Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


domingo, 30 de agosto de 2009

Discos Favoritos

1º Nevermind - Nirvana
Electric Landyland - Jimi Hendrix
Led Zeppelin II - Led Zeppelin
The Fat of the Land - Prodigy
Is This It - The Strokes
Incesticide - Nirvana
Ok Computer - Radiohead
Led Zeppelin III - Led Zeppelin
Icky Thump - White Stripes
Exodus - Bob Marley

Appetite for Destruction - Guns n Roses
Substance - Joy Division
Whatever People Say I Am That`s What I`m not - Artic Monkeys
In Rainbows - Radiohead
Led Zeppelin IV - Led Zeppelin
In Utero - Nirvana
Ten - Pearl Jam
Rage Against the Machine - Rage Against the Machine
Automatic for the People - R.E.M
Kasabian - Kasabian

Are You Experienced - Jimi Hendrix
The Bends - Radiohead
Superunknown - Soundgarden
The Doors - The Doors
The Black Room - Editors
The Real Thing - Faith No More

Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols - Sex Pistols
Fever to Tell - Yeah Yeah Yeahs
Blur - Blur
Definitely Maybe - Oasis
Dirt - Alice in Chains
Urban Hymns - The Verve
The Stone Roses - The Stone Roses
Broken Boys Soldiers - The Raconteurs
Doolittle - Pixies

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Boinas ao vento


by Elliot Erwitt

Árvores e Árvores, o meu avó cujo pé direito ao alto enquanto o esquerdo perde a sola pelo chão, uma roda e é ver o direito a fazer faísca e o esquerdo chegar às nuvens, paredes dum lado e doutro a tapar uma pequena subida relvada, segue sempre ao lado do risco pois por aqui carro nenhum da mesma maneira que dele olhar nenhum e em casa pedal nenhum, um pé que subisse à mesa em que apenas baguetes, outro esperava e o pé a subir, a baguete a segura na mão enquanto da boca palavras, mas nada e ainda bem já que a conduzir, eu que com a vista de frente para trás e das baguetes nem uma recordação, apenas arvores como se molas na base, passo e soltam-se, não da mesma forma como em casa as fotografias, viradas ao contrário numa gaveta, se por acaso uso do pedal e levo o direito acima na tentativa de as virar logo o meu avó enorme com o esquerdo Não è ninguém, não mexe, cadeiras presas ao chão, essas que a custo levanto e 4 quadradinhos no chão, os quadradinhos outra cor, puxo novamente do pedal pelo quadradinho e o pedal limpo enquanto que ao lado cheio de pò, na janela um vaso onde em tempos, julgo, uma flor e que agora abriga a chave enquanto nós os dois fora, da bicicleta um dia da bicicleta não sabe e esquece-se das baguetes, a chave sem relação com o vaso e meto-me a treinar para ganhar o Tour, inclinações não relvadas para trás, de ciclismo sei que se seguirmos a direito a roda de quem vai à frente poupamos 30% de esforço, isto claro numa bicicleta que não esta, esta anos e anos disse-me uma vez.
O esquerdo no alto enquanto o direito ganha asas, o vento pergunta à minha mão pela baguete e eu com a outra um murro no vento, a chave decerto já aborrecida no vaso e o meu avó todo ele olhos em frente, eu a dar comigo entre as árvores já que a vista para trás, vontade de meter os pés ao nível do chão, a bicicleta quase que cai, não cai pois olhos em mim sem palavra, eu igual e de novo nos seus olhos olhar nenhum, enganei-me, nos seus olhos chamas mas sem preocupação pois vento a partir daqui, já não arvores, já não muros, a chave que se solta do vaso, a baguete na mesa, as boinas na mesa, julgo que fotografias reviradas mas certeza nenhuma, Ninguém, não mexe, a bicicleta que velha e portanto no Tour para trás à primeira curva, até à meta nenhuma roda à frente.

