Acho que nunca conseguirei explicar a ninguém porque crio, ou se é verdade que crio, porqure razão o faço, ou já fiz, duma maneira que da minha maneira de ver é altamente influenciada por uma outra, que não minha, uma impossibilidade fisíca de ser dois ao mesmo tempo, mas essa impossiblidade creio que só existo mesmo fisicamente, mentalmente considero-me mais que muitos, muitos seres habitam em mim, talvez todos os seres que até hoje vi habitam realmente em mim, todos os seres que verei, todos os seres que sonhei e todos as coisas que nem seres são mas que por alguma razão me marcaram.
Mas creio, creio duma forma indubitável que a minha maneira de pensar, a minha maneira de ser, a minha maneira de ver já foi escrita e que agora, já preso dessa situação sinto que devo seguir uma outra que não a minha, em busca duma falsa originalidade, dum espaço meu que embora se possa criar nunca será realmente preenchido e apesar de nem uma marca, uma caracteristica literária, um estilo ou algo que se queria chamar realmente conheço, mas com a certeza plena de ser a única que desejo. Sinto, e sinto principalmente ao ler tudo o que leio de Fernando Pessoa, que já houve alguém que já sofrei da mesma maneira que sofro, que já houve alguém que colocou todas as minhas questões mesmo antes de eu pensar que seriam minhas, mas ao vê-las sinti-as duma forma que muitas vezes me coloco em auto-análise, vindas duma explicação metafisíca que desconheço adiavelmente a origem e porventura, todo esse adiar faz-me ainda pensar mais que tudo é ainda mais parecido, que tudo em mim já foi, que não sou eu, outro ser dum ser que se considerou duma forma que nunca seria eu capaz de fazer mas que a todo o momento sou eu, capaz de a sentir.
Como gostava agora de explicar tudo o que sinto, pois também em mim toda a sensação, toda a emoção tem de ser intelectualizada, exprimida duma forma para que esta possa de alguma maneira deixar de a ser, sendo apenas não mais que um pensamento ou algo que se possa parecer. Poderão acusar-me de pretensioso, apesar de no fundo sentir que possa haver uma certa verdade nessa crítica, aceito-a apenas pela enorme admiração que a sua obra me desperta e não por qualquer outro objectivo que não suscita outro sentimento a não ser repudio. Nunca nada é absolutamente simples, e felizmente, também nunca nada é obsolutamente certo, mas o que mais verdadeiro se possa desvanecer é que entre o meio, o meio de coisa nenhuma e duma imensão de algo que porventura ninguém conhece existe uma razão que desconheço. Essa razão sei eu muito bem que todos a desconhecem em igual comigo e em igual comigo irão todos continuar, pois sem esse desconhecimento talvez nem a vontade de viver, nem a vontade de morrer fosse hoje vontade, pois já nem a Vida existiria.
Igualmente, peço porventua desculpa, não sei se a mim, nem sei se a quem estes devaneios lê, mas peço desculpa se por alguma razão estiver ou a mim ou alguém a enganar, sei que se for a mim, será apenas mais uma a juntar ao rol de certezas descredibilizadas que fomento, agora, se for a outro alguém, se existir outro alguém que se possa ofender, então que se ofenda, não o digo por desconsideração a esse alguém mas por desconsideração a mim próprio ao já não ser capaz de apresentar alguma virtude que não seja considerada individualista. Será inteiramente erro meu?
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