissessem isto:"Humano". Gosto de pensar que estou a meio caminho. O mais engraçado é saber que isto nem me afecta assim tanto, não me importo muito comigo, tenho é de aguentar-me and everything is fine, muito dificilmente mudarei. Não sei... não sei.
(Sinto-me como uma viciado sem mortalhas, ando dum lado ao outro a perguntar.)

sábado, 18 de julho de 2009

L Word - Shane

Não me interessa o que possam dizer, a verdade é que adoro a série. Não vejo por ser uma série de lésbicas, vejo por ser uma série onde as personagens estão constantemente em confrontação, - sem filosofias para cá e para lá, o que é muito bom - é feita duma forma inteligente e não trata quem vê como parvinhos que não sabem pensar. O elenco é muito bom - têm Jennifer Beals. Além de me fazer rir imenso.
E então esta personagem, é incrível. Se fosse real, seguramente tinha de a converter. Entre muitas outras coisas, consegue aliar muito bem o bom senso à loucura - o que me impede muitas vezes de parar de rir. A minha actriz favorita depois de Eva Green.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Molly`s Lips



"She said
She'd take me anywhere
She'd take me anywhere
As long as she stays with me

She said
She'd take me anywhere
She'd take me anywhere
As long as I stayed clean

Kiss kiss
Molly's lips
Kiss kiss
Molly's lips
Kiss kiss
Molly's lips
Kiss kiss
Molly`s lips"


I hate Molly`s lips. I hate staying clean.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A história do crocodilo - Cardoso Pires

"De palavra em palavra entrou-se no capítulo da arte negra, e por negros, por África, o escultor do cobre contou a célebre história do crocodilo:
«Uma vez o bode, que é velho e sabido - veja-se a representação do fauno, veja-se a representação do sátiro... - uma vez o bode encontrou o crocodilo a gozar o sol na margem dum rio. Saltou para uns penhascos que ficavam mesmo ali e todo falinhas de sonso, todo muito pesaroso, cumprimentou-o:
-Deus te salve, mano crocodilo. Então que me dizes tu à pouca-vergonha da nova lei?
-Nova lei? Que lei?
-Ora, que lei. A que está para sair, mano crocodilo.
-Desconheço.
-Pois é verdade. Vão lançar uma lei que manda matar todos os animais de boca grande.
O crocodilo então fechou a bocarra muito depressa, e deitando uns olhos lastimosos para a fraga onde estava o bode, suspirou pelo canto dos beiços:
-Coitadinho do hipopótamo.»
Toda a gente riu com a fábula e mais riu quem a contou, batendo à boca inteira, que por sinal era grande e ossuda."

José Cardoso Pires in "O Anjo Ancorado".

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um conto de... Amor?

