Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


sábado, 30 de janeiro de 2010

Não estou nada bem. Não me sinto mesmo nada bem. Pareço estar mesmo no fundo. Como algo que ilude ao parecer estar a fazer força para se soltar, mas que se afunda cada vez mais, cada vez mais...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

"Vençe-me. Seduz-me. Fique comigo. Ah, faz-me sofrer!" - James Joyce*

*O último autor que descobri (para verem que sou assim tão inculto). Há muito tempo que não me surpreendia tanto.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

I
Acordei com uma folha em cima da mesa da cabeceira.
Estava cheia de riscos abstractos, muitas cores.
Algumas formas que a mão deixou formar enquanto dormia.

Agarrei a folha de raspão cortando vento
ela que me batia na perna enquanto andava (lembro-me agora
[que quase sem eu notar.)
Atirei-a para cima de outra mesa onde guardo textos para rever.

Corri a janela e deixando o Sol entrar.
Olhei para baixo e alguém havia arrancado o jardim
cortando pelos pés as rosas e deixando as pétalas a cobrir o chão.

II
Desci as escadas a correr (seguro que os degraus já os conhecer
[de cor) e tropecei.
Ainda doendo tirei a mão da cabeça para chegar à maçaneta
e reparei que a porta tinha sido arrombada mesmo que de
[dentro nada parecesse fora de lugar.

Saí à rua tal qual acordei e apenas com o frio e o vento me dei
[conta.
Um carro acelerava ao fundo da rua e travou apenas ao guinar à [direita. (Desapareceu da vista ficando no ouvido a ecoar.)
Do meu plátano as folhas amarelas que há muito ameaçavam
[caem agora às centenas.

A terra remexida seguia o caminho do vento
e dum pequeno monte (Que azar esta coisa dos obstáculos)
uma montanha se formava ao encontrar os meus pés.

Voltei para dentro trazendo terra sem dar conta.
Abri-fechei gavetas enchendo-as de hipóteses, dúvidas.
Pela porta pétalas entravam sem permissão pedir.

III
(Desde aí) entretenho-me pelo jardim: reconstruo-o, procuro
[pistas.
A porta não fecha mas (Que sorte a minha) arranjá-la não desejo
Em compensação as gavetas ganharam outro peso em casa.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

(texto vago; desculpem mas com preguiça de escrever)

Momentos há em que consigo ficar apenas comigo. Geralmente dou comigo sentado - a andar devo-me mandar passear; peço portanto desculpas pouco sentidas a mim - e sinto alguém de lado prestes a entrar, se não me mexer nem pensar em mais nada entra. Dentro de mim cada parte parece ganhar o seu devido espaço e vozes soltam-se, confusão. Caso me consiga manter a confusão desaparece em detrimento duma que talvez deva falar mais alto, ou tenha ganho o respeito das outras, e estas calam-se. Então começa a falar e a falar sem que eu a entenda ao certo - não deve ser falar o que faz - até ser apenas um ponto no centro do meu corpo e que se espalha pelo corpo o peito oprime-se, as palavras são impedidas de sair ou então nem surgem, o sangue ganha outras velocidades, até que através dum espasmo sou obrigado a levantar a cara e abrir a boca como em surpresa, os olhos sobem e olham em redor durante alguns segundos em que depois desperto me despeço e tento recordar tudo o que se passou. Tento chegar ao nível harmonioso em que estava e transportá-lo para a "realidade" e fazer dessa harmonia o meu estado natural, em que o menor objecto levanto pelo vento é ouvido, decoro o alfabeto das formigas, cada toque tem intensidade e as lembranças, essas finalmente chegam, quase que claras de tão fragmentadas que estão.
Gostava de apanhar todos esses momentos não para os escrever - o que não fiz, fui superficial - mas para melhor interagir com a razão que causa esta voz e que tem sido sempre a mesma, que se tem repetido imensas vezes já há muito tempo, e que nesse estado - onde pareço mais eu, como que liberto do que me envolve embora sendo ainda mais perceptível - nesse estado em que me sinto capaz de...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Joy Division



Porque hoje é dia de Control. Filme sobre Ian Curtis, vocalista dos Joy Division. Uma personalidade verdadeiramente única.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

What`s inside? (a tentar escavar...)

