Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


terça-feira, 30 de setembro de 2008

Propósito

O porpósito de escrever
é o reflexo da minha inquetude.
Respondo aos ciclos tal como a Natureza às Estações,
pois viver é saber se estou a deixar cair folhas
ou estar preparado para amadurecer os meus frutos.

sábado, 27 de setembro de 2008

Redenção

Não compreendo,
como não conseguem compreender
que o que sou não é igual
ao que todos os outros são
ao que outros querem que seja
ao que estaria destinado a ser,
o meu destino foi feito no passado,
cheio de memórias do futuro,
apenas nele sei que hoje devo viver.
Como gostava poder responder àquilo que sinto,
poder escrever o que anseio não se faz por palavras
e tudo o que sinto não é passível de ser descrito.
Tal como a minha alma nunca será acabada
hoje ponho um ponto final nas dúvidas,
aquilo que me faz de humano não passa de carne e osso,
o meu espírito vive num sítio que criei para mim próprio
e do qual não ouso descer.

Tudo o que vejo faz-me pensar
que não fui feito para viver,
o meu desígnio nunca foi vencer,
nunca em mim impus qualquer limitação ou objectivo
que vulgarizasse a alma que tomo como minha.
O cálice que a alimentou transborda de vazio
pois a sua missão foi entretanto cumprida.
Por agora desejaria dizer o mesmo de mim
mas nem essa paixão conheço,
não sei sequer se a chegarei a ver
mas o máximo que posso dizer,
é que por agora sinto-me perdido.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Momental

Hoje descobri
que nem eu próprio posso ser
pois se o fosse
agora seria como queria
e nunca como queria que fosse,
agora sou como quem
quer que eu seja,
mas sem me ver na verdade.

Adoraria morrer agora
e poder ver toda a minha vida da frente para trás
e descobrir, qual o exacto momento
que me fez ser o que hoje sou
e nesse exacto momento poder voltar
e fazer com que esse exacto momento nunca acontecesse.

O único problema seria
ao impedir esse exacto momento de acontecer
estaria a criar sucessivos exactos momentos
ao estar impossibilitado de errar.

Espiríto Surreal

Hoje ouvi
quem de mim dissese
que hoje o que não disse
fosse dito
por aqueles que me fizeram ouvir
em que a minha voz
teria sido usada
como até hoje nunca foi,
como até hoje nunca fui,
ouvi quem de mim fizesse maior do que sou
na tentativa de alguém ser maior do que é,
hoje ouvi
a voz de quem por mim faz o que não consigo
por essa voz que se cospe sem desassosego
enlameada em quem de mim
disse o que não fiz
e fez-me a mim fazer
com quem o disse fosse feito dizer
o que na verdade ninguém saiba.

Quem me dera saber mentir
e daí nascer poeta,
dizer entre versos
a vida de outros e pensamento de alguns
da forma como bem entendesse
soltando aí a verdade
que só se esconde
pois com ela
nem escrever seria preciso.

Palavras em Espiral

Às vezes penso que não fui feito para este mundo
Em que todos os dias vejo o que não gosto e compreendo
Em que todos os dias vejo quem não gosta e compreenda
Em que todos os dias vejo quem gosta e compreenda
O que por alguma razão
A mim me faz questionar o leve impulso de sobrevivência
Que dizem ser de natureza humana e o qual não disponho
A mim me faz questionar se alguma vez
Serei capaz de me sentir humano
E crer que tudo o que vejo tem significado
Que tudo o que hoje é aceite será realmente
O que eu aceito.

Gostava de poder viver esta vida como um fantasma
E sentado a uma esquina
Sem sentimentos
Sem anseios
Sem problemas ver os outros
A terem sentimentos
A terem anseios
A terem problemas
E pela primeira vez chegar á conclusão
De que vivemos apenas
Para ter sentimentos, anseios e problemas,
Que tudo o que hoje vemos não é mais
Do que outros querem que nós vejamos
Que tudo que hoje sentimos não é mais
Do que aquilo que ansiamos
E que todos os nossos problemas
Chegam por no final
Todos querem viver como eu,
Á parte, de forma intocável.

Adorava viver perdido
Para nem isso fazer
E tudo o que fizesse, fizesse sem o saber
Porque se o soubesse já nem perigo
Poderia estar e o destino poder louvar.

