Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


sábado, 29 de novembro de 2008

Colher

O mundo pode ser visto como uma simples colher. Para isso, bastaria imaginar uma simples gota, melhor, uma sucessão de gotas, uma atrás da outra, a cair. Vindas todas de igual sítio, um imaginativo local onde Vida se concebe. De onde iguais somos para diferentes acabar.
E as gotas vão caindo, passam todas elas por um largo, deslizando sobre ele, umas rápidas e elegantes mesmo que depois, de tanta graciosidade, algumas possam desmoronar. Outras há, pequenas ou grandes que possam estorvar. Por diferentes ângulos possuírem, por outras serem obrigadas a esperar e as levem também, para onde, agora contentes aparentem estar, na realidade não querem ir.
A todas as que chegam ao enorme lago, juntas, indivisíveis, identidades não únicas mas retocadas. Retardadas levadas a ser e pensar. No início, poucas, depois, mais vão caindo e tornando, o único e singular, em banal e colectivo, todas elas, gritando. Até que o lago enche e transborda, infelizmente levando, apenas quem o sustente, indeferença de qualquer guerra, caem como sempre, para um nada desligado da memória, da emoção, das outras gotas, que agora apenas pedem para não tombarem também. Nesse vazio excomungável de almas vãs, localizadas em pontos vagos.
Há ainda aquelas que no primeiro cair, passaram uma fase e vão logo para o segundo. Sem chegarem a ser, foram futuras imagens de quem não sorriu e chorou, de quem não fez sorrir e chorar, de quem agora, sorriou ou chorou, talvez até, os dois gestos ao mesmo tempo, ao imaginar, uma a uma, as gotas no seu triste fado, a cair.
No final, caem todas.

Mão

Sei que hoje ao adormecer, noite boa terei. Mas egoísta me sinto, pois em consciência sou dono da informação de muitos nesta escuridão passar, o marcante inferno de suas fugazes vidas ou de crassos erros, enfrentar o culminar.
Incrédulo fico, neste meu pensar, quantos pedidos de socorro, quantas vozes ficaram pelo ar. Quem sabe, quantos foram os casos, em que uma simples mão chegaria para uma vida poupar, um coração que cedo demais se apaga, um objecto segundo muitos, que outrora de alegria, traduz nestas horas pura inquietação. E eu, continuo, como sempre fiz, dormir. Continuarei, por infeliz incapacidade de minhas acções, (ai, fosse a mim o poder ás Mãos parar). Mas durmo, não sem antes, mostrar que todos a dormir continuam, que para muitos, mais ninguém quer e importa, enquanto longe, quem sabe, apenas uma mão bastaria.

Antagónico

O que escondo é como se da minha vida não se juntam-se mais do que duas, a vida que supostamente, realmente vivo, e uma outra, essa em que imagino viver.
Da primeira, quem há anos me reconhece, não é capaz de ignorar a solidão que não sentindo, demonstro. A leveidade com que o Futuro encaro e a minha incapacidade de verdadeiramente algo fazer, impossibilita-me de pontenciar tudo o que quero ser, ou tudo o que outros querem que eu seja. Descortino sempre razões, que, por pouco plausíveis serem, afastam-me, como se houvesse um íman que primeiro atrai, depois repele.
Apenas na minha companhia de estar sozinho, sinto-me como realmente outros me vêem. Apesar de não saber o que observam, sinto-me nos meus olhos como olhos de outros transmitem esta minha sensação de pena e desconforto, algo que se fez e não cumpriu. Feito de algo que nunca em voga esteve, por infelicidade minha, hoje muito menos apesar da doença se ter alastrado, apenas sonhos e ilusões num mundo para quem de mim diferente é.
Irremediável vagabundo de ideias por realizar, feito de almas não minhas, mas que seus rostos, seus olhares, seus gestos, seus ditos me influenciam, para o bom e para o mau, para o que sou e não sou, para o que penso e deixei de pensar. Não fossem esses, emoção nenhuma seria capaz deixar.
Sei que incapaz sou, de em total me integrar, mesmo amor ou outra nobre causa, nunca esta minha prisioneira liberdade de errante que sou iria abandonar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Inútil