domingo, 23 de agosto de 2009

Bubles




Olho em frente e alguém a apitar, parece-me. Não, em frente não dado que via rápida, acelerar e pronto, um dois três bancos dentro de bocados de ferro, um olhar no vidro, um olhar para detrás do volante, velocidades conquistadas para mais tarde gabar, no vidro um aselha, só pode dado que tão lento, nem um apito merecem. Isso, certo que só no centro da cidade, artérias de alcatrão, por vezes buracos e tampas onde se largam pneus, chatear-se para quê dado que mais por toda a cidade. Riscos brancos que não se respeitam, compreende-se pela intermitência, na calçada tudo igual, quadrados à medida da palma da mão, basta escolher e atirar, ali ora branco ora alcatrão, não se percebe e atrás da fila de carros sempre é melhor, num momento sobe a cara e do cimo da fila de carros cabelo e dois olhos que aparecem, o cabelo abana um pouco pelo movimento e os olhos surpresos, um pequeno sorriso visto que um carro perto, os quadrados para levantar mas não levanta, segue e visto do carro cabelo e olhos sem aviso, gigantes, surpresa já que os riscos brancos intercalados no alcatrão suposto serem bem mais a frente, os travões que falham, - nestes momentos nada da fila nem da calçada, dos riscos nem se fala -, um ponto em frente de corpo inteiro, afinal não falham, daqui, julgo, um pequeno toque apenas.
Alguém - não conheço - sai do carro, procura explicações mas nada, sorrisos apenas e como nem uma fala a suspeita de problemas no motor, o cabelo e os olhos já não cabelo e olhos - não me perguntem o quê -, postes à volta, fixos e frios que só eles, carros atrás, uma outra fila cheia de buzinas, alguém com a casa à espera, prédios onde janelas corridas até ao chão, se uma aberta aposto que contente, um sorriso como resposta e novamente só cabelo e olhos.
Frio na rua e de volta ao carro a chave perra, uma, duas, três vezes até conseguir, o cabelo e os olhos para trás, por momentos o sorriso no retrovisor até que apenas a fila de carros onde decerto quadrados aos pontapés, o rádio onde vozes numa língua que não entendo - julgo não entender visto a dificuldade de audição a esta altura. De noite a estrada órfã, a pedir um pé pesado, janela aberta e o cabelo a ganhar vida, muitas vezes a mão esquerda a subir para ele sossegado. Uma caixa branca com um nome, ao lado do nome 1500m e uma seta, uma luz a piscar para a direita, 60 o máximo, a estrada mais órfã ainda, uma rotunda, a primeira saída sentido proibido, segue-se e a próxima o caminho de volta, outro sentido proibido, um desvio com um nome desconhecido, dá-se outra volta e a escolha pelo nome desconhecido. Uma pequena subida, nenhuma vegetação, pedras e pedras na borda. O carro pára, distante a cada passo e do carro já nem uma memória apesar de tão perto. Um pequeno banco de pedra como refúgio, irregular e frio onde a estrada já não órfã à sua frente, luzes e luzes sem ordem, estrelas em cima e o barulho dos grilos, uma brisa suave. Julga ouvir alguém apitar.

P.S: Imagem retirada do blog D`um detalhe, a quem dedico o post.

sábado, 22 de agosto de 2009

Led Zeppelin - Whole lotta love

Nirvana são os meus favoritos, mas há uma banda - um pouco - melhor, Led Zeppelin.


You need coolin, baby, Im not foolin,
Im gonna send you back to schoolin,
Way down inside honey, you need it,
Im gonna give you my love,
Im gonna give you my love.

Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?

Youve been learnin, baby, I bean learnin,
All them good times, baby, baby, Ive been yearnin,
Way, way down inside honey, you need it,
Im gonna give you my love,
Im gonna give you my love.

Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?


Youve been coolin, baby, Ive been droolin,
All the good times Ive been misusin,
Way, way down inside, Im gonna give you my love,
Im gonna give you every inch of my love,
Gonna give you my love.
Yeah! all right! lets go!

Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?

Way down inside, woman,
You need love.

Shake for me, girl
I wanna be your backdoor man.
Hey, oh, hey, oh
Oh, oh, oh
Keep a-coolin, baby,
Keep a-coolin, baby.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

(no title)


"USA", by Elliot Erwitt.

Um amigo disse-me que sai água da torneira dos brancos. Uma vez, estava ele sozinho, e depois de escutar os passos atrás da porta, experimentou. Um olho na torneira, outra na porta, puxava aquilo e nada, continuou a tentar, cada vez com mais força, até que um pedaço de ferro saltou pelo ar e levou um repuxo atrás. O chão, num instante uma camada transparente, e ele porta fora. Eu, como é óbvio, não o levei a sério, embora, e faço isto mais pelo sim pelo não, prefiro não me chegar muito. Diz que ainda chegou a provar um bocado e nem é mau de todo. Os canos, diz ele, tal como no nosso, é que estragam um pouco o sabor. "Os canos nem estão muito maus", respondi.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Perto do cais

by Elliot Erwitt.