Bato a uma porta, bato outra. Ao tocar a minha mão desaparece, tiro-a para trás e ela de novo. Nenhum som, a mão sem marcas. As portas de madeira, já sem cor, crateras a crescer por elas, movendo-se e ragendo ao menor sinal de brisa. Dou passos, olho atrás, as mãos saltam dos bolsos e chegam ao cabelo, dou pontapés em nada para manter equilíbrio. O meu pé direito levanta-se, oiço-o bater; assobio a acompanhar o ritmo. Os olhos sobem um centímetro, apenas eles. Testa enrugada, cabelo suspenso, o nariz desaparece e da boca algo saí mesmo que fechada. Um pé em frente, há outro que o segue; sobem à vez uma calçada. Uma porta com uma janela velha em quadrado. Uns olhos espreitam, está escuro e de dentro nada se distingue. Um dedo avança, e é engolido pela porta. Estende-se a mão, nenhum sinal dela. A cabeça desce, esconde-se dos ombros; cabelos primeiro. A respiração é audível. Depois dos olhos entrarem, uma pausa respeitou-se. A respiração deixa de se ouvir. Segundos depois, estavam uns ténis em frente à porta, em perpendicular com a calçada. Apenas ligeiramente dobrados na zona dos dedos, em esforço.

Para quando os joelhos inclinados e o corpo a subir impulsionado pelos punhos no chão, braços esticados a tirar em seguida o pó às calças, sentir os dedos dos pés livres, firmes. Voltar atrás e do lado de fora tentar o trinco.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Call poetry to a girl

I
Adoraria este verso poder passar
e com ele a ordem que se exige mas aqui não entrou.
Não sentisse eu a necessidade de, em tentativa, (me) explicar.

II
Bato a uma porta (quase sem tocar.) Um adamastor de sopro fino.
De dentro, pareço ouvir uma mão a raspar. Dedos. (Que língua
[é a dos dedos?)
A porta destrancada, ninguém abre.

Cortinas duma janela perto afastam-se, uma mão de cada canto.
Um olhar surge, parecendo reclamar palavras em falta.
Em quatro cinco segundos os meus olhos alheiam-se das regras da
[física.

Uma ampulheta deixa de escorrer apesar de cheia
o meu relógio atravessou o pulso (aonde foi ele?). Desço os olhos,
o corpo inclina-se para trás. O ar volta. Hostil, mundano.

Acordo deportado.
Neste país, as ruas e avenidas deixam cimento e calçada para
[outros
entregando a cada viajante tempo para seus segundos rever.

III
O silêncio ganhou asas
e de tentar subir prendeu-se na última copa,
aí ficando.

Momentos há em que a Natureza de quem
a uma fonte chega e bebe abanando em seguinda as mãos
chego a invejar.

Não houvesse em mim
(seja o que for que em mim há)
e que para além da vontade de beber me suscita a seguir com o
[jorro.

E que agora cria vontade de à chuva correr
e através de cada gota
equilibrar o que em mim esquentando possa estar.

IV
Uma caneta tenta (sem tinta)
deixar marca numa folha (agora longe),
entregue ao vento.

O vento enfia-se no meu ouvido
e por muito que lhe pergunte
nada diz.

V
Com essa caneta (para além de me esconder como escondo)
poderia, fraco, tentar desculpar-me
e com elas (pouco) ou nada mudar.

Tentar abrir um novo dicionário
(com o teu nome em cabeça, os teus olhos em imagem)
e a cada nova palavra me descurar do que realmente pretendo.
[(Realmente já tarde...?)

Mas o meu poema és tu.
E por ser ele quem é
penso ser ímpossível (e absurdo) algo mais se acrescentar.