Era de noite. Havia um festa para a qual tinham sido convidados, mas agora já estavam no hotel. Durante o início da tarde tinha chuvido, agora já não. Apenas abafado. Estavam num dos quartos do hotel.
-És um estúpido. Depois de tudo o que passamos não és capaz de dizer mais, de dar mais?
Ela estava virada contra a janela, via o reflexo do quarto. Ele tinha a cabeça baixa e ia-se vestindo.
-Eu devia ter dado ouvidos às minhas amigas, bem me avisaram. "Olha que ele isto, olha que ele aquilo". E eu sabia-o bem, o pior é que sabia. Mas eu estava cega. Meu Deus como estava cega!
Ela via-o a vestir a camisa, deixou a cabeça inclinar-se até bater no vidro. Os cabelos prendiam-se contra a janela, embora continuasse a cair.
-As únicas pessoas que conheces são os meus amigos, é bem feita voltares para a tua vida miserável. Podes ter a certeza que lhes vou contar e nunca mais te falam, ou pensas que gostavam de ti? Se soubesses o que ouvi deles. Escondes-te no trabalho e julgas-te importante. Não sabes falar de nada interessante.
Ela deu uns passos atrás e dava pequenos murros na janela. Ele procurava os sapatos.
-Isso, vai-te embora que é o que sabes fazer. Não és capaz de enfrentar nada, nunca o fizeste. Tiveste problemas, é verdade que tiveste muitos problemas, mas faz como as pessoas normais e enfrenta-os. Nem comigo foste capaz de falar deles, e Deus sabe como tentei.
Virou-se e olhou para ele, viu-o ainda sentado.
-Achas que os outros não os têm!? Achas mesmo isso? Só podes achar! Agora vejo bem, só falavas dos meus para me enganar, para me usar. Como podem existir pessoas assim? Tu deves ser um excepção qualquer, um bicho. Pois ouve bem, os teus problemas, se é que os tens, não interessam a ninguém! Devias era ter ficado a apodrecer na terrinha de onde vêns.
Ela começou a chorar e virou-se novamente. Ele olhava o nó que dava nos sapatos, e falou.
-Acabaste? - Levou as mãos à cabeça e esfregou os cabelos. - Peço desculpa se não te dei atenção suficiente, desculpa também por ser quem sou, mas não tenho paciência para isto. O melhor é acabar.
Levantou-se e caminhava para a saída.
-Por favor, espera! - disse ela, voltando-se ao mesmo tempo.
Ele parou à frente da porta, e sem se virar respondeu:
-Desculpa se por vezes não entendo ou fingo que não entendo os sinais, talvez não te levei a sério ou sou assim, não sei. Deste muito mais do que eu, respeito-te e acho-te incrível, mas eu não dou mais que isto, mereces melhor. Tenta é ser mais paciente.
Saiu do quarto sem dizer mais. Desceu de elevador e à saída do hotel encontrou um casal amigo que vinha da festa, cumprimento-os. Contaram-lhe que um homem tinha acabado por ir ao hospital, haviam-lhe dado com uma garrafa na cabeça, não era nada de muito grave e bastava saturar, embora tivesse saído apoiado em ombros. "Bêbados", soltou já a despedir-se. "Foi uma maluca qualquer", disse a mulher, já de costas, prestes a entrar no elevador.

