Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


domingo, 25 de janeiro de 2009

Um pequeno trecho do que ando a fazer

"São esses os traços que me prendem, que me lembram do presente pois, para a minha mente, tal espaço não existe, não pode simplesmente existir. Os muros deparam-se demasiado grandes (realmente, muros?... que falta de imaginação!) para quem gosta de saltar e bater com a cabeça. O passado, ou que julgo que seja; pior ainda, o que, para meu contentamento, desejo que tenha sido; está presentemente em mim não apenas como recordação mas como influência constante em qualquer pensamento, em qualquer acção, mesmo na mais simples. Até ao virar a rua recordo-me como a atravessava sem hesitações, sem Tempos!, o quão inexplicável me parece agora, sem os Tempos… Mesmo para o mais simples gesto com a mão; abrir uma porta, segurar um qualquer objecto, procurar um livro, etc.; já não é mecanicamente como antes. A minha mão tem de ter a certeza que o meu cérebro ainda existe, tende a interligar-se com ele, fazendo acontecer o contrário: provar a existência da minha mão. De que ainda se encontra algo no espaço que penso lhe estar reservado e deixe de vislumbrar outra coisa que não o complemento do meu membro: uma coisa que nem nada me parece ser, pois fosse nada, teria a beleza decente de nem chegar a existir, de não me ocupar com ela. Mas neste espaço algo ousa existir; vazio ou não: existe; e assusta-me precisamente por isso, por não saber do que realmente é capaz; o que realmente sou e faço: a ideia de não passar dum corpo que já não responde em conformidade com a alma. Pois agora não consigo tirar de mim a sensação de já ter sido outro, de ter feito coisas diferentes; da minha mão: ter feito coisas diferentes, talvez, quem sabe, apenas essas verdadeiramente úteis, reais…num tempo, esse sim: real."
P.S: Gostava duma opinião realista

3 comentários:

Á disse...

Gostei do teu texto. (Desculpa lá)
Acho que escreves bem :)

U disse...

' o que realmente sou e faço: a ideia de não passar dum corpo que já não responde em conformidade com a alma. Pois agora não consigo tirar de mim a sensação de já ter sido outro, de ter feito coisas diferentes; da minha mão: ter feito coisas diferentes, talvez, quem sabe, apenas essas verdadeiramente úteis, reais…num tempo, esse sim: real.'

achas que não consegues voltar a ser o que eras?
Uma opinião realista: acho que todos passamos por essa fase, a maturação e o medo de confrontar situações de maneira diferente.

U disse...

Hmn. Várias personalidades?