Foi à outra mesa e deixou-me o casaco, o casaco que, já lho disse, feio nele, tão preto - e ele loiro -, o casaco que fá-lo parecer gordo. Os meus ombros no chão devido ao casaco, nem se apercebeu, uma amiga acenou da outra mesa, ele respondeu e fez com que eu respondesse, "uma amiga" disse ele, passou um vento e eu disse "que frio", ele estava a sorrir e confinou a sorrir para mim enquanto eu lhe falava do frio, tirou o casaco enquanto dava a volta a mesa e colocou-mo às costas, deu uma pancadinha no ombro esquerdo que o fez descer uns 2 centímetros, "já venho" disse ele, com o olhar preso nela. No caminho parou junto ao empregado e deve ter pedido 2 cafés, um que está aqui a arrefecer e outro que o empregado levava na mesma bandeja e que deixou na mesa dela, largou uma moeda e vi-o abanar as mãos ao empregado, talvez a dizer tudo bem, bebeu-o mal ele se virou e, desde aí, têm-se mantido com a cara pousada no punho esquerdo enquanto conversa com ela. O meu café talvez já tão frio quanto a água do rio, e sinto bem o frio que dele vêm aqui neste barco, de manhã ele a falar-me numa surpresa. O cabelo bem do jeito que ele gosta, a maquilhagem, horas na casa de banho enquanto o ouvia queixar-se do tempo perdido e depois a rir-se, devagar, como se pensasse que eu não ouvia, e eu de olhos no espelho a esboçar um sorriso do seu riso e do meu tempo perdido, da surpresa que a manhã me reservava, eu já com planos, a visita à zona histórica da cidade como combinado com as minhas amigas para estas férias. Igreja e museus, nos intervalos lojas como é normal, uma recordação para a família, alguns amigos, parece-me que ele anda a precisar duma camisola nova e ontem vi uma bem gira, o jardim da cidade onde agora devem estar, se desse tempo subir a montanha e ver tudo de cima. Se lhe disser, talvez me responda que a montanha fica ali para sempre e aquela nem com um terramoto dos grandes lá vai, da amiga talvez já se terá esquecido. Aposto ainda num sorriso na cara quando voltar, talvez ganhe coragem e até o café saberá melhor, pergunto-me agora se já tão frio como o rio. Por enquanto, o barco lento tal como me disse, uma tarde inteira para aproveitar a paisagem, de uma ponta à outra da ilha, que coisa estranha, uma ilha deste tamanho com um rio, dizem que nasce numa fonte tão funda que nunca ninguém a viu.


P.S: Este saiu assim, salvo pequenos retoques, não fiz grandes correcções nem tentei misturar muito o texto. A foto parecia-me tão natural e disse-me tudo - adoro aquele olhar. Escrevi tudo em pouco mais de meia-hora, desculpem-me os inúmeros erros e a superficialidade, as estas horas a atenção já não é a melhor, além da dificuldade natural que é para mim tentar entrar na cabeça duma mulher.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A aldeia dos adictos


"No remoto povoado de Sarab, na província afegã de Badakhshan, toda a população é toxicodependente, desde os mais velhos aos recêm-nascidos. Raihan, a jovem mãe que se vê na foto, deixou-se capturar pelas garras do ópio quando estava grávida do seu filho, agora com um ano, fazendo dele um dependente da droga ainda antes de ter visto a luz do dia. «Quando nasceu estava sempre a chorar e agora só adormece quando a Raihan lhe sopra fumo na cara», conta o avô, Islam Berg, também ele opiómano. O caso de Sarab não é único: naquele recanto do Afeganistão há dezenas de aldeolas onde o suco da papoila é pão para a boca." in Visão, 13 a 19 Agosto de 2009
Foto: Julie Jacobson / Associeted Press

