Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


domingo, 7 de março de 2010


O mar em frente solta espuma nas rochas.
Em riste os olhos na cor branca
que dança pela orla. O ar está seco.

As ondas o horizonte finda
em finais de tarde propícios ao alaranjar da água.
E o Sol é como uma boca que vai morrendo
enquanto em terra o sal se impregna nas fendas.

E do alto do declive
a cadeira principia a tornar-se pesada
e o vento - desordeiro como só ele -
tenta os ouvidos -  provoca os cabelos que se movem em resposta -
e pela planície os olhos procuram (nem que apenas por hipótese)
abrigos.

E entre os dedos
escapam areias e terras, grãozinhos que mostram textura à pele 
e que pelo solo se pisa.

Haja o contacto com as ondas
que pelo declive devem galgar e vencer o abismo
(sem contudo o derrubar)
e já livre do sal que corroí
suavemente refrescar.

Entre ventos e marés...
um simples canal. Próprio.



Foto encontrada neste excelente blogue.
(E grande parte da inspiração também.)

2 comentários:

pecado original disse...

Este é o meu primeiro presente do 4º aniversário do Pecado. Tão bom inspirar e tão bom permanecer.

Um beijo grande Nuno

'stracci disse...

Epá, adorei este!