Assim que passou a porta, encontrou uma mulher de cabelos pretos, sentada no canteiro das flores. Ela usava um vestido cheio de cores vivas, até aos joelhos. Reparara ainda na maquilhagem, borratada nos olhos. Não parava de levar à boca a garrafa que tinha na mão, e falava sozinha, ao mesmo tempo que gesticulava com um amigo imaginário. Passou a correr, na direcção do carro, e foi aí que a ouviu.
-Hey! Look who he is, the love of my life. Come on and have a drink. As estrelas, estão incríveis esta noite, não acha? A maneira como fogem quando as tento agarrar...
Ele virou-se e não conseguiu esconder um pequeno sorriso. Quando passou, já a tinha considerado bonita, agora achava-a interessante.
-Ia só chamar o empregado, não tarda trazia aí o meu cavalo branco.
-Ah!... um cómico. Come and join me in my misery. Podia ajudar-me a contá-las, ou têm mais alguma na manga? È que, agora que reparo, parece-me um pouco descuidado. Esqueceu-se das rosas. Como é possível esquecer-se das rosas!?
-Eu pensava que estavam fora de moda e quis surpreender.
-Nunca! As rosas ficam sempre bem. Pelo menos é como vêm nos filmes. Mas sente-se, por favor. Temos de fazer o primeiro take.
Sentou-se devagar a seu lado.
-Deixe-me começar. Vamos saltar aqueles capítulos onde nos apresentamos e trocamos cigarros, e esqueça também as estrelas e essas tretas. Gosto é daquela parte em que me diz o quão boa é vida e as suas oportunidades. Se por acaso eu discordar, dar-me-ia exemplos. Eu devia continuar e entrava com toda a força e abria-me por completo, aí é quando relembrar-me-ia que os homens são assim mesmo. È assim não é?
-Não sei se entendo muito bem este filme, mas acho que podia acontecer. E, para manter a neutralidade, talvez uns pequenos "reparos" nas mulheres. Parece que, na sua maioria, são exigentes e inseguras. È o que vêm no guião.
Bebericou um pouco, e olhava para as estrelas, devagar. Ele enrolava as mãos.
-Para que foi isso das mulheres? Têm de seguir o guião. Mas, continuando, e veja se aprenda, eu acabo por soltar um sorriso e, se houver momento para um beijo, o senhor afasta a cara pois é um gentleman, seria mau tendo em conta a minha actual fragilidade. Aí ficarei um pouco triste, recrimino-me, e talvez até chore. Para me consolar, irá lembrar-me a quão fantástica sou. Ou, quem sabe, talvez não acabemos mesmo num encontro, num outro dia. Ou então podemos mesmo começar por um beijo. Não tem frio?
-Acontece mais vezes, o encontro, acho eu. Talvez numa noite de chuva, com um de nós a chegar atrasado, talvez eu, e a aparecer mesmo no momento em que o outro se preparava para ir embora.
-Quem sabe, ultimamente não tenho assistido a muitos filmes com final feliz. Generalizar é tão engraçado, não é? Tão idílico. Aquele cabr.. ah! Mas bem, prefiro não me esconder, não lhe posso dar esse gosto.
-Então porque é que está aqui?
-Não é ninguém para julgar-me! Isso nem vêm no argumento! Pelo menos não no que li, ou quer negociar já a rescição do contrato? Não me parece que possamos ser do mesmo elenco. Mas será que uma mulher não pode, pura e simplesmente, escolher um ambiente mais sossegado, saborear esta bela ocasião e, se bem lhe apetecer, e apenas para apimentar a questão, embebedar-se? A mim parece-me perfeitamente normal.
-Pode, e sou muito a favor de misturar bebidas com ambientes sossegados.
Ela bebeu mais um pouco e largou a garrafa no muro, balançava as pernas. Passaram umas amigas da ex-namorada, olharvam muito sérias para ele. Ainda se ouviu um barulho qualquer quando entravam, mas já não deu para perceber.
-Olhe, sabe o que vai fazer? Nada. E é o que faz melhor, digo-lhe já. Chegue-se apenas perto de mim. Vai ficar a noite toda ao relento enquanto adormeço, agarrada ao seu ombro. - Olhou para ele uns momentos. - De que espera? Tire o casaco, ou acha que não tenho frio?
Ele tirou o casaco e vestiu-lho. Ela fechou os olhos e deitou a cabeça no ombro.
-Agora, que já se acalmou, e se me fizer o favor, explique-me. Acha que é errado partir uma garrafa de cerveja, na cabeça de alguém, que por limitação cerebral, é incapaz de resistir aos encantos da empregada do bar?
-Bem...Aonde foi mesmo que acertou?
Ela deu umas voltas com a cabeça, até arranjar uma melhor posição.
-Aqui mesmo. - E com o dedo apontou o sítio na cabeça dele.
-Pode passar-me essa garrafa, estou com um pouco de sede.
Estava em cima do muro, não abriu os olhos, encontrou-a a apalpar.
-Obrigado - Passou a garrafa para o seu lado. - Se é errado? Bem, acho que só se falhou.
-È exactamente isso que penso! Definitivamente, não percebo as pessoas.
Ficaram a falar até ao raiar do dia, tal como estavam, sem grandes assuntos. Levantaram-se quando um empregado do hotel lhes foi perguntar o que estavam ali a fazer. Nunca mais se viram, nem os nomes um do outro chegaram a trocar. Quando se despedia, acabou por oferecer-lhe o casaco, sem saber muito bem porquê. Ela aceitou sem dizer nada, ficou apenas um bocado a olhar-lhe nos olhos. No trabalho, ele têm-se atrasado um pouco a entregar os projectos, os colegas já repararam, e começou a beber demais.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Sal


"Um homem espalha com o pé o sal de uma das três mil salinas das minas de sal de Maras, em Cuzco, nos Andes do Peru. Desde as civilizações pré-incas que estas minas são uma fonte importante de sal." in Público.

Rodo o pé e sobe um monte, levo o outro e aparo, mais um pouco e os cogumelos a crescer, acabo a volta e junto num cone que me faz perder o Sol de vista, alisa-se e tenho outro. Assobio ao Sol, gaivotas bicam nos muros, um grão aqui, um grão ali, este não, este sim, as asas que sobem e noutro muro sem pressas. O Sol pequeno quando suspensas, misturam-se umas com as outras e outra no mesmo lugar. À noite oiço-as enquanto uma cartada, não hoje que tenho montanhas até de manhã, ela já me deve esperar. Devo chegar bem cedo e durmo um pouco. Pesco com os miúdos, já lhes contei das gaivotas e riem-se, dizem que não comem sal e mandam-me água para a cara. Se vir que dá, o mais velho volta comigo, também comecei com 12. A mãe olha-me muito séria quando falamos dele e diz que deve ter os pés tortos, não dá. Por agora assobio e penso nela, uma gaivota acaba de despentear-me, olho para ela e tapa o Sol. Encurvo o pé e a água fria arrepia-me um pouco, ainda tenho uns quantos por fazer e nenhuma sentada. Devem estar umas 12 em cima de mim, alguma há-de bicar.