Os 5 tubinhos do lado esquerdo e os 5 tubinhos do lado direito entrelaçados, um boneco de peluche no meio que agarro devagar para não partir os tubos como gelo. Passa uma cobra perto do poço, de tantas cores a cobra, o peluche vira-se para o lado da cobra - talvez faça vento, não sei - e ela para trás. Mexe-se pouco a cobra, por vezes anda ai à volta, uma investida pelo tecto, acaba por descer e deve enrolar-se atrás de mim, novamente o vento a fazer mexer o boneco, marca círculos em redor da cadeira a uma velocidade tal que acaba por voar, - isto 1, talvez 2 segundos - volta junto à boca do poço e cada vez mais depressa, eu a julgar que sim mas cair no poço é que não cai - talvez seja pelo elefante que está sempre a tapar a saída. Mas isto pouco importa, a cobra tão pequena, sento-me na cadeira de baloiço e para trás e para frente, do movimento os tubos cada vez mais frios, se por um movimento diferente, estalam - não me importa, os tubos são de gelos, não sinto nada.
Os tubos, como é obvio, saem dos ramos e, bem junto a eles e aos tubos, um boneco de peluche - também ele 5 tubinhos a sair duma pequena bolacha cheia de fios, a bolacha dá fim aos ramos, depois dos ramos não sei o que fica, julgo que não longe do boneco. A cadeira sempre a baloiçar, há vezes que suspira e outra parece-me chorar, mas claro que tudo isto é estúpido, a madeira é como o gelo, não respira nem chora. O peluche - tão pequenino já vos disse?, tem ainda duas folhas enterradas, as folhas já gastas de certeza, nota-se por um pontinho preto bem no meio e o resto tudo branco à volta, nunca vi folhas assim - , em volta a cobra costuma fazer as folhas mexer e com tantas voltas parece um arco-íris.
A cobra trouxe para aí outras coisas. Uma rosa muito escura que deixou perto do poço, eu estava na cadeira e de inicio nem dei conta. Uma vez a cobra apanho-a com a boca e trouxe-a até mim, fui com os tubos apanhá-la, a cobra chegou-se para trás, - julgo que pelo gelo - apanhei a rosa e levei-a ao peluche, mesmo num risco abaixo das folhas, o risco ora fechava ora abria, acabou por abrir - novamente, julgo, o gelo - e a rosa lá para dentro, ficou irrequieto uns segundinhos até que ganhou de novo posição - os tubos, outra vez, uma ajudinha. Há ainda, pendurada não sei em quê, um desses lençóis das pessoas que se vestem de branco, daquelas pessoas que usam ainda mascaras e passam o tempo todo à volta de tubos, - não parecidos com os meus, seria bom gosto a mais para essa gente - tubos que enrolam uns aos outros e onde misturam muitas cores, no final metem-se uma caixa e aquilo anda tudo à volta até sair de outra cor. Na minha opinião, se é pela cor, não valia a pena, conheço uma senhora que se farta de vender tubinhos, têm-nos às cores e tudo. Com o trabalho poupada, até dava para se meteram numa cadeira a baloiçar, um peluche entre ramos para acompanhar, às vezes passa-se com os tubos numa zona de fios que fica por cima das folhas, - mas como raio saem tubos de ramos e bolachas? - uma cobra às cores para manter na memória outros tubos, uma cora que vai mudando e outra e outra.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

1X2



"Um homem percorre a pé a frente marítima de Havana, o chamado Malecón. Foto: Desmond Boylan/Reuters" in Público

