Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


domingo, 31 de maio de 2009

Dumb


I'm not like them
But I can pretend
The sun is gone,
But I have a light
The day is done,
I'm having fun
I think I'm dumb
Or maybe just happy

Think I'm just happy

My heart is broke
But I have some glue
Help me inhale
And mend it with you
We'll float around
And hang out on clouds
Then we'll come down
And have a hangover

Have a hangover

Skin the sun
Fall asleep
Wish away
soul is cheap
Lesson learned
Wish me luck
Soothe the burn
Wake me up

I'm not like them
But I can pretend
The sun is gone,
But I have a light
the day is done,
I'm having fun
I think I'm dumb
Or Maybe just happy

Think I'm just happy


I think I'm Dumb

quinta-feira, 28 de maio de 2009

(não liguem, pequena dúvida, nada mais; mas se quiserem, podem responder da forma adequada à pergunta:com estupidez)

Se uma pessoa não têm medo de morrer, não encontra sentido na vida (isso seria aceitar que estava errado, o que não quer dizer que não esteja mas prefere assim), e se lhe fosse dado a escolher a imortalidade, aceitaria porquê? (é que neste caso, a paz deveria ser o essencial, ele sabe-o)
Vingança?
...?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

(...)
Um pouco de pois passei por um café e achei por bem comprar uma garrafa de Vodka, saí sobre o olhar incriminador do empregegado e de dois clientes sem me importar. Andei uns metros e enfie-me num beco. Sentei-me e fiquei uns minutos - sim, uns minutos, meia-hora talvez, nunca mais que isso - de volta da garrafa. Devo admitir que não customo beber muito e de início o gosto era insuportável, além de estar um pouco quente. Mas o que tinha de ser e o ar foi ganhando outra dimensão aos poucos.
Depois de acabar, lancei a garrafa contra uns caixotes do lixo que ali estavam e pareceu-me ouvir estilhaços.Inclinei a cabeça para cima e convenci-me que era capaz de fazer mover o prédio onde me apoiava, bastava crer. Um gato denunciou um caixote a cair, pena não ter sido a tempo. Levantei-me e segui para as traseiras do prédio, pois, sem saber porquê achei que deveria começar por lá. Olhei para a parede, estava a tinta vermelha "Amt Katia", em baixo um "xD" enorme. O gato ainda suspirava, com medo que ficasse muito tempo na minha cabeça passei por ele e acabei com aquilo. Tropecei no caixote e fui-me apoiando no muro, começava a sentir um pouco mal disposto. Concentrei-me, - o máximo possível- lembrei-me de flectir as pernas mas não tenho a certeza se fui capaz, e comecei o trabalho. Ao inicio parecia-me mais difícil do que pensava, mas não desisti - quando meto alguma na cabeça, não sou de desistir. Talvez uns 5 minutos ali. Parei a pensar no que estava a fazer de mal. Parecia-me inadmissível, nem um milimetro. O "xD" decerto a gozar comigo. Bastaria-me apaga-lo e era um instante. Não tinha nada à mão, ir a casa daria muito trabalho, não me parecia correcto pedir a alguém, - cada um com os seus, não é verdade? - além de ter de ir procurar alguém era um pouco contra a minha honra - nunca por falta coragem ou humilhação, honra - mas a verdade é que não sabia por que lados procurar, a parede sem se mexer. Eu com o meu sonho - momêntaneo - por cumprir.
Apoei-me na outra parede, com o meu estomago a vingar-se, deitado no chão, mirando entre espécies de nevoeiro o "Amt Katia". Sentia-me mal da Vodka, de certeza que era da Vodka. Ainda agora, pareço ter ainda um gostinho esquisito na língua. A sensação acompanhou-me a noite toda. Pior que isso só o prédio por mexer, um milimetro que fosse.
(...)

(...)