Minha canção favorita

Nirvana - Sliver
Dois minutos de música simples e perfeita. Não consigo parar de ouvir. O vídeo também está fantástico.


Mom and dad went to a show
They dropped me off at Grandpa Joe's
I kicked and screamed, said please, don't go

Grandma take me home [x8]

Had to eat my dinner there
Mashed potatos and stuff like that
I couldn't chew my meat too good

Grandma take me home [x8] - (Alt: Never take me home [x8])

She said, well, don't you start your crying
- (Alt: Said, why don't you stop your crying)

Go outside and ride your bike
Thats what I did, I killed my toad

Grandma take me home [x8] - (Alt: Never take me home [x8])

After dinner, I had ice cream -(I´ve screamed)
I fell asleep, and watched TV
I woke up in my mother's arms

Never take me home [x19]
I wanna be alone

terça-feira, 7 de julho de 2009

Um pé

Ultimamente tenho escrito mais sobre mim, o que me faz sentir mal. Posso ter tido muito em que pensar mas a minha consciência não aceita desculpas. Um dos objectivos deste blogue é dar voz a quem não a têm, quero que seja humano e interventivo mesmo que, com isso, não interesse a muita gente e mal seja visto. È o que sinto dever fazer e isso é mais importante. Tenho em mim uma grande costela revoltosa e, como penso que nem escrevo muito mal, é uma espécie de contributo; fraco, eu sei. È também uma bela maneira de treinar e, se respeitar sempre as regras e escrever com integridade, acho que nem estou a fazer má coisa. Mesmo eu sinto-me melhor passada a frustração de não saber por onde começar.
Por isso, já prometi a mim próprio, tenho de escrever qualquer coisa sobre este pé:

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O quê?

Não tenho a menor ideia de que curso seguir. Não tenho jeito para nada e a são quase todos tão chatos. Além de que, se me meter naqueles que gosto (nem sei se há um único que gosto mesmo, talvez só Estudos Artísticos Comparados; ou talvez até Sociologia), tenho quase a certeza que ou seria eu a paga-lo ou tinha de ouvir durante anos bocas de toda a minha família por não ter ido para algo "decente". E mesmo assim, já estou farto de ouvir frases do tipo: "Tiravas tão boas notas, Nuno. O que é que te aconteceu? Tens de ir para um curso que dê dinheiro." Eu gostava de lhes poder dizer que o dinheiro não me interessa muito, mas se o fizesse caía logo o carmo e a trindade.
Já estive um ano perdido, acho que me vou ter de aguentar noutro até me desenrascar de vez em qualquer coisa que realmente saiba fazer e me preencha. Ou então acabar a pedir esmolas também me parece muito digno, se por acaso for à luta.
(Acho que tenho mesmo enviar alguns contos, o que não queria pois ainda não sei nada, nem queria depender exclusivamente disto, há o risco de nos deixarmos seduzir pelo lado mais comercial.)

Que nervos


.

...nada de especial para fazer.
Hoje estou com ganas de abrir o portão sem fazer barulho, roubar o carro ao meu pai, meter-me no IC, e bater o meu máximo. (por agora é só 160 porque não me deixam acelerar, tenho sempre alguém ao meu lado a chatear-me) Procuro uma via cheia de carros, meto-me na outra, e vejo quantos consigo ultrapassar em menos dum minuto (vaí em 4, mas como já disse, não me deixam acelarar e de noite não aparece muita gente por estes lados.) Deixar os sinais todos para trás e sair apenas quando me apetecer. Entrar no primeiro bar/café que me apareça à frente (de preferência um todo rasca) e andar à porrada com alguém (também posso partir alguma coisa e deixar um olho e um braço em sangue). Beber um copo de Vodka e voltar ao carro sem pagar. Fazer o caminho ao contrário, da mesma forma. Antes de chegar a casa, descer uns 400 metros cheios de curvas e contra-curvas a uma média de 100 sem travar uma única vez, só mãozinhas (como faço sempre a não ser que que me apareça um mariquinhas à frente; adoro a sensação do vento e a maneira como o carro vira, parece quase parar, como se estivesse suspenso e, só depois, vira, sempre à ultima, como se fosse bater.) Chegar a casa com a esperança de ainda estarem todos a dormir e não dizer nada. Era óptimo para conseguir adormecer.