"Todos os caminhos vão dar a Roma"
Pena nenhum dar às respostas que preciso, se não esses, outros houvesse. Das respostas nunca conheci existência, mas se as há devem estar noutro plano e, quem delas conhece a solução para tudo o que sofremos, têm como condenação na alma uma insanidade interminável por tanto das nossas dúvidas rir, que nele não passam de certezas puras.
Sempre me qustionei sobre tudo, sempre o faço, creio que sempre o farei, sem esperanças de obter respostas. A verdade é que faço sempre a mesma coisa, todos as horas, todas os dias. Aliás, para mim nem há dias, apenas uma sucessão de momentos repetidos. Nunca fiz nada que desse um filme ou um romance, nem tenho qualidade para os criar. Qualidade para nada. Não sou atleta, não sei pintar, não sei fingir, não sei observar. Escrever, escrever também não. Esta é apenas a forma como fui levado a pensar. Apenas tento reflectir o que sou mas erro constantemente.
Engraçado seria, alguém, ao ver um verdadeiro génio a criar, desistisse por completo do que faz. Por exemplo, se me deparasse com Eça de Quirós e a sua incrível, marivilhosa, descritiva facilidade de escrever genialmente, acho que parava no instante seguinte. Sentiria-me tão inútil, tão vulgar que apenas contaminava um mundo diferente do nosso com defeitos mundanos. Há coisas que estão destinadas a poucos, mas feitas para um público geral.
O meu pecado seria não concardar com isso, e a cada palavra que escrevesse (e escrevo) esquarteje por completo uma área tão bela e exigente, uma língua tão rica e da qual me sinto ignorante. Mas, por erro meu e sofridão vossa, concordasse em parar, nem este texto teria escrito e apesar de nada alterar com isso, eu perderia muito. Mais nada, mais nada como sempre foi e será, mais nada mudaria.
Nada, excepto eu. Seria diferente. Apesar da nobreza de tal atitude, desistir nunca seria solução, merecia por certo ser discutida (pena não o conseguir). Apesar de também esse jesto ser artística, talvez mais que qualquer que já tivesse feito, mas nunca, nunca tão grande como a menor arte que Eça possa ter feito. (como fosse possível Eça ser capaz de algo menor)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Outra coisa é medo meu,
não por de mim sentido ser
mas por de desconhecida razão,
desconhecido em forma abater.

Paredes insurjo em fúria,
fúria de preso sentir.
Em nada mais libertava fogo
fosse possível sonho comandar.

Adormeço o jazente sono
de em mim não deslumbrar
outra ideia que não me pertencer,
encostado em revalações e conquistas por cumprir.

Desapareço sem despedir,
volto sem nunca ter alienado.
Fui eu e nem se soube.

Vários sentidos feito fui,
acertar? responde-me tu.

sábado, 22 de novembro de 2008

...de tanto não saber

Novamente sobre vagas continuo. A incontinuidade demonstrada por um rosto pálido reflectido em sonho nenhum é fazer não mais que sua sombra, não mais que seu cheiro e passado, levantar sem dúvidas tudo o que desconheço em ânsia de florir conhecimentos que não meus, floresçam num jardim que quero cada vez mais largo e rompante. Apesar de em mim, pouco seja o fundo deixado, evito ao de outros descuidar. Mas imaginação minha não compadece, dando não mais do que sou, faço outros pensar mais perto do medo deles viver. Mentiria se verdade dissesse, não conhecendo, nem verdade se chama (…será ignorância?)
Hoje fiz menos que deveria, daí? Não foi o mesmo que todos. Escassamente fazemos o que deveríamos, em compensação, mais do que o desejável em cobardia, mistura contra balançada de bem e mal, certo e errado, estúpido e feliz, eu e tu. Sempre fugindo dum bem irremediável em alcanço dum mal besteiro e momentâneo, retardador e suicida.
Não seríamos humanos não o ousado feito. Tantos os erros que nos marcam que acabam por nem erros considerados ser, oh vã glória de viver, porque não tornas o mal que é de hoje na vontade maligna de outrora morrer.
Quem em consideração não se reveja fuja, ainda é tempo. O medo de se rever é igual em tantos como eu, mas furibundo não se encerra em mim, pensamentos presos como restos de cabelo e alma no vèu. Certo estou da futilidade que é acabado.
Ocupado em conhecimento do meu ser, poderia explorar o que de mim igual é feito (talvez parecido) medo, mal, suposta bondade de ar rarefeito (que de raro em mim há em achar), porventura crença e descrença em que algo seja ou não real, mas ideal seja a ideia de Nele alguém socorrer, não meu caso que de há muito em incógnitas suspendo. Algo mais mundano, só amor e ódio.
Mas igual a tantos me vejo, sem saber se algo concreto realmente existe. Deslumbro algo que mais sentido faria, apenas por idealizado ser. Quantos sonhos ficaram por dormir em desproveito de quem os poderia sentir.
Ao tempo destes segundos passados, pouco mais me cego, não sendo a ideia de duvidar encerro. Futuro? Fazeria sentido alcançar não fosse o medo de nele me afundar. Por agora, certos sentimentos denunciar ouso, sem conhecimento nem vivência que me façam perito, igual seria aceitável.
Que poderei eu dizer, se não apenas imitando: Amor é …sol…mar…céu…vida…natureza, quem sabe se não a morte da qual fujo. Talvez seja não mais que tudo, não sei explicar mas sua existência conheço.

