Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


terça-feira, 10 de abril de 2012

Da objectiva de Godard para um qualquer ecrã que mo traduzo, sem o conseguir fazer. E aí estamos, nós, como que sobrevoando ainda que sem nos movermos, suspensos sem noção da altura em que estamos mas sem medo de cair, apenas a distância que nos separa a nós da multidão que, ao fundo, parece ir, sem que saíbamos ao certo com que direcção, nem sequer que origem. Estão de costas e vão andando, sem pressas, alternando os pés que se encontram à frente do ventre, sempre ao alcance do olhar, olhar esse que se vai ocupando do chão de pedra que vai deixando para trás sem parecer que o mar que quase os abraça seja preocupação. Parece-me estranho não chegar entretanto alguém, de certo de uma outra direcção ou, também ele, parado, disposto a vender qualquer coisa decerto importante e que faria valer a viagem, ou pelo menos aquele caminho onde as rochas que se vão pisando serem, dentro de pouco tempo, mais uma vez esquecidas.

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