Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

o chão folhas, pequenos galhos
papéis que anteriormente algo
por hora segregando
- mesmo sem que ninguém perto -
que das gotas sinal algum
e estas bolsas razão outra

e assim certo que a chuva um outro plano
- juro que a chuva lá fora um outro plano -
próprio de sapatos ensopados, e fora
artimanhas associadas à arte de galgar janelas
pontos no vidro à socapa que se agigantam a ilusões de óptica
não esquecer, contudo, as correrias, o splash
os risos incompreensíveis de quem as gotas compreende, eu não
dado que pela mesma fonte eu não aqui

vozes jorrando, o meu ouvido maior - outro lugar -
ondas em propagação, uma abertura
e num instante adeus - agora sim, a chuva -
o olhar mudo de pescoço estendido, um segundo
pertencente à janela de trás de qualquer táxi
táxi esse que não reconheço, condutor não vi
e o adeus reforçado, o adeus repetitivamente
a minha memória o adeus
sendo que o adeus também um rosto
e o rosto um anterior sorriso, sons com o sorriso
expressões gestos vozes

um peso a chuva, a chuva um peso
as gotas em suspenso, queda nenhuma

voltando atrás, talvez galhos o chão

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