domingo, 5 de julho de 2009

Um comboio ou uma cerveja

Um comboio e o comboio não para, fecho os olhos e o vento com eles, procuro-os e talvez na próxima estação. Isto ou talvez outro sítio onde um bêbado ao meu lado, dificuldades de visão, caras de outros tempos nas actuais, distâncias; um filho que não atina e outra que têm um telemóvel como apêndice; uma mota numa curva há uma semana, nova, de 82, só um pequeno problema nos travões; desgostos de amor e as ameaças da mulher, as que ele poderia ter tido, se soubesse o que sabe hoje; o chão que, vá-se lá saber, têm um desnível qualquer que o acompanha por todo o lado.
As palavras prendem-se e o cigarro não é confidente que chegue, o copo de cerveja não é assim tão fundo mas insiste em procurar fluidez. Eu fico a ouvi-lo, julgo que uma lágrima na cara e lágrima nenhuma. Admiro o álcool e os seus poderes. Dedos com outra vida, parecem uma escada que vai apalpando aos poucos enquanto fala, trémulos, histórias que só na cabeça dele. A vida, como lhe chama.
Oiço-o pedir outra insultando o empregado enquanto gentil comigo, eu sempre calado e quase sem o olhar. Os dedos que não param. Vêm o empregado e entorna-lhe a espuma nas calças, pelo sorriso não sei. Eu a julgar que ele sobe e sobe nada, o cimento é muito pesado e as pernas, segundo me diz, são daquelas coisas que se perdem com o tempo. Levanta o punho, o outro vira costas. "O corno vai com medo", canta. Eu calado desde o início, acho que nunca havíamos falado a sério antes.
-Puto, a vida é fodida.
Estávamos sentados num muro, eu a fazer tempo. Risos á volta e algo de triste naquele rosto, a pedir copos e cigarros incontáveis. Vejo-o apontar à esplanada, estava um rapaz e uma rapariga a conversarem, riam os dois; um grupo a construir uma pirâmide de copos de plásticos, pingos pela mesa.
-Estás a ver aquela?
Roda o copo devagar, sopra para sair a espuma, entorna um bocado. Perde-se no copo e o copo enorme junto ao nariz. Julgo que se interessa pela constituição química do que bebe e um golo apenas, simples.
-Não falas muito pois não, puto? Quanta merda eu fiz na tua idade.
Dá outra volta no copo.
-Não faz mal, puto, não faz mal. Mas eu na tua idade andava por aí feito um maluco, não havia uma que me escapasse. Temos de ser duros, puto. Achas que ela gosta daquele estúpido? Tu até tens bom aspecto. Aquele gajo só sabe arrotar e levar nos cornos. Olha que não há melhor altura que esta.
O cigarro a fugir dos dedos, o isqueiro que começa a falhar e chama vêm, não vêm. Culpa o cigarro e o cigarro no chão. Acaba por pedir ajuda.
-Obrigado puto. Diz lá agora, só estamos aqui os dois. O empregado que se foda e os que estão lá dentro é só cabrões, não há um que falhe, não valem nada. Só me arrependo de não lhes ter batido mais quando era novo. O teu pai é outro, mas tu não. Ela é boa não é? Fodaxe, com essa idade o que eu já tinha feito. Assim não dá, puto, assim não dá.
Dá-me uma palmada nas costas. Eu a julgar que o copo frágil e frágil nada, cheio de força nas mãos dele, nem espalmado nem nada. A espuma já pelo meio.
-Aí se eu tivesse a tua idade, com as raparigas de agora nem sei. Tu já me viste aquela mini-saia? Parece mais um cinto. È só para provocar ou o que é que tu julgas?
De novo o copo a rodar. Passa uma brisa e fala do frio, que deveria ter trazido um casaco ou assim. Saltam dois homens do grupo da pirâmide, vão ao bar, ao passar por nós riem-se dele.
-È um mundo da treta e só vale uma coisa, tu. È fodido, mas é assim.
Saí um homem do café e oiço chamar-lhe cabrão, baixinho, só para eu ouvir. Diz-me que uma vez o deixou no hospital.
-Não parava de olhar para a minha miúda, o cabrão. È verdade que ela estava com outro, mas mesmo assim.
Acaba o copo, fica uns instantes com o cigarro, acaba por engasgar-se. Julgo que saí um suspiro e daí talvez não. Mete as mãos nos joelhos.
-Tens de tirar essas ideias da cabeça. Assim não vais a lado nenhum. Não lhes perdoes.
Levanta-se e diz que é tarde, a sua vida não é isto. Digo-lhe adeus, ele volta-se para trás e ri-se; pensava que eu era mudo. Deixo de o ver após o segundo candeeiro. Àrvores nenhumas, prédios em fila, todos alinhadinhos, carros à porta, de longe mal os distingo, nem um cão se ouve. Olho para a rapariga, ela vira a cara para mim e sorri, o outro enrola os dedos e os olhos perdidos não sei onde, vejo-lhe a boca aberta. Levanto-me e vou embora. Deverá deixar de ver-me depois do segundo candeeiro, talvez ainda a rir, o outro deverá fazer não sei o quê com as mãos. Vou para casa e tento dormir, dormir.


