Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
p.s: este tempo têm vindo a interiorizar-se dentro de mim, é uma liberdade estranha, mas enorme
8 comentários:
o mundo em que hoje se vive nos dá liberdade. por isso, seja ela de que tipo for, seja forçada, inesperada, estranha ou não, é sempre enorme.
ser livre é ser enorme!
*não nos dá
O meu ? Que está na fotografia ?
:D
Beijinho.
"Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança."
Adorei esta frase.
:| e que liberdade Nuno!
adorei, li e saborei cada palavra, sabes?
(estou num tão bonito sítio agora, que só queria que cá estivesses comigo :'))
Sou livre e feliz, espero que também sejas Nuno :D
Adoro este poeta. Escreve com a força do mundo.
Eu tenho um mundo em cima dos ombros e outro no meu peito. Nenhum dos dois é mais leve do que a mão de uma criança.
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