Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


segunda-feira, 25 de maio de 2009

(...)
Um pouco de pois passei por um café e achei por bem comprar uma garrafa de Vodka, saí sobre o olhar incriminador do empregegado e de dois clientes sem me importar. Andei uns metros e enfie-me num beco. Sentei-me e fiquei uns minutos - sim, uns minutos, meia-hora talvez, nunca mais que isso - de volta da garrafa. Devo admitir que não customo beber muito e de início o gosto era insuportável, além de estar um pouco quente. Mas o que tinha de ser e o ar foi ganhando outra dimensão aos poucos.
Depois de acabar, lancei a garrafa contra uns caixotes do lixo que ali estavam e pareceu-me ouvir estilhaços.Inclinei a cabeça para cima e convenci-me que era capaz de fazer mover o prédio onde me apoiava, bastava crer. Um gato denunciou um caixote a cair, pena não ter sido a tempo. Levantei-me e segui para as traseiras do prédio, pois, sem saber porquê achei que deveria começar por lá. Olhei para a parede, estava a tinta vermelha "Amt Katia", em baixo um "xD" enorme. O gato ainda suspirava, com medo que ficasse muito tempo na minha cabeça passei por ele e acabei com aquilo. Tropecei no caixote e fui-me apoiando no muro, começava a sentir um pouco mal disposto. Concentrei-me, - o máximo possível- lembrei-me de flectir as pernas mas não tenho a certeza se fui capaz, e comecei o trabalho. Ao inicio parecia-me mais difícil do que pensava, mas não desisti - quando meto alguma na cabeça, não sou de desistir. Talvez uns 5 minutos ali. Parei a pensar no que estava a fazer de mal. Parecia-me inadmissível, nem um milimetro. O "xD" decerto a gozar comigo. Bastaria-me apaga-lo e era um instante. Não tinha nada à mão, ir a casa daria muito trabalho, não me parecia correcto pedir a alguém, - cada um com os seus, não é verdade? - além de ter de ir procurar alguém era um pouco contra a minha honra - nunca por falta coragem ou humilhação, honra - mas a verdade é que não sabia por que lados procurar, a parede sem se mexer. Eu com o meu sonho - momêntaneo - por cumprir.
Apoei-me na outra parede, com o meu estomago a vingar-se, deitado no chão, mirando entre espécies de nevoeiro o "Amt Katia". Sentia-me mal da Vodka, de certeza que era da Vodka. Ainda agora, pareço ter ainda um gostinho esquisito na língua. A sensação acompanhou-me a noite toda. Pior que isso só o prédio por mexer, um milimetro que fosse.
(...)

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