Não sendo mais que emoção, mexe a razão.
Serenidade te peço
até em mim achar justificação.

Hoje sei que de longe olho,
e entre cruzados por certo,
qu`é isto se não solidão?
Mais certo, em seco cair.
Peço desculpa, teu amor não serei capaz cumprir.

Pior,
só mesmo quando em ti despertas
este meu sentimento de alienamento,
levando à imaginação
este devanaio jeito meu ser.

De mim não voltarei
enquanto coração arrastado em brasas
não se extinga na recordação.

Vis juízos sempre fiz
(erros de incompreensão)
mas do que te peço agora
não seja eu saber,
porque da esperança de não o ser
surgiu em mim tal apreciação.

Sei que culpado fui,
caso se da culpa se faz o sonho
seja feita sua condenação,
condenado fui por toda esta admiração.

Mais nada digo, demais foi exposto sem de mim haver reflexo ou comoção. Não deixando enganar, sei de minha mão a presença de palavras deixadas em vão.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"Em resposta a um belo desafio"

Andam a circular uns questionários originais e não era capaz de deixar Bob Marley fora disto.
1) És homem ou mulher? "Bad Boys"
2) Descreve-te: "Soul Rebel"
3) O que as pessoas acham de ti? "Slave Driver"
4) Como descreves o teu último relacionamento? "No women no cry"
5) Descreve o estado actual da tua relação: "Rumors"
6) Onde querias estar agora? "Smile Jamaica"
7) O que pensas a respeito do amor? "Sun is shining"
8) Como é a tua vida? "Waitting in Vain"
9) O que pedirias se pudesses ter só um desejo? "No more trouble"
10) Escreve uma frase sábia: "Could you be loved?"

P.S: E tudo isto porque a minha amiga Rita gosta de me pôr a trabalhar...

Tanto de nada

São tantos os momentos em que questiono o que irei escrever (como agora), não tendo se quer imaginação para o fazer (quase sempre). Mas, por alguma razão o faço, razão essa que desconheço e me atormenta continuamente. "Porque não posso simplesmente apanhar uma bebedeira como todos? Raio, que mania". Tinha eu de ser diferente!
Acabo sempre por escrever e gosto, não do que escrevo, do acto. Transformar pequenas letras numa pequena aglutinação, mais tarde formarei uma pequena frase, e reunidas formarão um texto, grande? pequeno? (Bom ou mau? já é com o leitor…)
Aprendo sempre algo que não meu, faz parte de mim. Talvez uma simples ideia, que possa até já ter sido pensada, mas sempre com novo toque, tal como Goethe disse: "Todos os pensamentos inteligentes já foram pensados; é preciso apenas tentar repensá-los."
Não sei se acredito realmente nisso, há sempre mudanças, temos vivido grandes mudanças, talvez não tanto em termos de sentimentos (esses fazem parte da Natureza há seculos e pouco mudaram, amor, amizade, traição, desilusão, perdão, reconforto, inveja, mesquinhez. Enfim, tudo o que de humano existe) mas ocorreram grandes revoluções sociais, e impulsianados por uma tecnologia fria descaracterizamo-nos continuamente.
Hoje em dia tudo é feita para evitar o esforço, tanto físico como mental. Todos sabem somar 1+1, mas quanto será √1 sem usar máquina? (apesar de reconhecer que esse banal conhecimento não sirva para nada, ou eventualmente, para muito pouco)
O papel dum escritor não é só compor frases, criar personagens e histórias, também mostrar o que muitos não vêem, apontar o que muitos não sabem. Se esse papel desaparecer, desaparece muito mais que um simples livro, desaparece uma consciência.