Tu não me conheces. Eu não te conheço. Nem uma palavra.
Descobri teu nome, desconfio que sabes o meu.
Se não souberes, pergunta aos teus olhos. Estou certo que eles
[sabem. (Aí me voltarei também a descobrir... e perder.)

VI
Num tabuleiro de Xadrez
peões mexeram-se para não perder (Medos?)
ainda que com a esperança que outros chegassem desejosos de
[vitória.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ruas do Chiado; Miradouro do Adamastor

À entrada um homem perguntou se eu queria alguma coisa, sorriu e moveu a mão dentro do bolso. Virei-me devagar, disse um "não" normal e segui em frente. Apesar de termos ficado amigos pensei que talvez devesse ter-lhe dado mais um segundo de atenção. Continuei a descer as escadas em direcção à minha droga, aquela que me tinha chamado a atenção quando passava pela rua principal e por um cantinho encontrei umas arvorés altas no que parecia ser uma espécie de jardim no final duma colina, acertei. Em prespectiva o Tejo, enorme, dele vindo um som - não sei bem do quê, apostei em barcos - que ali se potenciava no ouvido, som suave, búzio industrial talvez ajudado pela altura a que estava. Havia uma esplanada mesmo atrás, com um quiosque próprio de jardim, não me interessou. Perto duma pequena grade a fazer de muro, baixei os olhos e casas apareceram aos meus pés, antigas, pós a cair e com eles gerações, daqui a uns anos pensei que aquilo tudo limpo para mais prédios sem arquitectura nem história. Havia grupos de universetários sentados no chão, alguns fazendo roda e no meio deles ganzas acendiam-se, pares em bancos de jardim, guitarristas amadores a apoiar um cantor em potencial, fotográfas captam imagens que ninguém irá ver. Jovens estrangeiras - cabelo loiro e línguas, talvez, nórdicas - a passear o cão, desempregados, intelectuais, raparigas de coração despedaçado, idosos a cumprir tempo. Num banco uma rapariga defendia ferverosamente o direito dos casais homossexuais à adopção, um rapaz ouvia-a com a mão de volta de mortalhas. Um estudante de jornalismo chegou e veio ter comigo, trazia um microfone e disse que estava a fazer um trabalho sobre este local - que apesar de há tão pouco o conhecer ter logo reparado em algo especial -, perguntou o porquê dali estar, quais eram alguns dos meus planos para o futuro, e que relacionasse a estátua do Adamastor - que estava mesmo atrás de mim - com os problemas que os jovens enfrentam hoje em dia; tipo fixe, pelo jeito que tinha para falar e a prespicácia até se pode safar; andava de ilha em ilha. Escrevi isto, e deixe-me estar, sentado, a ver o rio e com o seu som nos ouvidos.
Os olhos rolavam por todo o lado sem pensar em nada, e tudo desapareceu. Sozinho comigo, comecei a lembrar-me de alguém.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Já me tinha esquecido do quão difícil era, e ainda por mais com o nível de exigência a que me propôs; nunca antes dei tanto a escrever, cheguei mesmo a sentir-me diferente. Custa tanto chegar a um nível em que as palavras começam a aparecer, e todo se junta facilmente, cada peça em cada sítio. Tudo somado, já deve ter riscado centenas (a chegar a milhares) de palavras e gasto umas 6-7 horas para ainda ter, numa versão não definitiva, duas pequenas estrofes, 3 versos cada.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Tenho uma resma de folhas riscadas na procura dum poema perfeito sobre uma pessoa - e, quem sabe, para. Ele está por aí algures, por debaixo do que escrevo, à espera do momento em que o mereça. Tenho de chegar lá, tenho de chegar lá.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Is someone getting the best of you?

Ao contrário de muita gente, não considero esta uma grande banda - mesmo sendo do melhor que se faz nos dias de hoje. No entanto, tenho de concordar que esta música é, na minha opinião, mesmo muito boa, e sempre foi capaz de me tocar, apesar de, só agora, a começar a perceber realmente... Excelente letra.



