Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Silêncio

À sua frente o frio da rua, quase a beijar o chão, uma calçada cinzenta, com pequeno exemplos aqui e ali a quebrarem o ritmo, intromissões, basta uma mão mais desesperada e logo quadradinhos a mover, areia atrás a subir-lhe aos olhos; rasteja.
Vozes em cima, talvez abafadas por uma mão, um espaço a seu redor, caminha ao longo das vozes, risos, perguntas, exclamações. Alguém passa a correr e pontapeia-o, as vozes num intervalo de suspense, procuram ar. A pessoa do pontapé nem um olho atrás, não deixa de correr, leva um ramo de rosas numa mão e não deixa de consultar o relógio. O suspence acaba, as vozes regressam, por momentos mais fortes.
Alguém desce do lugar das vozes e transporta a barreira, com a mão tenta chamá-lo, batendo-lhe devagar no ombro, pergunta O que se passa, os segundos correm com o mesmo rastejar, nenhuma resposta, essa pessoa acaba por se cansar e virar costas, leva a mão ao bolso e consulta o telemóvel, vira-se de novo para a pessoa no chão e chama-lhe nomes, cospe-lhe em cima, vira-se e desaparece na multidão, há quem o siga, para qualquer uma das direcções possíveis. Neste momento o aglomerado é maior, a barreira está desfeita, há quem por pouco não o pise. Muitos perguntam o que está a fazer, o som à volta adensa-se. Os olhos estão, em geral, baixos.
Os braços começam-lhe a doer mas não para, sente os braços incapazes de parar. No lugar do pontapé já não sente dor. Torce-se numa esquina e por pouco não é atropelado por um carrinho de bebé, o bebé lá dentro acaba por acordar e começa a chorar. De repente dá um salto de impulso e lança-se para a passadeira, o sinal estava vermelho, um táxi passa nesse momento, no dia seguinte já ninguém rasteja e abre alas no chão por aquelas bandas.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sem espelho

Palavras à muito na corrente. Tento de novo, agora com o momentâneo sentimento de paz espírito, até à primeira hesitação que surja. Uma cadeira vazia, o som de pernas por todo o lado mas nenhum sinal delas, um ecrã onde ninguém reflectido, teclas sem serem premidas a impingirem letras ao ecrã, e o ecrã, coitado, resigna-se. Nota-se o que pode ser uma frase a surgir, a seguir outra, as letras tentam unir-se, vão aos empurrões e a paz desaparece. Uma guitarra distorcida é pedida para acalmar os nervos, Jimi Hendrix, Jimmy Page, Slash, Kurt Cobain, ..., um sorriso a sair de ninguém pois ninguém a ouvir, os primeiros acordes a soltarem qualquer coisa, vibrações pela sala à cata duma célula, dum organismo vivo, mas nada, ninguém a ouvir, ninguém a escrever apesar dos caracteres que surgem. Ouve-se apenas a respiração mais acelerada aquando do sorriso.
Jimi Hendrix - Voodoo Child
"Well, I stand up next to a mountain
I chop it down with the edge of my hand"

Papéis espalhados pela mesa começam a possuir energia cinética, vida. Dos papéis nenhum rosto para amostra, letras em comunhão procuram sentido lá dentro e nada. À pergunta Onde estás, o silêncio como resposta. Um pássaro no seu ritmo de sempre, o resto da chuva no limoeiro a dar sinal, os cães a anunciar possíveis inimigos escolhidos a dedo duma procissão infindável.
A mesma pessoa a sentir desesperadamente que o PC deveria ter uma maior amplitude de som. A necessidade, física, fá-lo sorrir.
"Yeah, hey!
'Cause I'm a voodoo child, voodoo child
Lord knows I'm a voodoo child, baby"

Uma cadeira agora de lado, no computador o que se julga ser uma página a abrir, uma seta a percorrer quilómetros por um click. Na sala enorme nenhum átomo para a guitarra fazer efeito. Caracteres sem efeito juntam-se finalmente graças a um o teclado sem ninguém para o premir.
Uma mensagem publicada por alguém que se ri da sua ausência de reflexo.
Quem sabe, um fantasma.

Bob Marley - Redemption Song
"Won't you help to sing,
another song of freedom?
'Cause all I ever have:
Redemption songs,
Redemption songs,
Redemption songs!"

domingo, 27 de setembro de 2009

Not so well...

Words aren’t coming, it has to due with current spirit. The most important thing, spirit. That comes from emotions, wich aren`t coming. This get me nervous, disgusted with me, my life. But, the funny thing, not very sad, just not good either.
And writing in english. It’s easy, english doesn’t have music, that`s why I hate english. It’s a good hiding.

sábado, 26 de setembro de 2009

What I believe...

