Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

What`s inside? (a tentar escavar...)

Bato a uma porta, bato outra. Ao tocar a minha mão desaparece, tiro-a para trás e ela de novo. Nenhum som, a mão sem marcas. As portas de madeira, já sem cor, crateras a crescer por elas, movendo-se e ragendo ao menor sinal de brisa. Dou passos, olho atrás, as mãos saltam dos bolsos e chegam ao cabelo, dou pontapés em nada para manter equilíbrio. O meu pé direito levanta-se, oiço-o bater; assobio a acompanhar o ritmo. Os olhos sobem um centímetro, apenas eles. Testa enrugada, cabelo suspenso, o nariz desaparece e da boca algo saí mesmo que fechada. Um pé em frente, há outro que o segue; sobem à vez uma calçada. Uma porta com uma janela velha em quadrado. Uns olhos espreitam, está escuro e de dentro nada se distingue. Um dedo avança, e é engolido pela porta. Estende-se a mão, nenhum sinal dela. A cabeça desce, esconde-se dos ombros; cabelos primeiro. A respiração é audível. Depois dos olhos entrarem, uma pausa respeitou-se. A respiração deixa de se ouvir. Segundos depois, estavam uns ténis em frente à porta, em perpendicular com a calçada. Apenas ligeiramente dobrados na zona dos dedos, em esforço.

Para quando os joelhos inclinados e o corpo a subir impulsionado pelos punhos no chão, braços esticados a tirar em seguida o pó às calças, sentir os dedos dos pés livres, firmes. Voltar atrás e do lado de fora tentar o trinco.

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