(Tenho a sensação que não vou ser muito bem percebido. E também sei que a culpa é principalmente minha. Mas tal como odeio um texto onde me dão tudo como se fosse incapaz de pensar ou pretendessem que eu tomasse uma ideia como a única válida de tão óbvia que é, detestava fazer o mesmo. Pois, acima de tudo, gosto de tratar quem me lê com respeito. Já que fazem esse esforço.
Gosto muito duma frase que Lobo Antunes repete constantemente: "Quem escreve o livro é o leitor". O outro só têm de preparar as coisas e deixar lá a sombra.
O pior de tudo isto é quando já se está viciado como eu. Se não tiver uma história por fazer já não consigo viver. Nem tanto pelo desespero de achar que não sou capaz, mas porque deixo de ter um objectivo, um rumo, um escape. Escrevo para combater a depressão. Quando tenho um texto dentro de mim, as frases aparecem-me naturalmente, como um impulso. Estou sempre a pensar nisso, mesmo quando não estou a escrever, a comparar com o que vejo. "E se eu tirar aquilo...; isto ficava bem ali; não, assim não dá; tenho de cortar." E depois deste trabalho todo, nada. Se soubessem com o que comecei este texto... ouvi a irmã da minha avó falar ao calhas que tinha ido comprar uma pilha para o relógio; daí cheguei a isto.)

sábado, 4 de julho de 2009

Cold War Kids - Hang me up to dry

As letras são incríveis, adoro o ritmo da guitarra, e aquela voz... Mas o melhor, é soar a verdade



Careless in our summer clothes splashing around
in the muck and the mire
Careless in our summer clothes splashing around
in the muck and the mire

fell asleep with stains
cake deep in the knees
what a pain

now hang me up to dry
you wrung me out
too too too many times
now hang me up to dry
I'm pearly like the whites
the whites of your eyes

all mixed up in the wash
hot water bleeding our colors
all mixed up in the wash
hot water bleeinding our colors

now hang me up to dry
you wrung me out
too too too many times
now hang me up to dry
I'm pearly like the white
the whites of your eyes

now hang me up to dry
you wrung me out
too too too many times
now hang me up to dry
I'm pearly like the white
the whites of your eyes

now hang me up to dry
you wrung me out
too too too many times
now hang me up to dry
I'm pearly like the white
the whites of your eyes