P.S: já agora... √1 é 1 (uma simples curiosidade matemática)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Reflexo

Não, não tenho medo de morrer. Tenho medo sim, medo de viver. Coisas boas, coisas que não percebo, outras, simplesmente más. A morte...apenas um estado, não sei se haverá vida, se seremos apenas um corpo, um espírito. Ninguém o pode assegurar, e, sinceramente, pouco me interessa. O que serei depois?... nem agora alcanço tal vislumbre.
O meu maior medo é das coisas boas, tomo-as perfeitas. Isso sempre foi irreal e suicida. A perfeição só existe em tentar alcança-la, e mesmo aí, duvido a utilidade. As más, conheço-as, não desiludem.
O pior mesmo é a consciência, embora seja inútil, martririzo-me por todos os meus erros. Agradeço que só me veja, em média, uma vez ao espelho em ciclos luz/escuridão. Entre adormecidos olhos não me impaciento com o seu significado, do que realmente vejo e é visto, se será por mim... ou, por mim. Não interessa. Se será realidade? imaginação? não invejo essa verdade aparentemente descoberta.
Única que conheço, mesmo desconfiando: A imaginação mais real que a felicidade humana. Duvidam? então também não são felizes.
(não disse tristes... mas isso, talvez outra história)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Vinco

Hoje, tal como muitos dias, segui o caminho normal da minha consciência, a biblioteca municipal. Igual a tantas outras, sendo o único relevo...os livros. (Incrível como o espaço físico é muitas vezes sobrevalorizado em detrimento da verdadeira função). Têm, como todas as outras, uma biblioteca, onde estão arrumados cuidadosamente muita da sabedoria esquecida. Há um espaço, onde sentados se lêem inúmeros jornais e revistas, diários, semanais, mensais, anuais…Esta tem o requinte de possuir outra biblioteca, dedicada aos mais jovens. Um excelente auditório e dois espaços para Internet. Enfim, um verdadeiro luxo desperdiçado na ignorância de quem do conhecimento foge.
Sentei-me, pensativo no livro que tinha em mãos, aconselhado por duas amigas,"A Ponte para a Eternidade" de Richard Bach, estou longe de o acabar mas para quem adora metáforas têm aqui uma pérola.
Ao mesmo tempo que me absorvia na leitura, também em mim concentravam-se ideias para outras coisas, fruto da imaginação da história. Ideias de que também eu poderia ser capaz de escrever um dia algo que fizesse alguém como eu sentar-se. Há poucas coisas mais poderosas. Ideias de que não seria capaz, fruto duma descrença em quem exige muito de si próprio.
Infelizmente tive de ir, e, como o livro não me pertence mas não podia deixar um marcador, faço algo que não se deve fazer em algo que não é nosso, um vinco numa página. Espanto meu surge quando reparo que este já tinha sido marcado na mesma folha, mas na página contrária. Ao tentar desdobrá-lo ouve algo que me impediu, o passar dos anos dessa página, uma certa dificuldade colada. Apesar de acessível a todos, porventura, ninguém se tinha apercebido antes dele, a não ser eu e o antigo marcador. Nunca antes, alguém tinha marcado a mesma página ou no meu caso, não tinha sido a página a marcar o leitor.
E então pensei que ao demorar a virar a página, já algo em mim seria diferente, já a minha percepção seria diferente, tal como foi a do antigo leitor. Apenas ele (ou ela), leu essa página á sua maneira, numa maneira só dela, inatingível a todos os outros, possível de alguma compreensão, mas a sensibilidade que foi lida, nunca mais. Pois há sempre algo em nós que faz com que a visão não seja global, genuidade.
O mundo é feito de sucessões, não fosse a biblioteca, não fosse as minhas amigas, não fosse um autor, não fosse um livro, não fosse um vinco e talvez nunca teria pensado nisso. Não fosse eu, a sentar-me aquela hora, naquele local e talvez também não me tinha apercebido, e não fosse isso, talvez a sua leitura não me parecesse agora indispensável. Apenas a palavra é a mesma, mas sempre lida de maneira diferente, sentida de maneira diferente. Devo tudo á primeira pessoa que gemeu as primeiras onomatopeias.

