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a minha namorada dizia-me que tudo o que queria era ser feliz e que, segundo ela, sem mim não seria capaz. eu disse-lhe que não percebia o porquê. expliquei-lhe que via de outra forma e para mim há outros assuntos bem mais importantes como crianças em Africa, injustiças na América Latina, e sentia-me culpado por não poder fazer practicamente nada para os tentar resolver, e esperava um dia ir a esses locais, se possível num futuro próximo enquanto me sinto jovem e cheio de força. ela disse-me que apesar de ter muita pena, também ela não podia fazer nada para melhorar a situação, viu que eu permanacia indiferente enquanto a ouvia e enervou-se dizendo que sinceramente nem lhe interessava muito pois também dela ninguém queria saber e eu era o principal culpado nisso, seria capaz de tudo por mim mesmo eu não a amasse tanto como ela, estar comigo já seria bom. ela disse que o que gostava, entre outras coisas, era que eu perdesse a mania de detestar discotecas e fosse com ela pois queria mostrar o vestido novo às amigas, mas eu teria de ir vestido doutra forma. além disso, de vez em quando teria de lhe oferecer qualquer coisa, nem que fosse um ramo de flores ou um chocolate. assim, assegurou-me, seria feliz. fez uma grande pausa à espera que eu falasse, como não teve sorte pois esta conversa não me estava a interessar muito, perguntou-me se não queria eu também ser feliz. eu respondi-lhe sinceramente que não me interessava muito, não havia aí nenhum ganho e apesar de até poder fazer tudo o que ela me pedia, prestar-lhe mais atenção, mas nunca perceberia como seria feliz assim. que para mim há outras coisas também importantes, disse-lhe mesmo que talvez mais, e nunca saberia se alguma vez poderia considerar-me plenamente feliz. disse-lhe que não acreditava em ilusões mas depois arrependi-me, destesto estas frases esotéricas. interrompeu chamando-me egoísta, que nunca era capaz de perceber o que ela sentia e tudo o que sacrificava por mim, nunca lhe daria a atenção que merecia. reparei que umas lágrimas começaram a cair e nada disse pois não sabia o que dizer e começava a estar um pouco chateado com tudo isto. enxugou as lágrimas e disso que me desculpava pois, segundo ela, era a minha forma de gostar. tinha a certeza que com o tempo eu ia ficar melhor, que tudo isto tinha uma explicação lógica e esperava que um dia lhe contasse a minha vida pois aí deveria haver decerteza algo que justificasse tudo isto. assim que chegasse esse momento, e fosse resolvido com a sua ajuda, deixaria imediatamente de pensar em outras coisas, coisas essas que não interessam nada, e viveríamos felizes como as pessoas normais. abraçou-me deixando-me um pouco sufocado. pôs-se aos beijos e mandou-me vestir alguma coisa decente para irmos jantar, era essencial começar já e nada melhor que uma refeição num restaurante civilizado. é um trabalho de dois e em que ambos têm de ceder. eu pedi-lhe desculpa pois lembrei-me do que havia combinado com os meus amigos e sou um homem de palavra. desatou a chorar e fiquei um pouco incomodado. mandou-me embora e disse-me que hoje não me quereria ver mais, talvez amanhã pensasse nisso se estivesse nessa disposição, que não sabia o que via em mim. não perdoava-se pois sabia que assim que eu saísse senteria-se logo culpada de algo que não tinha a miníma culpa, seria obrigada a rever tudo e passaria o tempo a chorar. eu não passava dum grande insensível e não era capaz de perceber que ela só queria ser feliz e não percebia o porquê de eu ser assim, como se eu tivesse uma aversão. eu, já um pouco agastado, decidi sair. enquanto ela fechava a porta ouvia-a a soluçar um pouco mas nem virei costas.
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5 comentários:
Este fez-me lembrar uma cena do Paranoid Park. x)
Queria comentar sem que pareça que sou essa miúda. Não sou, mas não gostei do tom deste texto..
É mau que morram crianças em África, mas se estiveres com alguém que te faz bem ajuda sempre a suportar os dias, não é?
Bem, ela anda(va) mesmo insatisfeita, pelo que percebi.
Por incrível que pareça, pelo que escreveste aqui, não concordo com ela.
enfim,
perdoe-me a intromissão.
beijos
Queres juntar-te a nós?
hum..cada um com os seu "grandes" ou "pequenos" males. sofrimento é sofrimente, felicidade é uma dádiva e fazendo os outros felizes, fazemo-nos a nós nem que seja apenas um pouquinho... mas quando nao se chega ao outro, nao dá *
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