Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


domingo, 30 de junho de 2013

serás outra
és outra
apenas estas palavras
que do lado cobarde surgem
chegam para, aos meus olhos, seres outra

já não o teu sorriso
mas tu em palavras minhas
(essas que nem minhas realmente são)
e em palavras minhas nunca tu
nunca tu na tua cumplicidade
(e agora fecho os olhos, recordo
a alma aconchega-se e sorrio levemente, sem rir)

não cheguei à tua mão
e a porta, quem sabe se para sempre
separo-nos
(paro... como parei
os lábios lacrimejam
a minha boca já não minha mas de outro estado qualquer
e as lágrimas que os nervos e mãos procuram esconder
no segundo seguinte às últimas palavras que te dirigi)

deverei transformar-te, em palavras difusas e não (inteiramente) minhas
ou incomodar-te, pedindo-te, inteira

sexta-feira, 31 de maio de 2013

terça-feira, 28 de maio de 2013

Ane Brun - To let Myself go


To let myself go
To let myself flow
Is the only way of being
There's no use telling me
There's no use taking a step back
A step back for me...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Ane Brun - 'Rubber & Soul'



In my mind I'm crawling on your floor
Vomiting and defeated, total absence of grace
Your reluctant voice saying
You decide your own fate

But I wear rubber bands 'round my soul
They keep me from crawling
And these rubber bands round my soul
They keep me from falling

In my repeated dreams
You stare at me with an empty gaze
You turn your back on me
And you search for more intriguing days

Loathing this, controlling this
Let me get a hold of this

So I wear rubber bands round my soul
They keep me from crawling
And these rubber bands round my soul
They keep me from falling

And then when you are not
In my dreams and not in my mind
But we are at the same place at the same time
Rubber no longer holds the borders of my soul

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

João César Monteiro - Passeio com Johnny Guitar

Ver César Monteiro é, para mim, vencer a vida, mesmo sem ter a necessidade concreta - seja isso o que for - de nela entrar materialmente. A inquietação dá lugar à ironia, e posteriormente a um misto de tranquilidade e lucidez, mesmo que se possa considerar ilusória. Durante alguns momentos, como nos cigarros, janelas e dedilhares nesta curta, o confronto que tenho comigo próprio ocupa-se não de resolver os possíveis problemas, mas, bastante mais interessante, reduzi-los, relativizá-los, ridicularizá-los até, pois que melhor se pode fazer das nossas próprias inquietações. Não descartá-las, mas colocá-las noutro plano. Pensá-las, sem pensar. Estando consciente, sem estar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


Vejo-te um pouco como se já não houvesse
uma casa para nós. As grandes perguntas estão aí
por todo o lado, onde quer que se respire, dentro
dos próprios frutos. É o começo da noite
e os cinzeiros já estão cheios de meias palavras:
porque escolhemos tão pouco
aquilo que nos pertence?

Vejo-te de olhos fechados enquanto me confiavas
a tua história – à mesa da cozinha, quase um espelho,
quase uma razão. As minhas canções preferidas
pareciam convergir para ti a certa altura, dir-se-ia
que te vestias com elas. E no entanto
como se apressaram as grandes florestas a invadir
as gavetas, como misturaram as raízes
no eco que fazia o teu desejo contra mim.

Rui Pires Cabral
in A Super-Realidade

sábado, 24 de novembro de 2012

as pernas da mesa uma outra função
após extensão do membro
(as pernas da mesa igualmente membro
durante a passagem para nova categoria)

corpo decorativo em forma de lascas
lascas circundando o que até então figura geométrica
definida, forma e uma sombra como extensão dessa forma
que agora sombra nenhuma dado que colado ao chão