domingo, 16 de novembro de 2008

Insurgam-se

A intemporalidade é um marco. Não escrevo porque não queira morrer, de facto, nem sei de certo se não o desejo. Nem conseguiria eu alguma vez ser imortal, mas a verdade é que sendo algo que possamos imaginar, algo que nos possamos fazer passar por outros, da maneira como nós próprios gostaríamos que fossemos é algo idílico de mais para rejeitar. Eu sei que todas as conclusões parecem desajustadas mas sem as tentar encontrar, ou pelo menos uma pequena parte, nunca evoluiria. È a favor disso que me insurjo, não apenas brincar com palavras, acho isso completamente irrelevante, toda a arte deve incorporar nela própria uma alma, emoções que só dela nos possam tocar em diversas maneiras. Um piano que apesar de libertar bons tons melódicos dá-nos uma sensação de repetição, completamente irrelevante e absurdo. Não tento dizer que tudo o que á partida é igual é errado, mas a consciência com que fico é que o pretensiosismo é em muitos casos gritante, impulsionado por um novo egoísmo cada vez mais patente na nossa sociedade. Como gostava de poder sair e ser quem realmente sou, sem olhos críticos em mim. Apesar de essa ser uma realidade que a mim pouco afecta, sei que não o é a muitos, responsável inclusivamente por boa parte da tacanhez, do preconceito latente na nossa sociedade em todos os níveis. Enquanto que a imagem é sobrevalorizada, o conteúdo deixou de ser levado em conta muitas vezes. A essência duma obra passou a ser o contraste, não duma forma extremista mas apenas uma alteração visível em certos detalhes que permitam dar uma assinatura. Mas temos de ser realistas, o contraste, o ser alternativo, embora que seja só por fora, nunca em termos individuais mas sim identificativos duma ideologia (consumista na maior parte das situações) é hoje um dado adquirido, quase que nos foi imposto. Tornando a verdadeira diferença uma miragem. O espírito, a alma, as ideias são sempre as mesmas e com o mesmo propósito, a atenção. È necessário uma revolução de mentalidades, algo que varra por completo todos os preconceitos, justificações subtis, que estão agarradas a ideias pré-concebidas, tradicionalistas, enraizadas em sociedades ultrapassadas e mesquinhas torna-se hoje urgente, como sempre foi. Mas enquanto que toda esta geração marcada pela comunicação poderia fazer uma alteração rápida, é ao mesmo tempo influenciada pelos mesmos males que a corrompem, impedindo uma clara divergência entre o que é certo ou errado, colocando apenas em quase tudo o que nos possa causar dificuldades, evitando a todos o custo soluções graças a movimentos imperceptíveis que aniquilam qualquer tentativa de mudança. Leio em muitos sítios: ”È tempo…”, sempre o foi, mas actualmente e pela primeira vez, corremos o risco de ele nos ser negado para sempre.

sábado, 15 de novembro de 2008

Velha Dor

Por vezes sinto-me como se o mundo fosse explodir
e á minha frente um menino perdido.
À nossa frente
haveria tudo o que digno seria supor em tal situação.
Um ensurdecer do vazio
em que seriamos levados até todas as memórias devido ao encoberto desvendado,
glorificando pela primeira vez,
cada dia como um mal adiado.
Um vento cortante que nossos cabelos levam
na ânsia de toda a frustração acabar
mas mesmo ao partir volta sempre a quebrar.
Haveria ainda uma ravina
onde seriamos tentados á saltar sobre nuvens de água que se insurgem no bater
mas quem na verdade batia seriamos nós, desfeitos neste dia anunciado.

De repente paro,
entre meus olhos parados de medo
diante do verdadeiro medo que em mim se insurge.
Parado pensava em fugir
essas que pareciam quebrar,
não sei o que realmente me fez parar
a não saber, tal como em nada da minha vida,
sei apenas o que vi.
Via nessa criança a confiança que em tempos foi minha,
via nessa criança o olhar superior de quem não teme como eu não temia fazia tempos,
mas acima de tudo, via o olhar que meu foi,
escapado nessa dor há tempo demais.

Que teria significado crescer?
Teria realmente sido verdade
ou apenas enganado um espelho.
Hoje não faço pergunta para a qual possa saber resposta
apenas porque o que desconheço, desconheço em mim e nos outros,
apenas porque exijo saber porque vivo e para onde caminho
(se é que realmente caminho).

Mas porque penso,
quão condenado me sinto,
toda a minha filosofia nada serve perante o medo.
O medo de nada saber
o medo de nada ser
o medo de meus sonhos falhar.
Mas agora sei-o,
todos os meus sonhos falharam,
agora que me vejo preso
agora que mais nada posso perder
agora que em mim algo cresce
em sentido contrário ao razoável.

Diante dele estou,
á nossa volta, nada vivo parecia existir:
"Porquê nós?"
"Não é essa a pergunta certa,
certo seria perguntar, porquê tu?"

De joelhos caí,
nem a dor das pedras me fez demover,
em mais nada conseguia pensar se não em infortúnio assistir.
Que terei eu feito para além
de viver me negar,
do medo abastecer todo o meu corpo
e em mim próprio rodar.
Para todos os convites arranjei desculpas
até que as arranjar deixar de ser preciso.
De todos os meus amores vago me senti,
baixo, sem palavras se quer para olá dizer.
Aos poucos fiquei também velho,
só por natureza.

Passei a ver todas as luas, todas as estrelas, todas as nuvens, todas as noites.
Só, irremediavelmente só,
e do mundo conhecer apenas algo que fora dele levita no meu imaginar.
Desculpei sempre o indesculpável,
caí sempre que me empurraram sem tentar segurar,
todos os possíveis olhares
a correr fugir do medo de alguém poder conhecer,
do medo de alguém poder criticar o vazio que criei,
do medo de alguém criticar todos os defeitos que tenho e conheço
e apenas por os ouvir de novo,
vir outro medo mais forte por alguém o dizer.

