Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Casulo

I
Um soalho onde faltam tábuas (outras ganham-lhes saudades)
     onde o som aparece, subindo baixando lascas
dando aos pés o alerta em relação aos espaços.

O carreiro que as formigas seguem - e que hoje é menor e menor.
Por sorte
deixam-se de notar ao crescer dos estalidos.

Tal como a tinta que das paredes se solta
- em consequência do apoio que o meu corpo suplica aos braços (efeito estranho) -
encravando-se nas unhas.

E uma voz aparece (com o tempo aparece ou eu faço aparecê-la)
perguntando-me que figuras são essas que eu faço na calçada.
- Sujeitas ao crivo dos senhores que se entreteem a oferecer camisas brancas de mangas grandes - (as quais por curioso que pareça se fecham nas costas.)
Parando então aí para com quem me chamou seguir viagem.
(Em passos dados junto de tantos outros que nunca mais voltarei a ouvir.)
Com as imagens da sala - que aos meus pés caía - no pensamento
voltando de repente quando num mudar de direcção alguém se lança sobre mim.

II
E aguardo em desespero o tempo em que se instale o Silêncio.
Silenciadas as vozes (não calar, apenas atingir outras que transmintam calor)
montar o meu mundo, com esperança que caiba na calçada.

2 comentários:

MafaldaMacedo disse...

oh nuno lembraste-te :) muito obrigadaa *

estás melhor?

MafaldaMacedo disse...

Sonhei contigo hoje, ahah