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Menino de Coração Grande

"Tenho uma doença que a mãe chama de Coração Grande. Ela ouviu lá dos médicos, eu não sei o que isso é, ela também não. Ela me disse que um dia ia da Guiné a para curar o meu problema. Assim já podia voltar à escola e aprender a escrever o meu nome. Escrevia «Tomé Júnior» numa letra bem bonita que nem as das raparigas (o meu irmão mais velho é que me disse que as raparigas tinham letra bonita, fazem muitas voltas e mais não sei o quê) e havia de dizer
-Sou eu
mas eu ainda só sei dizer, não sei quem está a escrever isto ou porque o faz. Ele disse-me que gostava muito de mim e eu acredito, mas não me pode fazer nada. Disse-me que não era bem isto que queria dizer e o que eu precisava mesmo era de ir a Portugal, à terra onde os meninos nascem sem o Coração Grande, ou se nascem são logo tratados. Talvez o chegasse a ver. Mas a minha mãe disse que isso é difícil, que não podiam ir todos, mas que eu não me preocupasse pois um Anjo qualquer me ia ajudar, ela ia pedir. Todos os dias fala com pessoas que não conheço e que lhe mandam rezar depois de olhar para mim. Depois disso, ela diz então uma asneira qualquer e começa a falar muito depressa de homens que parece não terem Coração Grande como eu e conseguem ir na mesma, ela diz que têm dinheiro e depois conseguem ficar por lá.
Se eu pudesse não havia aqui nem um menino e íamos todos para a rua jogar à bola. Disse isso à minha mãe e ela diz que quem pode mandar nisso é Deus, eu perguntei-lhe quem era Deus e ela disse que era que nem um Presidente, mas assim muito grande, um Presidente que podia mandar no mundo. Eu aí respondi que então gostava muito de ser Deus, ela disse que não e quase me batia. Eu perguntei-lhe então se ela não gostava que eu fosse Presidente do Mundo já que era quase o mesmo, e aí ela disse que isso já podia ser. Quando for grande como o meu pai hei-de ser forte que nem o Tobias que já têm 14 anos e manda lá na rua onde eu vivia. Por sorte dou-me bem com ele se não nem sei, tenho pena do Octávio Balofo. E assim que for grande e forte, e for o Presidente do Mundo, hei-de dizer bem alto
-È meu
e a partir daí não há nem mais um menino, nem aqui nem noutro lado, longe duma bola e da escola. Os pais e as mães vão ser todos ricos e nenhum vai trabalhar, ficam para sempre em casa para quando nós, os meninos, precisar-mos deles (gosto muito de brincar com o meu pai, ele sabe uns truques, mas raramente pode). Ela disse então que eu devia estar a dar em maluco. Eu não lhe disse mas acho que deve ser do Coração Grande, não sei bem o que isso é mas deve ser daquelas coisas que põe as pessoas que nem os doidos."

Se tiverem dúvidas, neste link podem saber ao certo que doença se trata. E sim, chama-se mesmo, mas vulgarmente, Coração Grande. O nome correcto é Cardiomiopatia dilatada.
Soube destes casos ontem, numa reportagem da SIC Notícias. È interessante ver. Marcou-me não só a alegria destas crianças e a sua ingenuidade, o débil Sistema de Sáude da Guiné-Bissau - os pais dão o que não têm para pagar tudo -, e a corrupção, mas também a apatia de muitas mães que as acompanhavam. Mas percebo, em zonas destas, onde falta tudo excepto guerra e doenças, até a humanidade torna-se débil. Não é terra para quem de Coração Grande.

Um bom conselho

Não tenho nenhuma fórmula para a felicidade, mas aviso já que se alguma mulher o quiser ser, se afasta bem de mim. Sou incapaz de me dar a alguém da forma que a maioria deseja, sei-o bem. Mesmo as menos exigentes ao nível de atenção. Eu preciso de horas e horas por dia afastado do mundo para me manter. E, nas restantes, quase que só quero companhia; falar, só gosto com algumas pessoas - embora tudo isto, na minha opinião, não quer dizer que não goste da pessoa. Enervo-me só de pensar que teria de dar exactamente o contrário, seria incapaz; contra-natura mesmo.
A não ser que haja alguma que me faça mudar, agora sou assim. Para me sentir bem, eu preciso apenas de trabalhar numa ONG em África e, comigo, levar apenas o essencial: o Incesticide dos Nirvana. Parece-me ser toda a companhia e realização que preciso.

I just need to BREED:


I don't care – X5
Care if it's old.
I don't mind - X4
Mind. I don't have a mind.
Get away - X4
Away, away from your home.
I'm afraid – X4
Afraid of a ghost!

Even if you have...
Even if you need...
I don't mean to stare.
We don't have to breed.
We can plant a house,
Or We can build a tree
I don't even care.
"We could have all three,"
She said! ... - X8

I don't care – X4
Care, care if it's old.
I don't mind X4
Mind. I don't have a mind.
Get away - X4
Away, away from your home.
I'm afraid – X4
Afraid of a ghost!

Even if you have...
Even if you need...
I don't mean to stare.
We don't have to breed.
We can plant a house,
Or We can build a tree.
I don't even care.
"We could have all three."
She Said... X8

Even if you have...
Even if you need...
I don't mean to stare.
We don't have to breed.
We can plant a house.
We can build a tree.
I don't even care.
"We could have all three."
She said X8
She Said....good.