"Vai! Atira-te!
Atira-te agora enquanto podes,
enquanto a pouca lucidez que resta não se acaba
e acabes num beco como um vagabundo.
Vai, vai ou nem sequer vás,
volta! volta a ser o menino que foste
e aprende outra vez."

Como eu gostava de voltar a ser.
Quantos amigos tinha,
que deles nem um postal recebo
apenas vejo um que perto vivo.
Quão feliz já fui
quando não pensava sequer em morrer.
Porque pensei, porque pensei eu?

Não me sinto capaz
nem de ir nem voltar,
não me sinto se quer capaz de respirar.

Não me vejo a acabar,
este egoísmo transformou-se em algo tão forte
que me controla, vendo sofrer.
Nem de pensamentos existo,
nem de afectos resisto,
porquê voltar?

"Entre milhões não tens nem um,
tudo te escapou,
tudo te fez morrer,
tudo te fará acabar"

Em mim o vejo
sempre que olhos fecho.
Daquele dia foi mais que o vento ou o mar,
mais que o menino ou a dor.
Fui eu que me fiz voltar.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Verdade, sem definição

Gostava de me responder.

Conheço a verdade há muito descoberta
sentido dela a derrota.
Derrota de quem a procura sem cessar,
derrota de quem a pensa encontrar,
derrota, até de nela me ver.

Sei igualmente o muito que perco
ao me perder em mim.
Sei realmente que o muito que posso perder
faz parte, mas de outra ordem,
ao muito que posso ganhar.
Mas não sei eu, e aposto que não sabe muitos,
quanto deveremos nós ganhar?
quanto deveremos nós perder?
Equilibrar, aniquilar?
Ser infinitamente uma coisa
ou infinitamente coisa nenhuma.

Quando penso que único desejaria ser,
uma solidão invade o vazio.
Mas se acompanhado me vejo,
de seguida, só me repleto.

Nunca dois extremos se juntaram,
nunca nada virou se não em tudo,
nunca viverei a primeira vez.
Afogado, minha alma me fez.

Quererei a verdade numa resposta
ou apenas minha dor mascarar.

Insurgindo montes de nada
contra nadas de tudo.
Vejo e desprezo
tentado eu, que me desconheço,
ser infinitamente algo que não eu.

Será de facto um mal
ou uma dor de olhos reflectindo sem pensar.

Serei em todos apenas um?
Serei realmente apenas eu?
Quão diferente me vejo e revejo
ao em nada me deslumbrar.

Até que de verdade, a verdade responde:
"Rostos pálidos e vazios,
sem gosto e alma
morram hoje comigo em ânsia de encontrar"

Viverei tentando conseguir
a paz que me falta ao acordar,
serei verdadeiramente capaz de me ver
ou hoje nem imagem vejo.
Por algum motivo nem capaz
da minha amplitude em ideias abandonar.
Sendo tudo o que hoje
por bem ou mal, nem imaginado ouso.

Verdade...sem definição...

...nada por mim acabará.

Verdade? Será em nada nem ninguém acreditar
e desse motivo, apenas continuar.
Verdade? Será em mim me reencontrar
e a luz...pela última vez apagar...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ruas

Com esta dor desmedida
surpreso me vejo entre pisadas de calcário
fosse eu dono
saberia aonde deitar.

Enquanto venho e passo
uma imensão em mim abala,
vivendo olhos de quem vejo
levito entre ruas intermináveis,
ruas de sonhos e "eus".
("Como gostava..."
"O que queria..."
"Que inveja tenho..."
"Eu, eu, eu")

Vivesse eu mais tempo
e de louco não escaparia.

O cheiro que hoje se ouve
morre em mãos de homens que o provam.
Sem sentido vidas morrem em rotinas de alma acabada.

Vontades tornadas pensamentos
pensamentos tornados nada.

Parte dum pequeno gruto me sinto,
lado a lado, adormecidos espirítos cruzam ruas de sonhos postos.
O tempo virá, e nele, serei eu o adormecido.
E então sim, poderei eu cruzar essas ruas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sentir

Que breve sensação
me sente agora a alma
imaginando pelas estradas
que só dela, minha pertence.

Imagino eu
como veria o mundo se não sentisse
(Será que existiria mesmo.)
Não sentisse eu o amor,
cantando de quem não sente
outro sentimento a não ser
aquele (tomado como meu)
me transforma em dor.