Que bom que é ser diferente
Que bom que é pensar diferente
Que conveniente é ser-se igual a tantos outros
E como tantos outros fazer o que outros fazem
Nada de diferente que os faça ser
Pois ser não é viver
E apenas vive quem da vida faz
O que dela não nos obriga
O que dela não nos é pedido
O que dela nos faz no fim ser
Maior que ela,
Imortal.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Perfeito

Para mim tudo é igual
e tudo não passa de tudo,
nada não chega a algo
que se concretize em meu suspiro
de que um dia acabe.

Abomino toda a teoria
de que algo é perfeito,
se perfeito algo o for
todo o resto também o é.

Quem me dera ver o mundo tal como o penso
pois penso-o á minha maneira
e segundo eu essa é a certa
tal como certa é a tua e a de todos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Fui

Sou aquele que todos queriam conhecer
Se nunca desse a face,
Aquele que outros conhecia
Mas que acabou por esquecer.

Todo eu passei a passar,
Desta vida não leva nada não ser recordações
Mil tristezas me enchem a alma
Cicatrizes que nunca passaram.

Hoje, enquanto me entristeço na solidão do nexo
Sei de facto o que é não sentir
Ou fazer o possível para não o fazer
Fazendo agora todos estes seres e sentimentos.

Redudante a forma como a escrevo
Saudades não a chamarão
o meu fado foi feito para mim
Nunca por mim.

Pois de tudo o que mais odeio
O que mais amo sou eu,
Ser sem o ser
Vivi sem dias, morto em segundos.

sábado, 20 de setembro de 2008

Abismo

O mundo obriga-me a chamar-me diferente
Sem a minha face algum dia ter visto.

Empenhava todos os meus sonhos
E solto de vida vivia
Na ânsia de morrer
Nascendo finalmente,
Perdidamente eu desta vez.

Poder ser mais alto que a Terra
Suave como o mar.
Tão cortante como o vento,
Leve com a sua brisa.

Sendo hoje o dia mais triste que já presenciei
Olho para mim não vendo se não abismo
Porque não caio de vez?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Arte

A arte é a mais bela, sedutora, contagiante e provocadora de todas as áreas do conhecimento. O seu principal objectivo é através de certos conhecimentos estéticos, que transformados em algo mais "palpável", possa servir de base a uma evolução da sociedade em todos os seus níveis.
È sempre discutível considerar algo belo ou não, a principal razão deverá ser a forma como essa expressão nos marca, pois ao sermos todos diferentes é com naturalidade que se aceita existirem diferentes gostos.
Em contra ponto, é sempre possível dar a nossa opinião e tentar que ela seja o mais imparcial possível, tentando, já com uma grande base de conhecimentos, dar uma opinião o mais objectiva possível da relevância que representa.
Ora, esse é na minha opinião o problema mais grave dos nossos tempos, além de que a formação seja, quase na generalidade muito insuficiente, a alegação da relevância de uma obra é neste momento mais alargada, apesar de ser reconhicido por um grande número de críticos e entendidos que, infelizmente, são muito poucos os que se designam a fazer algo de original, que choque e lance a discussão, a verdadeira acção está neste momento atrofiada.
Como o heterónimo Ricardo Reis escreveu, "Para ser grande, sê inteiro". Apenas com o conjugamento de vários saberes, com uma mentalidade que procura não o sucesso mas sim a elevação será possível atingir um estado considerado por muitos utópico, a não ser que se seja dono dum dom tão natural e inconfudível que seja capaz de guiar a essa tão desejada sabedoria.
Pode-se então concluir que os males que hoje em dia vivem ao nosso lado, a preguiça, a ignorância e um certo sentimento de desprezo por tudo o que é novo levam á ausência de um espírito crítico e aberto, a salvação de qualquer um.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Grito

Todos aqueles que agora gritam
Por seres tua, não deles,
Gritam por serem eles, não deles.

Trocaria a minha vida,
Toda a minha paz
Pelo seu sentimento, pois de desespero vive a alma
Que esquecida me moldou em pedra
Soterrado em paraísos intrínsecos.

Cercado em mim próprio
Subo mil escadas para poder ter um segundo de ilusão
Que ilusão minha é ter-te e não seres minha,
É ser-me e não ser eu,
Viver sem poder morrer,
Viver sem respirar o doce som das tuas palavras
Que frescas me trazem a sinfonia da luz.

Sou apenas eu e nem vivo
Como se estivesse soterrado ou sem abrigo
Tudo o que sou hoje,
Nada mais do que serei amanhã.

Passado

Todos os escritos deixados para trás
Nestas páginas soltas de vida,
Não são já hoje se não vento,
Não são já hoje se não nada,
Tal como eu
Pura fantasia.