Uma mulher (recorrendo a um vocabulário mascúlo: nada má) passou por mim com olhar e sorriso convidativos. (digo já que o que a condenou foi o sorriso, com os olhares gosto de jogar, têm é de saber, mas nisso também não tinha muita imaginação) Eu esforcei-me ao máximo para acentuar o olhar insensível que já trazia, (os meus olhos, tal como a generalidade do meu rosto, quando não revelam um ar apagado ou enternecido, - e é difícil apanharem-me nestas situações - ou são insensiveis ou surpresos) mantive-me direito, caminhando calmamente e sempre na mesma direcção, passei lado a lado, dando ainda para ouvir uma cusquice da amiga que ia com ela, mas sem a perceber nem me importar.
(Insensível...?
Talvez, mas se não me interessou porquê não ser sincero e acabar logo.)
Come as you are:

sábado, 23 de maio de 2009

Manuela Moura Guedes Vs Marinho Pinto


Adorei! Não apenas a defesa pela defesa dum jornalismo melhor - é difícil ligar a palavra jornalismo quando esta senhora está por perto - mas também pela defesa dum visão mais objectiva, imparcial e construtiva. (embora também não morra de amores por este senhor, mas neste caso esteve muito bem)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

- (...) o que eu queria era ter alguma paz.
(...)
-(...) eu só quero ser homem.
- Sou menos ambicioso
Camus in A Peste

segunda-feira, 18 de maio de 2009

"Os Domingos são horriveis para mim" - capítulo 4 - 21:00

(...)
Eles discutiam onde ir a seguir.
O pintor contava-me a história dum conhecido seu que, todas as segundas feiras, mandava a si próprio uma carta. Tirou do bolso um apontamento e leu:
«Caro José,
Venho por este meio informar vossa excelência de certos factos do seu comportamento que muita anpreensão me têm causado. Devo informar-lhe que este acto é para mim, como imagino para a sua pessoa, um acto penoso de consciência. Mas, na qualidade de amigo de longa data, considero ser do meu dever apontar a vossa senhoria uns pequenos reparos sem, com isto, ter a menor ponta de preteensiosimo.»
E continuava sempre neste tom, sempre com esta introdução, descrevendo inúmeras situações dessa semana que o apoquentavam. No final da carta deixava, igualmente, uma deixa, sempre a mesma:
«Acho necessário mais uma vez relembrar-lhe que, estando longe de mim qualquer sentimento menos digno da nossa longa amizade, limitei-me a fazer o que, no meu âmago, sentia ser meu dever. Bem sei que pode questionar a minha moralidade para tal gesto, mas há coisas a que um amigo se sente obrigado mesmo não querendo. Tudo, e digo isto sinceramente, para o que neste momento considero ser o melhor para seu bem enquanto pessoa equilibrida como o considero.
Dispeço-me atenciosamente,
Um Amigo»
A carta chegava às terças; quartas nos piores dias. Lia-a atentamente, voltava a dobrá-la com cuidado e guardava-a numa gaveta onde customa guardar os documentos mais importantes. Chegava a Sábado e queimava-a.
Deixou de fazer isto quando um vizinho descobriu tudo e espalhou a notícia.
(...)