Morrese eu de pronto
se me fosse dado a escolher
sentir, viver?
Verdade seja,
sem coração bater nunca sentir será
mas quem da vida nunca sentiu,
nem a vida lhe pertence.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

In dubio

Leve enleio que escurece a alma
surgindo entre mares furiosos
porque não sentes agora o caminho voltar
até os meus dias de novo gloriosos?

Não faço se não esconder
e entre encontros e surpresas
que a mim desagradável sinto
tudo a que me vejo, fujo e minto.

Sem sentir hoje fico
nesta nova lucidez que depressa afasto
em sentimento que de mim transbordo
espero o amanhã e corro p`ra soltar
o grito com que acordo.

Talvez já em mim viva
esse desejo de viver reposto
mas até que dele o rumo se acerte
não destapo ou mudo o rosto.

Vivendo em mim puro rasgão
tarde pela primeira vez escuto
seja razão a certeza
um viver que discuto.
Minha única gratificação
fosse outra não saber, saberei hoje,
foi minha alma primeira a ser?

Eu

Sinto-me cada vez mais lúcido apesar da alienação a que me submeto. Nem o pessimismo(que em mim será muitas vezes patente) é me agora visto de maneira negativa. Talvez apenas mais uma característica da minha alma, que de tanto a ter, acabou por agregá-lo, formando muito da personalidade que disponho.
Sei, dum jeito que nem saber chega a ser, que todos os meus erros, todas as minhas dúvidas caminharão sempre comigo até ao fim e o meu úncio propósito é isso transmitir. Errar é tão bom como acertar, em doses certas ensina, demais destrói.
Talvez esteja finalmente pronto, para o meu sonho seguir e com ele a felicidade poder cumprir. Sei que a segurança não será minha aliada mas os riscos fizeram de mim muito do que sou, e não me sinto mal com o resultado. Sei igualmente que pouco sei, que tarde comecei, mas a preseverança que transporto fará tudo o resto, e esse resto sou eu, profundamente.

sábado, 8 de novembro de 2008

Poeta que (não) sou

Que quero eu se não mentir
mais nada faço embora nem nada chega a ser.
Mas que outro anseio poderia eu ter,
se não o anseio de algo ser?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Direitos dum tonto

Com que direito eu,
ser em que as dúvidas ladeadas de respostas soltas permanentes são,
me ouso entre a verdade na mentira,
(talvez a única que realmente existe, por isso nunca a saberemos)
"Que tipo de ignorante sou?"
me ouso eu? se quer tentar
à grande luz de recitais antigos mostrar algo novo por palavras já antes nascidas.
Que mostrarei eu? que mostraram eles?
Emoções, erros, dúvidas. virá tudo do pensar, não virá nada, será que vêm realmente algo?
e nem pensar eu me ouso fazer verdadeiramente, talvez só discursar.
Porque não acabo já aqui,
miserável e redutor como sempre fui
livrando de algo, esse algo de ser que nem algo um dia será.

Com que desígnio se não aquele que nunca atingirei,
nunca o atingirei e porventura essa será a minha única certeza.
que sonho eu nesta tormenta de esperanças, muitos lhe chamaram Vida, eu nem chamar sei de momento.
Desvaneço, desvaneço como sempre fiz
como sempre fez quem como eu
foi maior que o seu ser, mas sempre menor que o ser de outros, igual
(sem o mal de igual a outros ser,
quantos vezes fui eu mais repudiente que tu
mas nem esse direito chega a ser nosso
e nosso, talvez apenas o de perdoar)
Porque não acabo já aqui? (Nem isso realmente quero fazer, mas que quererei eu de mim, que mais posso eu fazer?)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Devaneio do ser

