Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Inútil

"Todos os caminhos vão dar a Roma"
Pena nenhum dar às respostas que preciso, se não esses, outros houvesse. Das respostas nunca conheci existência, mas se as há devem estar noutro plano e, quem delas conhece a solução para tudo o que sofremos, têm como condenação na alma uma insanidade interminável por tanto das nossas dúvidas rir, que nele não passam de certezas puras.
Sempre me qustionei sobre tudo, sempre o faço, creio que sempre o farei, sem esperanças de obter respostas. A verdade é que faço sempre a mesma coisa, todos as horas, todas os dias. Aliás, para mim nem há dias, apenas uma sucessão de momentos repetidos. Nunca fiz nada que desse um filme ou um romance, nem tenho qualidade para os criar. Qualidade para nada. Não sou atleta, não sei pintar, não sei fingir, não sei observar. Escrever, escrever também não. Esta é apenas a forma como fui levado a pensar. Apenas tento reflectir o que sou mas erro constantemente.
Engraçado seria, alguém, ao ver um verdadeiro génio a criar, desistisse por completo do que faz. Por exemplo, se me deparasse com Eça de Quirós e a sua incrível, marivilhosa, descritiva facilidade de escrever genialmente, acho que parava no instante seguinte. Sentiria-me tão inútil, tão vulgar que apenas contaminava um mundo diferente do nosso com defeitos mundanos. Há coisas que estão destinadas a poucos, mas feitas para um público geral.
O meu pecado seria não concardar com isso, e a cada palavra que escrevesse (e escrevo) esquarteje por completo uma área tão bela e exigente, uma língua tão rica e da qual me sinto ignorante. Mas, por erro meu e sofridão vossa, concordasse em parar, nem este texto teria escrito e apesar de nada alterar com isso, eu perderia muito. Mais nada, mais nada como sempre foi e será, mais nada mudaria.
Nada, excepto eu. Seria diferente. Apesar da nobreza de tal atitude, desistir nunca seria solução, merecia por certo ser discutida (pena não o conseguir). Apesar de também esse jesto ser artística, talvez mais que qualquer que já tivesse feito, mas nunca, nunca tão grande como a menor arte que Eça possa ter feito. (como fosse possível Eça ser capaz de algo menor)

1 comentário:

Rita Silva Avelar disse...

Não há nada que seja inútil. Nós, seres humanos é que nos sentimos "inúteis", por vezes. Por isso é que inventaram a palavra, de certeza. x)
Beijo