Cena muito bem pensada, principalmente o final. It might get too late.

Especial atenção a partir dos 1:50:
"(...)
-I´m gonna say this once, so I want you to listen to me, all right? No matter what you did, don`t give up. Not give up.
-Why?
-Because if she loves you, she will forgive you.
-You really believe in that.
-I have to. Othewise, there`s no point. There is no life without love. Or not having anyway.
-Fuck it. You are right."

*Acredito apenas se for sentido pelos 2. Ilusões não é grande coisa.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

No sense

As coisas que já não descobrem hoje em dia...


                                                                              e as que se inventam distorcidas.

Love is actually old. Dying.
                                                                                                 Funny, right?

*Photo by Richard Kalvar

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Encontro III

Houve um silêncio. Ela seguiu para junto do carro, onde se encostou ao capô, de braços cruzados. O cabelo caí-lhe até aos ombros, tornando impossível ver-lhe a face. O cabelo voava um pouco ao sabor da brisa, enquanto as rastas se mantinham quase inalteráveis. "Deve fazer-lhe alguma impressão, as rastas a raspar, ou talvez já se tenha habituado.", pensei. Ela levantou a cara e olhou para mim. Depois, com a mão passou o resto do cabelo para trás. Caminhei até ao carro ao lado, onde me sentei, de frente para ela.
-Hey! Esse carro nem é meu.
-Não faz mal. Eu também não o quero comprar nem nada.
-E achas que podias comprar esse carro?
-Não sei. Mas mesmo se pudesse, não comprava. Há tantos modelos iguais a este, não gostava de passar a cada esquina e ver um como o meu. Dava-me a sensação de estar sempre a ser roubado.
-És um daqueles ricos com um carro que ninguém pode comprar enfiado na garagem?
-Não, nada disso. Nem sequer tenho carro, e a minha fortuna gasta-se na renda do apartamento. Apenas prefiro carros menos comuns.
-Então... eras capaz de apostar que não o compravas?
-Não estou muito de apostar.
-Isso não é resposta.
-Também não estou muito de respostas.
-Basta um sim ou não. Até tu disseste que não gostavas do carro, qual é a dificuldade?
-Ter de fazer isto. Como se de uma resposta minha dependesse muita coisa.
-E nem sequer o teu nome perguntei ainda. Mas que raio estás a pensar?
-Alexandre.
Eu tinha os olhos nos meus sapatos, o pé direito não parava de escavar, escondi as mãos nos bolsos. Enquanto isso, ouvia-a suspirar.
-Não estiveste muito mal agora. - disse ela.
Eu levantei a cara.
-Não estive mal? Que quer isso dizer?
Neste momento, enquanto a olhava à espera duma resposta, ouvi duas pessoas a chegarem. Uma delas chegou ao pé de mim e disse-me para sair de cima do carro. Eu levantei a mão esquerda e estendi-lhe a palma, sempre a olhar para ela, que tinha os olhos nessa pessoa. Pedi-lhe um minuto, sempre a olhar para ela, à minha frente, e por esse pedido levei um murro na cara e caí no chão.
-È o carro da minha namorada, otário. - disse, depois de quase passar com os pés em cima de mim, e já com a porta entre nós os dois. Entrou e, a namorada, que já estava igualmente dentro do carro, fez marcha atrás e deixou um espaço vazio. Aceleraram depressa, e ainda consegui ouvi-la a falhar a segunda mudança.
Ela saltou do carro e foi ter comigo. As costas doíam-me mas dum momento para o outro só me apercebia do seu cabelo, que ela tentava compor com a mão. Quando se baixou, vi de perto os seus olhos castanhos, completamente brancos ao redor. Notava-se aflição no seu rosto, mas eu só notava os seus olhos. Tocou no meu ombro e perguntou se estava tudo bem. Disse que detesteva aqueles dois.
-Acho que devíamos ir a tua casa depressa. Dói-me aqui qualquer coisa e estou a precisar dos primeiros socorros.
-Boa tentativa, mas pareces-me muito bem.
-Isto são lesões internas. È preciso ter atenção a estas coisas.
Ela levantou-se. Eu, primeiro, sentei-me, depois apoie-me no chão e subi igualmente.
-Tenho de ir. - disse-me.
-Espera. Ainda não me respondeste.
-Não és capaz de avinhar?
-Estou à espera dumas luzes.
-Primeiros socorros?
-Entre outras coisas.
-Não me julgava tão complicada.
-Bem... tens os teus momentos.
Ela olhou para mim, como que a sondar-me. Deixou escapar um pequeno sorriso e eu sorri também.
-Estou para ir a um bar. - continuou - Estava a pensar se também querias vir...
-A sério? Claro que vou.
Voltou-se para a porta do carro e abriu-a. Dei a volta ao carro e também entrei.
-Já te disse que gosto do teu carro? - perguntei.
-Ainda não, mas estás sempre à vontade para dizer.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

All Words

"You are just an analogic man in a digital world, aren`t you?" - "Surfer Girl" in Californication. Season 1, episode 4.

