Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Desabafo

Estou há muito em cima duma linha e não sei quanto mais posso aguentar. Se cair, sei que, e tendo em conta o que se julga ser bom nesta sociedade, me darei bem. Sempre me soube desenrascar, sempre me dei bem sozinho, no máximo admito estar metaforizado nos textos que invento, aí exponho-me, adoro jogar comigo em pequenas coisas, da mesma forma como adoro descobrir os outros atrás de pequenas linhas, de uma ou outra palavra, sou até capaz de apostar a sua expressão corporal enquanto escreviam tal coisa, risos, lábios trincados, olhares baixos, mãos na perna que sobe na cadeira e se procura esconder; a imaginação dos outros fascina-me, a minha é demasiado geral. Raramente peço conselhos e nunca - deixo aqui um pequeno aparte pois a memória pode ser traiçoeira - chorei os meus sentimentos à frente de alguém a pedir apoio, não é quem sou. Mas agora estou farto, quero que se foda toda a teoria, os julgamentos e quem julga. Ou melhor, nem quero isso, apenas que me deixem em paz e me deixem viver a vida à minha maneira, mesmo que ao não fazer o que julgam estar certo possa-me dar mal, sinceramente não me importa assim tanto. Talvez seja da idade, sei que isto pode parecer um pouco fatalista, mas o medo de acabar mal não existe em mim, os meus 19 anos sempre me deram muita força, por vezes meto-me a correr feito um louco até chegar ao limite e mesmo quando chego não paro. E o que dizem também não me importa assim tanto, a não ser que influencie directamente na minha vida. Um dos sentimentos que raramente tenho - não me lembro da última vez que o tive - é inveja, e nunca me conseguirão enervar a sério por terem qualquer coisa que eu até poderia querer. Nem de outras formas é fácil, por vezes o meu irmão, mete-se a brincar comigo a pensar que eu possa ser do PCP ou do BE - não sou, embora não negue algumas afinidades com o BE, mas não sou - e então fico calado a ouvi-lo, a rir-me enquanto ele critica as ideias económicas desses partidos, os jovens desses partidos, "é pessoal que não interessa a ninguém", diz-me a brincar, por vezes também entro na brincadeira, pois aí já-me é mais pessoal e os nervos sobem um pouco, e começo a gozar com os "betinhos" da JSD e da JP, ou seja, e perdoem-me a generalização, aqueles gajo que andam de camisa a mostrar os pelos do peito à Paulo Portas, cujos professores iam aos domingos a casa dos papás para convívio, que andam com uma loira atrás para daqui a 10 anos espancarem-na, e que agora serve acima de tudo para os levantarem quando estão bêbados - os rapazinhos não levantam mais nada. Mas eu quero, acima de tudo, distância disso, não me interessa nada disso por muito que me chateiam a cabeça. Aliás, esse é pessoal que me enerva, detesto ideias fixas, nada a fazer. Mas também, quando lhe digo isso a brincar, sei bem que ele não é nada assim, tenho orgulho de ser irmão dele, e isto também não passam de generalizações. Quero viver a vida à minha maneira, duma forma mais calma, interessa-me muito mais o contacto humano, não necessariamente as ideais - de qualquer tipo, nem que seja aquela gente que se põe a teorizar excessivamente sobre a arte, acho que os pequenos toques devem ser principalmente descoberto, se não fica mais difícil perceber como se chegou a essa simplicidade - ou o conforto material - embora não me importe nada com ele, apenas não o quero como símbolo de qualquer coisa atingida.
Acho que a linha abana porque há muito não é fortalecida, o balão está a dar as últimas e preciso de mais oxigénio, e para isso acho que a minha ida para Lx será fundamental - pena ser só na 2ªfase -, novas experiências, novas pessoas. Não me quero esconder, preciso de algo novo - acho mesmo que alguém -, uma emoção - preocupa-me muito a minha actual incapacidade de as criar. Sei que se cair, também não serei o oposto, mas não serei nada, serei mais um no vazio, e eu quero fazer mais, não apenas para mim, seja de que maneira for. Mas primeiro, necessito do ponto de partida, do abrigo, embora tenha de ser mesmo real, caso contrário não sou apenas eu a ser enganado.
Agora ainda estou em cima, mas a linha abana cada vez mais. Quero sentir o perigo apetecível das emoções contraditórias e crescer a partir daí, apenas a partir daí.

Sinto que falei muito sem dizer grande coisa, mas também tenho pensado tanto sem sair nada.

7 comentários:

pecado original disse...

Que Lx te faça tão bem como em qualquer outro lugar, porque o que interessa é te manteres na tua própria linha, como penso, teres feito até aqui.
A universidade deve ser dos nossos melhores momentos, aproveita imenso e mantém esses bons sentimentos.

;)

MafaldaMacedo disse...

é uma escada sem corrimão a que subimos dia-a-dia. talvez uma ideia errada, mas acho que algures aí também não precisavas de um, mas sim de uma mão estendida.

Marisa Fernandes disse...

Tens certamente à tua espera grandes anos, neste novo caminho que se prepara para começar.
Desejo-te a maior sorte. E, já agora, o que pretendes estudar? :)

MafaldaMacedo disse...

É bastante mais complexo, uma história-drama, retirada de um guião de uma novela de cortar á faca mais pareçe. é uma mão que já agarrei mas larguei. é uma mão que me está estendida mas exige demais, e por mais que me encante a sua bondade genuina, o querer mais torna-la também cruel, e entre o tudo e o nada, fui 'obrigada' a escolher o nada.

E faço, já agora, a mesma pergunta que a Laranjinha.. universidade, para especificamente o quê? :)

MafaldaMacedo disse...

Hum.. então ainda não sabes bem para que lado vais ao certo? ainda que ache fantástico conseguires entrar numa universidade, eu espero bem não precisar de ir para uma. Mas estou mesmo a ver que tem de ser, hoje em dia ser tecnico não é nada, quanto que um mestrado ou assim já é mais qualquer coisa. Não tenho grande espirito universitário, e já ter perdido dois anos no secundário regular só me faz sentir que nunca mais largo os livros e começo a trabalhar !

Á disse...

Vou ser super sincera. Gosto imenso dos teus textos e da maneira como escreves. Não te vou dizer que os li todos e que venho cá diariamento porque é totalmente mentira, mas todos os textos teus que li, gostei. Sinto-me um pouco ridicula por estar a confessar isto xD
Mas acho que este texto diz muito sobre ti e a tua maneira de ser.
As viagens são optimas para tudo, mesmo.
Espero que essa corda fique um pouco mais estavel. :)

Á disse...
Este comentário foi removido pelo autor.