domingo, 17 de maio de 2009

Desculpa

Decidi escrever este post mesmo sem saber se estou certo ou não no que deduzi, mas a minha consciência matava-me se não o fizesse.
È sobre o meu texto anterior no qual penso que posso ter chateado alguém sem ser a minha intenção, mas principalmente, sem essa pessoa o merecer. Espero não me alongar muito, apesar de querer ser o mais justo possível.
O que escrevi ontem não teve como objectivo tocar ninguém nem foi inspirado em ninguém. Ninguém se não eu próprio, tal como tento sempre fazer, escrever essencialmente para mim e sobre para me tentar conhecer ao máximo. Admito contudo que também tento que haja quem possa gostar do que possa escrever, por isso dou sempre o meu melhor.
Mas talvez não tenha sido o tão justo como deveria ontem. Apesar de ter dado apenas uma visão, tenho de ter noção - e agora tenho - que a forma como escrevi induzia em erro facilmente, quase como se quisesse criticar o Amor e quem ama ou pretende amar.
Não estou certo do que vou dizer a seguir, mas acho que essa carcterística, essa capacidade de amar da forma como qualquer merece assim que se entrega a outro; o direito de ser amado; bem, essa característica, acho que pelo menos por agora, não a tenho comigo. Sinto-me seco por dentro e parece que nem me tenho preocupado muito com isso. Mas isto sou eu, e não devo chatear ninguém só por estar (ou ser) limitado nesse capítulo. E por saber disso, não procuro ninguém, nem me parece que por agora precise de ninguém, e por isso não acho justo que estivesse com alguém sem amar essa pessoa. E foi essa característica, um pouco desumana em mim reconheço, que me traiu para criar essa visão - que mesmo sendo horrível, têm-se o direito de escrever , mas sem que procure levar ninguém nessa onda, cada um deve produzir os seus próprios racicíonios, e eu, devo limitar-me a um ponto de vista.- E foi esse ponto de vista que pode não ter agradado a alguém - sem ser essa a minha inteção.- E como acho que a culpa é minha - pois deveria ter revisto o texto mais vezes, coisa que fiz um pouco mais tarde - acho que devo apresentar um pedido de desculpas. Um pedido de desculpas principalmente a quem possa não ter gostado e com toda a razão, mas também a todos os que leram o texto. Quanto aos últimos, desculpa por não ter logo apresentado um texto um pouco melhor - apesar das ideas, essas, se manterem no seu geral, pois continuo a achar que é um ponto de vista, o que mudei foi principalmente a parte técnica, a escrita.
E tudo isto porque, apesar de talvez nem amar alguém consiga - pelo menos por agora, e não me falem da idade por favor, apesar de ter apenas 19 não me considero imaturo, é apenas algo em mim que vêm de há muito e não consigo soltar - não consigo estar mal com quem considero amigo(a), nesse capítulo sou incapaz mesmo. Principalmente quando sei que teem razão, mesmo que possa não concordar inteiramente.
Desculpa.
Desculpem.

