Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


sábado, 12 de dezembro de 2009

Caleidoscópio

Perdi-me num tubo onde imagens mudam de posição em função do olhar. O meu corpo inclinadinho numa cadeira nem sonha que o deixei, a mão esquerda quase que roça o chão, os olhos deixaram escapar qualquer coisa que foi aspirada para um tubo e de seguida fecharam-se, uma mosca ronda-lhe os ouvidos mas não acorda. A partir duma pessoa que foco ao fundo, as imagens vão-se movendo em espiral, aumentando cada vez mais os braços, passando enormes por mim, de todos os lados. O jogo de cores tem-me feito perder, como correr de olhos fixos em direcção o SolPasso então às mais variadas reacções, desde sentar-me com a mão no queixo, olhando de vez em quando para ver se a apanho de surpresa e encontrar por lá qualquer coisa deixada por engano, ou até correr pelo tubo fora, de olhos no foco, indo de frente contra a confusão de cores e luzes, sem me lembrar sequer que respirar pode ser essencial, e, por pena minha, deixando algumas imagens para trás, dado só notá-las depois, quando a distância teima em manter-se. Dou um grande suspiro, tento respirar e por vezes a tosse surge, as imagens parecem passar mais depressa, envolvendo-me. Os olhares que lanço ao foco não parecem encontrar ninguém. Levo a mão à cabeça, baixo-me, e sinto algo a tentar escapar em forma de água.

As imagens vão passando e a qualquer uma dá vontade de agarrar e poder ver tudo o que têm dentro. Ao jeito duma mão que se molha num rio, baixar-me devagar para sentir a corrente, tentar pegar numa gota e vê-la de todos os ângulos, aproveitando o Sol para formar um arco-íris, um pequeno diamante, enquanto o resto da mão está molhada, a gelar-se devido ao vento, sem que com isso me importe, pois com a outra mão já vou passando ao de leve, com um dedo. Mas com isso as restantes perdem-se, deixo de as ver, mesmo às que tentam reagir a essa paragem. Pode mesmo haver o risco de o tubo escurecer aos poucos, e do foco já nenhuma imagem ver, mesmo que insista, mentalmente, recordá-las e tentar visualizar as cores.

Gostaria de chegar ao foco sem perder uma única imagem nem me deixar confundir com as cores, e aí seguir, já fora do caleidoscópio.

1 comentário:

MafaldaMacedo disse...

Nuno vais ao msn hoje? *