Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


terça-feira, 3 de março de 2009

Estudos sobre Pintura

Na faculdade onde ando existe um curso de Artes Gráficas e hoje houve inúmeras alunas que vieram para o jardim pintar, mas uma despertou-me expecialmente a atenção pois preferiu sair do Jardim e ir sozinha sentar-se num pavilhão que está um pouco mais afastado. Isto fez-me lembrar a forma como posso ligar a Pintura à escrita, coisa que muitas vezes tento. No caso da Pintura, os nossos olhos devem funcionar de maneira diferente e não retratar o que está á nossa frente mas essencialmente tentar o que falta fisicamente mas que ao mesmo tempo existe no nosso espaço mais intimo e conseguimos imaginar. Eu não percebo nada de Literatura e muito menos Pintura, mas quando leio tento procurar essencialmente as palavras que não estão escritas mas que ao mesmo tempo estão lá, imagino-me assim a criar um novo texto. Isto torna estas duas áreas muito iguais. Apenas o resultado é diferente. Mas, enquanto considero a escrita mais introspetivo, vejo o desenho algo mais próximo dos Deuses, algo transcendente. Os olhos, ou seja, a visão, são a grande diferença, é dificil pintar com eles tapados, mas escreve-se muito melhor quando está escuro e não nos deixamos influenciar pelos erros que já cometemos, ou quando já se esta naquela fase antes do sono, onde quem manda já não é bem a nossa vontade mas sim as palavras. Chegam a escrever-se quase por si próprias, como se tivessem vida, a minha mão não passa dum simples instrumento. Como se já estivesse num sonho e tudo se passa-se sem razão. Isto impede-nos de errar mesmo errando.
A minha vontade era chegar ao pé dessa rapariga e dizer-lhe isto, mas não fui. Não por ter medo de parecer maluco, mas porque se estivesse a escrever não gostava que me interrompessem. E apesar de não ter visto nenhum dos quadros, o único que me despertava atenção era o dela pois foi a única que quis aspirar ao silêncio. E ao contrário das outras, olhava a maior parte do tempo para ao papel e não falava com ninguém.
P.S: Desculpem, não percebo nada disto. Mas enganando-me a mim próprio, talvez seja essa a minha força.

8 comentários:

U disse...

Não percebes? Se eu pudesse partia-te agora o nariz -.-
Escreves aqui uma coisa tão real e dizes que não percebes, oh! Ei, olha já tinha saudades de ler os teus textos, apesar de este não estar abstracto, atrai-me na mesma, pois está descritivo. Pimbas xD *

maria miguel disse...

"Os olhos, ou seja, a visão, são a grande diferença, é dificil pintar com eles tapados"
gostei :)

quero sim! como me mandas o regulamento? *

maria miguel disse...

já tirei da internet (:

Aubergine. disse...

partilho da tua opinião (:

Aubergine.

Aubergine. disse...

é um dos meus projectos de vida, um dia, hei-de realizá-lo, um dia...

Aubergine. disse...

Sim vi, mas já era um sonho antes disso, a propósito: muito bom filme ;)

Acho que ser escuteira ainda me alimenta mais esse bichinho .

Parabéns pelo blog, nunca te tinha dito acho eu, muito bons os textos *

Unknown disse...

o sonho do poeta (e do pintor) é dizer tudo sem dizer uma só palavra! ao ler este teu texto de hoje vieram-me à cabeça estas palavras...um beijinho *

madu disse...

Para mim a pintura é uma das melhores formas de expressão. As tuas observações são reais. Gostei muito do texto:)