sábado, 16 de maio de 2009

"os domingos são horriveis para mim" - capítulo 1 - 18:00

(...)
a minha namorada dizia-me que tudo o que queria era ser feliz e que, segundo ela, sem mim não seria capaz. eu disse-lhe que não percebia o porquê. expliquei-lhe que via de outra forma e para mim há outros assuntos bem mais importantes como crianças em Africa, injustiças na América Latina, e sentia-me culpado por não poder fazer practicamente nada para os tentar resolver, e esperava um dia ir a esses locais, se possível num futuro próximo enquanto me sinto jovem e cheio de força. ela disse-me que apesar de ter muita pena, também ela não podia fazer nada para melhorar a situação, viu que eu permanacia indiferente enquanto a ouvia e enervou-se dizendo que sinceramente nem lhe interessava muito pois também dela ninguém queria saber e eu era o principal culpado nisso, seria capaz de tudo por mim mesmo eu não a amasse tanto como ela, estar comigo já seria bom. ela disse que o que gostava, entre outras coisas, era que eu perdesse a mania de detestar discotecas e fosse com ela pois queria mostrar o vestido novo às amigas, mas eu teria de ir vestido doutra forma. além disso, de vez em quando teria de lhe oferecer qualquer coisa, nem que fosse um ramo de flores ou um chocolate. assim, assegurou-me, seria feliz. fez uma grande pausa à espera que eu falasse, como não teve sorte pois esta conversa não me estava a interessar muito, perguntou-me se não queria eu também ser feliz. eu respondi-lhe sinceramente que não me interessava muito, não havia aí nenhum ganho e apesar de até poder fazer tudo o que ela me pedia, prestar-lhe mais atenção, mas nunca perceberia como seria feliz assim. que para mim há outras coisas também importantes, disse-lhe mesmo que talvez mais, e nunca saberia se alguma vez poderia considerar-me plenamente feliz. disse-lhe que não acreditava em ilusões mas depois arrependi-me, destesto estas frases esotéricas. interrompeu chamando-me egoísta, que nunca era capaz de perceber o que ela sentia e tudo o que sacrificava por mim, nunca lhe daria a atenção que merecia. reparei que umas lágrimas começaram a cair e nada disse pois não sabia o que dizer e começava a estar um pouco chateado com tudo isto. enxugou as lágrimas e disso que me desculpava pois, segundo ela, era a minha forma de gostar. tinha a certeza que com o tempo eu ia ficar melhor, que tudo isto tinha uma explicação lógica e esperava que um dia lhe contasse a minha vida pois aí deveria haver decerteza algo que justificasse tudo isto. assim que chegasse esse momento, e fosse resolvido com a sua ajuda, deixaria imediatamente de pensar em outras coisas, coisas essas que não interessam nada, e viveríamos felizes como as pessoas normais. abraçou-me deixando-me um pouco sufocado. pôs-se aos beijos e mandou-me vestir alguma coisa decente para irmos jantar, era essencial começar já e nada melhor que uma refeição num restaurante civilizado. é um trabalho de dois e em que ambos têm de ceder. eu pedi-lhe desculpa pois lembrei-me do que havia combinado com os meus amigos e sou um homem de palavra. desatou a chorar e fiquei um pouco incomodado. mandou-me embora e disse-me que hoje não me quereria ver mais, talvez amanhã pensasse nisso se estivesse nessa disposição, que não sabia o que via em mim. não perdoava-se pois sabia que assim que eu saísse senteria-se logo culpada de algo que não tinha a miníma culpa, seria obrigada a rever tudo e passaria o tempo a chorar. eu não passava dum grande insensível e não era capaz de perceber que ela só queria ser feliz e não percebia o porquê de eu ser assim, como se eu tivesse uma aversão. eu, já um pouco agastado, decidi sair. enquanto ela fechava a porta ouvia-a a soluçar um pouco mas nem virei costas.
(..)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

"Os Domingos são horríveis para mim" - capítulo 2 - 19:00

(...)
Um homem passou e perguntou-me o que tinha acontecido. Eu levantei lentamente o queixo, dei um grande bafo na esperança de se ir embora, ao mesmo tempo que não largava o meu olhar do dele. Apesar disso e da minha cara séria, barba por fazer que neste momento parecia-me crescer centímetros - tudo isto sem desviar uma única vez o meu olhar do seu, - ele sentou-se a meu lado - ria suavemente, o que, confesso, me estava a irritar um pouco. - Apoia os braços nas pernas e pediu-me um cigarro - aí algo começava a contorcer-se por dentro, uma vontade que não sei explicar, e que direito tinha ele de se meter comigo? estava intrigado - mas eu, contrariado e após uns segundos de reflexão, acabei por ceder. Contei-lhe resumidamente o que se tinha passado.
(...)
Passou uma pessoa na rua que me reconheceu, cumprimentou, e disse gostar muito de mim e do que faço, não demorou muito e seguiu a sua vida - adoro estas simplicidades. - O meu novo companheiro perguntou-me em que era eu famoso, respondi-lhe que, semana sim semana não, aparecia em revistas. Ele ficou muito surpreendido, endireitou-se com dignidade enquanto soltava um:"Ohhh". Disse-me que era evidente, que eu tinha toda a pinta disso e não sabia como não havia reparado logo - as palavras dele foram:"não me perdoo" -. Ao que parece, as pessoas importantes têm todas uma certa imponência bem visível e eu, além dessa característica, ainda fazia lembrar um daqueles rebeldes que andam por aí agora, cheios de "gajas" à perna sem lhes ligar nenhuma, rostos agressivos, entre outras coisas.
Não sei ao certo como são os homens que aparecem em revistas ou o que quer isso dizer, - até agora, acho que só apareci uma vez, havia uma foto minha numa pose um pouco amargurada, num rectângulo em cima da página, bem pequeno, e um texto cheio duma letra miudinha que não percebi muito bem, mas parecia ser sobre mim, além de ocupar uma página inteira - como são esses rebeldes de agora e se também eu sou um, não faço ideia.
Mas algo dentro de mim parecia não gostar muito da comparação - e ao mesmo tempo sentia-me esquesito por não gostar, não havia razão tanto para não gostar como para gostar, isso começou a enervar-me e acabei por acender outro cigarro enquanto observava com mais atenção as minhas roupas e o meu "ar". - Estava ansioso que todo este espectáculo acabasse para poder ir para casa num instante. - Agora que me lembro, e depois de pensar melhor, reparo que isto é mentira. No íntimo, ansiava por bater-lhe, mas não sei ao certo porquê. Talvez era da borbulha que tinha na cara ou das faces muitas rosadas, o cabelo também me parecia um pouco oleoso e grande demais para a sua cabeça, se me perguntarem não ser responder ao certo.
Pouco depois, reparei que ele continuava a mexer os lábios, ria, às vezes olhava para mim de lado, parecia ter uma admiração qualquer pelos meus sapatos, mas os sons pareciam-me imperceptíveis. Acho que era algo sobre as mulheres que aparecem em revistas. Não sei bem, talvez amanhã me recorde. Limitei-me a observar o que se passava e deixar o tempo correr.
(...)
Epílogo: Inspirado no que tenho aprendido de Dostoievski, Kafka, Camus, Hemingway, Tchecov e Lobo Antunes. (e de mim próprio graças à forma como estes génios me têm ensinado a deduzir melhor o que penso, sinto, sou e a forma como me interajo com os outros com essas caractarísticas - ou condicionantes)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Carlos Drummond de Andrade

Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


p.s: este tempo têm vindo a interiorizar-se dentro de mim, é uma liberdade estranha, mas enorme

sexta-feira, 8 de maio de 2009

(estes últimos posts fazem todos parte duma mesma história)

onde vivia um avião com o tamanho da minha mão
(não cheguei a medir mas imagino pois eu lá em cima dando-me vertigens, o capataz segurando a escada
-veja lá se caí)
alguém se lembrara dele para o alto dum poste e assim ficara, a hélice a dar a dar tão engraçada
(o capataz
-gostava de saber voar)
o meu pai assim que viu aquilo
-para que queres tu um avião?
(ele a dar a dar bem lá no alto)
-ès maricas tu?
(passa um ventinho e agora mais depressa)
-para que queres esta treta diz-me
tanto por fazer e este nabo de volta dum brinquedo
(digam-me, é mesmo isto preciso)
-chega um homem a esta idade para isto
o meu pai que do sofá já mal se levantava
-não sei a quem sais tu
a vontade de dizer-lhe senhor mas não digo
(prometo não me alongar)
o meu irmão onde, talvez assim que me apeteça levante uma pedra ao acaso e
-O desaparecido
a minha mãe também onde já que só a vejo no armário da roupa onde já não entra, que esquisito
(-que fez do vestido dos domingos senhora, vende-o?)
apenas o capataz
-deve ser uma vista e tanto
a perder-se naquilo
(vontade de agarrar numa marreta e o poste que segura o avião, hão de ver, no chão que é um instante, um fisíco que me explique estas coisas bem depressa)
dado que agora já não nem o capataz a alisar a mão no ar oiço
-ver tudo de cima
uma liçãozita breve teve ele
(lá mais para a frente falo disso, a ver se não me esqueço, acho que não me esqueço, desde quando me esqueço eu de alguma coisa)
apenas o avião a dar a dar numa canção que nunca percebi
(o meu pai
-para que serve isto aqui artista, maricas tu agora?)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