1
Nuvens e mar, gaivotas e barcos, o muro que de repente inexistente, os pés não presos e a cara no lado de lá, mas hoje nem Sol nem nada.
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Se pudesse, gaivotas e barcos para trás, seria edifícios a aparecer como cogumelos, de tão altos até as nuvens mais chegadas ao chão, nas estradas luzes que se vão engolindo e formam linhas, principalmente de noite, um sítio onde ir, um saco de compras no banco do pendura, se me fizessem parar um insulto, alguém na passadeira, alguém nos outros carros, um nabo? Dou comigo prestes a atirar pedras ao mar, um buraco e eu pelo meio, as pernas a responder, soltas e pelo ar. A pedra com força e ondas de cada lado, julgo que enormes vistas do meio. No cima de cada onda, barcos com pescadores, todos em linha sem falar, um olhar pequeno, as mãos apoiadas na madeira e apenas uma pequena parte dos dedos visível, restos de sal a escorrer. As ondas à mercê, o vento como que mais rápido, as pernas a reconquistar equilíbrio e o muro menos fiável por momentos, vontade dum salto para a areia, vontade dum murro no muro, vontade de me deitar em cima dele, vontade de... América. As pernas melhores e de novo o muro para trás. As nuvens mais perto, luzes a chegar e dos barcos nada - que ideia a minha, dos barcos claro que nada, onde já se viu, barcos de madeira com luzes -, sigo mais um pouco e as ondas maiores, numa loja de telemóveis o anúncio "Ainda não tem? Com este até os seus contactos aumentam.", ruas desertas embora já não necessárias, edifícios voadores, ondas como que a querer engolir-me, os barcos em cima prestes a tombar, medo que o cilindro feche, o saco das compras com o que bem me apetecer, os pescadores bem é longe tal como as suas música a Che Guevara, de noite luzes atrás das outras, visto das nuvens formam linhas bem ordenadas e parecem uma só, o cilindro feche-se e os barcos para o lado, em cada esquina mil portas mas qual a minha, o mar voraz e dos barcos nem vê-los.
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Um barco ao fundo, não me parece de madeira, nem uma cara avisto. Brrr, que vento agora, as pernas abanaram, sempre tão fracas as minhas pedras - que estranho, normalmente aqui parecem-me melhores. Agacho-me atrás do muro.

*
2
Até onde vai Sol? Felizmente também gosto de nuvens, e hoje estão lindas. Eu que já deveria estar ali, junto ao mar, na areia, à espera dos barcos, não muito longe por agora. Sei que chego a tempo, basta-me correr, mas não sei se esta espera os impacienta. Adoro este muro, lembro-me dela, a memória faz-me ficar mais um pouquinho, como se estivesse preso, não gosto desta sensação, apenas de pensar nela. Horas e horas aqui, juntos, eu sem precisar de falar ouvi-a, gosto de a ouvir embora não tome muita atenção, que vitalidade ela lança, meu Deus. Talvez meia-hora até que cheguem, as ondas hoje estão de feição, olhar o infinito sem ter o que pensar apraza-me. Eu quase sem falar, não vejo bem o porquê, basta-me observá-la, mesmo quando se zanga, as palavras mais longínquas, mãos e lábios tremidos. O capitão diz que eu tenho jeito, basta aprender uma coisa ou outra, o resto é cabeça. Como a queria aqui agora, poderia ser como nas vezes em que se vem despedir, as palavras noutra nacionalidade, com a cara escondida. O capitão fala em coordenadas, pesos, medidas, eu bem escuto mas para mim peixe é peixe e o resto são tretas. O capitão gosta ainda da minha tatuagem de Che Guevara, diz que era um homem de muito coração, homem que gostava do povo. Não percebo para quê tanta coisa às vezes, chego mesmo a enervar-me com tanta pergunta, olhares trocados, palavras que eram para sair e não saem. Vou para a areia, já é tempo e não os quero enervar, tenho de os ajudar a levar o barco pela areia. O capitão diz que mal eu atine começo a mandar noutro barco, que seca isso de estar atento. Sento-me na areia à espera, tão macia, gosto de agarrar nela e depois abrir os dedos devagar, sentir a passar-me pelos dedos enquanto olho o mar.

" -Ficas tão engraçada assim, quando queres parecer zangada mas não consegues.
-Porque é que nunca me dizes o que estás a pensar?"

Eu aí não cheguei a responder.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Errata


Deste vídeo, tirei algumas coisas para o meu post anterior, tirei a sensação "kissed by God", paranóia. Mas, e a julgar pelos comentários que recebi, acho que não transmiti muito bem o lado negativo, talvez sejam metáforas a mais e eu não gosto de dizer tudo. Aconselho que vejam o vídeo - tal como filme, "Tudo o que perdemos", um excelente drama que, além de Halle Berry e Benicio Del Toro, conta ainda com David Duchovny, protagonista da série Californication. A minha opinião é mais à personagem interpretada por Benicio Del Toro - que esteve incrível em todo o filme, transmitiu muito bem a ideia de paranóia e ressaca - e não a necessidade de sentir uma tal fuga, aqui personficada em Halle Berry. Chegou a dar-me a sensação de ter lido outro texto, embora a culpa seja apenas minha.