I’ve got another confession to make
I’m your fool
Everyone’s got their chains to break
Holdin’ you

Would you born to resist or be abused?
Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Are you gone and onto someone new?

I needed somewhere to hang my head
Without your noose
You gave me something that I didn’t have
But had no use
I was too weak to give in
Too strong to lose
My heart is under arrest again
But I break loose
My head is giving me life or death
But I can’t choose
I swear I’ll never give in
No, I refuse

Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Has someone taken your faith?
Its real, the pain you feel
You trust, you must
Confess

Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Oh...

ooooh,oh,oh
ooooh,oh,oh
ooooh,oh,oh
ooooh,oh,oh
Has someone taken your faith?
Its real, the pain you feel
The life, the love
You'd die to heal
The hope that starts
The broken hearts
You trust, you must
Confess

Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?

I’ve got another confession my friend
I’m no fool
I’m getting tired of starting again
Somewhere new

Would you born to resist or be abused?
I swear I’ll never give in
I refuse

Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Has someone taken your faith?
Its real, the pain you feel
You trust, you must
Confess
Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
aaaaaaaaaaaaaaah!!

domingo, 3 de janeiro de 2010

My ego again



(Private Joke: Mafalda, pelo que me consta, este também deve corresponder aos teus padrões. :P)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Nada

Tinha frases bonitas para deixar aqui mas não
que diferença faz a sintaxe (e que desde a escola primária não
                                                                             [sei o que significa)
A escolha de palavras que possam aglomarar atrás delas centenas
tornando essas centenas invisíveis visíveis numa única máscara.
Jogos de palavras que só fazem sentido num determinado
                                                                               [contexto
sinceramente, não sei.


Tinha aquilo que alguns poderiam considerar, iludidos em relação ao meu propósito, conselhos.
(os quais nem eu sigo)
E mesmo que muito possa falar sobre eles
(o quanto já falei eu de amor, afastando-me dele?)
poderiam até - o mais certo - nem válidos ser.
Resquícios de dor em forma de flecha.


Tinha ainda frases que poderiam chocar mas não as ponho,
teorias apanhadas na rede, lado a lado com trutas e sardinhas.
Anseio por topos de montanhas gastas
só rocha e vento frio na face, sem os olhos conseguir abrir
(deles podendo dizer que se não os abro não é essencialmente por
                                                                                       [não querer)
Anseio por ilhas onde me perderia ao lado de animais cujo nome
                                                                                     [desconheço
areia a escapar pelos dedos, de repente a palma vazia
Anseio por tudo branco, como se duma qualquer primeira vez se
                                                                                              [tratasse.
(talvez esquecendo-me como qualquer primeira vez possa ter
                                                                                              [sido)


Cego, erro sem a nada tomar gosto.
Que posso saber sobre o mundo?
(que sabe o mundo sobre mim?)
Que posso saber sobre mim?
(sobre... quem!?)
Eu que do mundo posso dizer que quase não penso
e de mim quase nem falo, pelo menos de verdade.
(e curioso ao haver quem até das suas cobardias se orgulhe, anunciando-as bem alto ao mundo, talvez por parecer racional)
Trapos apanhados no chão para vestidos de palhaço.


Entro em rodas com o que no momento aparece
desgastando o que sempre por aqui cá esteve, rebolando por divisões.
Uma casa com paredes velhas que vão abaixo
deixando o que por dentro há contra ventos e chuvas,
as paredes que ainda restam cair,
ficando um chão com miragens por enfrentar.


Sem areia na mão, esses grãos que com o vento fogem
e me riscam a cara no topo de uma montanha
dizendo assim que não é no topo de uma montanha que estou.

Esse topo que, neste momento, até sei qual,
mas não vejo como o escalar sem nele criar deslizamentos se cair.
Um olhar desolador sobre materiais que me circundam e não
[voltam já
mais forte que qualquer fractura.