o maluco da aldeia que da seca por pouco se safou
-vamos fazer uma experiência
um dois três, ganhando fé no rio
(qual rio, uma planície como que escavada)
-vejam bem este saltinho
terra tipo pó
(lá estou eu, pó nada, camadas e camadas lembrando nenufares dos sapos, um dia dá-me na gana e trago um ou dois, saltam por aí todos contentes enquanto me entretenho a juntar camadas uma a uma, desencato um clip et voilá)
o maluco que em intervalos limitava-se a rir agora todo ele dores
(nem me falem da impossibilidade temporal pois nisso, deixo aqui bem assente, não acredito)
-ai as minhas costas
perfila-se todo contente, um sorriso despregado a mostrar a língua
-isto não é nada
pois a honra num homem é tudo
-pior foi ontem, hás-de perguntar a toda a gente o que fiz no café
além disso também uma ou outra cadeira que podem testemunhar a seu favor, uma queda de se louvar diga-se mesmo não sendo ele de manias
-sabes bem que não sou de manias
afiança
-na volta passo por aqui
confiante
-um mergulho como nunca se viu
abre os braços seguro de si, esquece-se da mão direita no ar e abana lentamente o indicador, pouco depois perde-se no horizonte, que mais vê ele aqui digam-me
(não é preciso dizer, não quero que me digam)

sexta-feira, 1 de maio de 2009


Não sei como escrever isto, não sei o porquê disto, faço e pronto. Acho que por agora chega. Mas porquê tão mal me sinto? Porquê escrever este post sem o objectivo de ser lido
(pura verdade, desaparece agora)
Ao meio dum artigo em inglês sobre Lobo Antunes isto
-"I am you and you are me; where you are, I am, and in all things I find myself dispersed"
e é isso mesmo, para quê mais? Eu é que não me conformo e de novo a vontade de escrever, talvez também te perguntes por vezes
(não meto ponto de interrogação por saber que nada vais dizer; ando chateado contigo, bem sei que nunca te pôs os olhos em cima,uma palavrinha ou outra de vez em quando, algum contacto, morada, nada, mas estas tentativas deviam contar para alguma coisa, a minha mente convence-me que sim)
o porquê desta porra de andar por aqui a roer a roer e nada
(alguma coisa na cabeça que não para, não sei)
a sério, nada. No fim umas linhazitas
(ok, reconheço, as tuas são infinitamente melhores, mas por enquanto não me dou por vencido)
e? Será que isto apaga alguma coisa, que se ganha ao certo. O problema é que assim que se para de novo aquele sensação
(descansa, não vou descrever, não é preciso descrever, eu que tanto odeio definições e filosofias)
o cansaço?
(desculpa, não sou de promessas)
não, nada disso mas também isso, a minha única certeza são uns instantinhos onde a mão
(quando arranjam o caraças dum lápis para escrever no pc?, isto não dá jeito nenhum)
se esquece de nós e segue trinfual
(no meu caso pouquíssimo triunfal, ainda te lembras?, talvez aos 19 também)
e o saber ser ímpossível parar, leva-me a ficar ali ver a malandra vaguear sozinha
(a mim afigura-me que sozinha)
concluído o devaneio, le-se aquilo tudo
(os erros que se faz à primeira meu deus, sou mesmo assim?)
significado procura-se e nada de especial
(por vezes tento enganar-me descaradamente e digo que assim é que tem piada)
palavras ambíguas, profundidade onde?; verbos e nomes dali para fora
(como raio fazem os poetas esta treta?)
para ficar bem, olha-se desanimado
(eu pelo menos olho desanimado, uma vez ou outra o lábio eleva-se um milimetro e apenas eu sei, uns minutinhos contente e aí vêm a sensação)
mas esquece, nada disto interessa, mais valia não teres lido. Bom mesmo foi para mim, já consigo respirar naturalmente de novo
(por enquanto)
os pensamentos acalmaram, nada na minha cabeça a bater incessantemente nos muros para sair, de novo o vazio
(tenho dado muita atenção ao vazio ultimamente, lembra uma praia vazia ou não?)
agora tudo embora
(descansado, não tarda muito já de volta duma crónica ou assim; também faço planos de ler pela 3ª vez o Arquipélago da Insónia)
e deixem-me em paz
(desculpa a sinceridade; apesar de avisar que a desculpa não é totalmente sincera)
tou no vazio.