Acho que nunca conseguirei explicar a ninguém porque crio, ou se é verdade que crio, porqure razão o faço, ou já fiz, duma maneira que da minha maneira de ver é altamente influenciada por uma outra, que não minha, uma impossibilidade fisíca de ser dois ao mesmo tempo, mas essa impossiblidade creio que só existo mesmo fisicamente, mentalmente considero-me mais que muitos, muitos seres habitam em mim, talvez todos os seres que até hoje vi habitam realmente em mim, todos os seres que verei, todos os seres que sonhei e todos as coisas que nem seres são mas que por alguma razão me marcaram.
Mas creio, creio duma forma indubitável que a minha maneira de pensar, a minha maneira de ser, a minha maneira de ver já foi escrita e que agora, já preso dessa situação sinto que devo seguir uma outra que não a minha, em busca duma falsa originalidade, dum espaço meu que embora se possa criar nunca será realmente preenchido e apesar de nem uma marca, uma caracteristica literária, um estilo ou algo que se queria chamar realmente conheço, mas com a certeza plena de ser a única que desejo. Sinto, e sinto principalmente ao ler tudo o que leio de Fernando Pessoa, que já houve alguém que já sofrei da mesma maneira que sofro, que já houve alguém que colocou todas as minhas questões mesmo antes de eu pensar que seriam minhas, mas ao vê-las sinti-as duma forma que muitas vezes me coloco em auto-análise, vindas duma explicação metafisíca que desconheço adiavelmente a origem e porventura, todo esse adiar faz-me ainda pensar mais que tudo é ainda mais parecido, que tudo em mim já foi, que não sou eu, outro ser dum ser que se considerou duma forma que nunca seria eu capaz de fazer mas que a todo o momento sou eu, capaz de a sentir.
Como gostava agora de explicar tudo o que sinto, pois também em mim toda a sensação, toda a emoção tem de ser intelectualizada, exprimida duma forma para que esta possa de alguma maneira deixar de a ser, sendo apenas não mais que um pensamento ou algo que se possa parecer. Poderão acusar-me de pretensioso, apesar de no fundo sentir que possa haver uma certa verdade nessa crítica, aceito-a apenas pela enorme admiração que a sua obra me desperta e não por qualquer outro objectivo que não suscita outro sentimento a não ser repudio. Nunca nada é absolutamente simples, e felizmente, também nunca nada é obsolutamente certo, mas o que mais verdadeiro se possa desvanecer é que entre o meio, o meio de coisa nenhuma e duma imensão de algo que porventura ninguém conhece existe uma razão que desconheço. Essa razão sei eu muito bem que todos a desconhecem em igual comigo e em igual comigo irão todos continuar, pois sem esse desconhecimento talvez nem a vontade de viver, nem a vontade de morrer fosse hoje vontade, pois já nem a Vida existiria.
Igualmente, peço porventua desculpa, não sei se a mim, nem sei se a quem estes devaneios lê, mas peço desculpa se por alguma razão estiver ou a mim ou alguém a enganar, sei que se for a mim, será apenas mais uma a juntar ao rol de certezas descredibilizadas que fomento, agora, se for a outro alguém, se existir outro alguém que se possa ofender, então que se ofenda, não o digo por desconsideração a esse alguém mas por desconsideração a mim próprio ao já não ser capaz de apresentar alguma virtude que não seja considerada individualista. Será inteiramente erro meu?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Eles

Por entre as formas irrecusáveis da incompreensão dos sonhos
estende-se a lassos mares a simples memória
relatando na paz tudo o que nela desafia.

Este viver infernal conduzido por ferros humanizados
faz viver tudo duma forma
onde a forma viva já morreu.

Tudo é hoje se não nada
e o nada que é para muitos
é senão tudo para poucos.

Esses que doutros vivem
sem o saber morrem deles mesmos,
da morte mais dura que pode haver, eles...

(poema antigo)

The Mars Volta - The Widow

domingo, 2 de novembro de 2008

Lugar

Não há senão razões,
(que nem razões são)
de nos fazer estar aqui.

A Vida
que sei eu, que sabia eu?
Que vivemos nós para nos julgarmos,
que alcançamos nós para outros criticarmos,
Com que direito respiramos nós se nos for negado o direito,
de apenas aqui estarmos.

As horas passam
e com elas, passa o tempo.
Com o tempo nós,
não deixando mais que a memoria,
dor pensada de quem esteve para aqueles que no futuro estarão.
Mas hoje não,
hoje sou mais imortal que o tempo,
hoje ele não passa por mim,
por mim e em quem de mim ouvir
pois hoje é mais que o tempo.
È a Hora, é a razão pela qual esperávamos
é o tumulto pelo qual os nossos antepassados
nos deixaram não outra coisa, a não ser a memória.
Hoje é a Hora de nos levantarmos,
hoje é a Hora de sermos quem nunca fomos,
hoje é a Hora de sermos mais que humanos,
hoje é a Hora de ser.

Não, não aceito mais comentários derrotistas,
não aceito mais julgamentos de ocasião,
hoje sou eu em pleno
e hoje vocês são vocês em pleno.
Essa plenitude que vos peço,
Irá preencher-vos de coragem e dignidade,
será a luz da harmonia,
o calor das ideias,
será o sangue que corre em vós,
será a gente deste Mundo.
Seremos, todos, pela primeira vez
os astronautas da Terra.
E, conquistando-a,
será como no maior dos sonhos,
no mais longínquo dos horizontes,
mais brilhante que o Sol.
Será, tudo o que sonhares.

Essa plenitude que vós peço,
não foi por mim inventada
será por todos descoberta.
E por todos, outra vez vos peço.
Levantem-se...