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Um homem passou e perguntou-me o que tinha acontecido. Eu levantei lentamente o queixo, dei um grande bafo na esperança de se ir embora, ao mesmo tempo que não largava o meu olhar do dele. Apesar disso e da minha cara séria, barba por fazer que neste momento parecia-me crescer centímetros - tudo isto sem desviar uma única vez o meu olhar do seu, - ele sentou-se a meu lado - ria suavemente, o que, confesso, me estava a irritar um pouco. - Apoia os braços nas pernas e pediu-me um cigarro - aí algo começava a contorcer-se por dentro, uma vontade que não sei explicar, e que direito tinha ele de se meter comigo? estava intrigado - mas eu, contrariado e após uns segundos de reflexão, acabei por ceder. Contei-lhe resumidamente o que se tinha passado.
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Passou uma pessoa na rua que me reconheceu, cumprimentou, e disse gostar muito de mim e do que faço, não demorou muito e seguiu a sua vida - adoro estas simplicidades. - O meu novo companheiro perguntou-me em que era eu famoso, respondi-lhe que, semana sim semana não, aparecia em revistas. Ele ficou muito surpreendido, endireitou-se com dignidade enquanto soltava um:"Ohhh". Disse-me que era evidente, que eu tinha toda a pinta disso e não sabia como não havia reparado logo - as palavras dele foram:"não me perdoo" -. Ao que parece, as pessoas importantes têm todas uma certa imponência bem visível e eu, além dessa característica, ainda fazia lembrar um daqueles rebeldes que andam por aí agora, cheios de "gajas" à perna sem lhes ligar nenhuma, rostos agressivos, entre outras coisas.
Não sei ao certo como são os homens que aparecem em revistas ou o que quer isso dizer, - até agora, acho que só apareci uma vez, havia uma foto minha numa pose um pouco amargurada, num rectângulo em cima da página, bem pequeno, e um texto cheio duma letra miudinha que não percebi muito bem, mas parecia ser sobre mim, além de ocupar uma página inteira - como são esses rebeldes de agora e se também eu sou um, não faço ideia.
Mas algo dentro de mim parecia não gostar muito da comparação - e ao mesmo tempo sentia-me esquesito por não gostar, não havia razão tanto para não gostar como para gostar, isso começou a enervar-me e acabei por acender outro cigarro enquanto observava com mais atenção as minhas roupas e o meu "ar". - Estava ansioso que todo este espectáculo acabasse para poder ir para casa num instante. - Agora que me lembro, e depois de pensar melhor, reparo que isto é mentira. No íntimo, ansiava por bater-lhe, mas não sei ao certo porquê. Talvez era da borbulha que tinha na cara ou das faces muitas rosadas, o cabelo também me parecia um pouco oleoso e grande demais para a sua cabeça, se me perguntarem não ser responder ao certo.
Pouco depois, reparei que ele continuava a mexer os lábios, ria, às vezes olhava para mim de lado, parecia ter uma admiração qualquer pelos meus sapatos, mas os sons pareciam-me imperceptíveis. Acho que era algo sobre as mulheres que aparecem em revistas. Não sei bem, talvez amanhã me recorde. Limitei-me a observar o que se passava e deixar o tempo correr.
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Epílogo: Inspirado no que tenho aprendido de Dostoievski, Kafka, Camus, Hemingway, Tchecov e Lobo Antunes. (e de mim próprio graças à forma como estes génios me têm ensinado a deduzir melhor o que penso, sinto, sou e a forma como me interajo com os outros com essas caractarísticas - ou condicionantes)
2 comentários:
Eu é que me sinto diminuida :|
Posso aprender contigo, Nuno?
Hoje: vitória ;)
Estou feliz e quero-te feliz comigo, pode ser?
Este faz-me lembrar o título do vídeo que me mandaste. *
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