(Gostava de pôr o vídeo, mas não o consegui encontrar. Deixo aqui outro, também muito bom, com as mesmas personagens e do mesmo episódio.)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

No words

Tenho vontade de bater com a cabeça nas paredes, de agarrar nos meus braços e esconde-los bem, onde as minhas palavras não possam chegar. Quero vomitar todas as finas impurezas que tenho dentro de mim, de vez, elas que me aparecem como uma navio enorme no meio do oceano, onde metade desse navio chega ao nível das nuvens e daí mais não se vê.
Tenho um problema grave com palavras, elas usam-me, aparecem dentro de mim e não sei usá-las, não consigo agarra-las ao certo, chegam e dizem olá, andam às voltas, aparece uma sensação, e se me distrair um segundo "adeus"; detesto-as. (Os adjectivos são de longe os maiores falsos que conheço, faço de tudo para não os usar. Com os verbos ainda dá para falar.)
Detesto a grande maioria dos meus textos, não tenha tema que escrever, e detesto igualmente a infantilidade da minha imaginação. Uma barreira, e lá no alto uma voz que conheço mas que não consigo chegar. A história "Encontro" é quase como se acreditasse no Pai Natal. Enerva-me fazer algo tão irreal, mas é o impulso que sinto, até por saber que o que escondo por trás dele poucos o conseguem ver, no meu inconsciente, e que nunca chegarei a dizer, pelo menos à maioria. (Não vale dizerem o contrário, é que nem tentem por favor.)
Adoro a comunicação corporal, risos, olhares, lábios torcidos, mãos com vida própria, toques lentos e sem mal, a postura do corpo, tudo isso encanta-me, não há entendimento mais profundo. Percebo ainda muito melhor, é-me mais natural. Mas há limites que a realidade não permite passar, e o recurso às palavras torna-se tão necessário até chegar à banalidade, muitas vezes acontece-me, mesmo que a intenção, como o é na grande maioria das vezes, seja a melhor.
Detesto MSNs e HI5s, aliás, detesto escrever pela net, não é humano. E esta incompreensão, o de não saber exactamente em que estado estão os outros, seja ao vivo ou não, faz-me usar um registo parecido com muita gente, quando há pessoas que merecem um especial, diferente. Perco muito tempo a pensar no que dizer, a medir palavras, a virá-las ao contrário à procura dum duplo significado, códigos que tento pôr e outros que vejo - julgo eu -, tanto nas minhas palavras como nas de outras pessoas. Mesmo este post é um código, como a maioria dos meus, mas neste a falta de coragem é ainda maior. E quando que estou prestes a atingir o que quero, elas riem-se de mim e dizem adeus. Os remorsos aparecem quando sou obrigado a soltar o que tenho. Como se, com algumas pessoas, exija no mínimo a perfeição nas minhas palavras.
Sinto-me tão vazio, é como se estivesse tudo à minha frente e por alguma razão não consiga agarrar. Acho que é isso que me está a acontecer, estou a deixar passar as palavras duma pessoa, embora pretenda o contrário. Ou então esteja a fazer uma grande confusão. Adorava poder ser mais explícito, mas também há o medo de perder o "pouco" que se conquistou, e com isso o que ainda pode vir. Com outra peço o sublime.
Apetecia-me dizer um nome que tenho repetido, e muito, mentalmente. E é melhor assim, não merece tamanha vulgarização.

domingo, 20 de setembro de 2009

Encontro II *

*Versão final, corrigida às 22:09.

Texto:

As palavras fizeram-me voltar na sua direcção. Novamente um vento e papéis aos saltos, o meu cabelo apanhou a boleia e uns riscos em cima dos olhos, latas com guizos dentro a suplicar liberdade, o vento parou e deixou-me uma lata a jeito de rematar. A ela, entre dois carros, nem o cabelo abanou. A mão direita apalpava o cimo do carro, enquanto o braço descia inclinado pelo vidro; a manga do vestido caiu e via-lhe pulseiras em cascata. Com os metros entre nós a ajudar, parecia-me mais pequena; ao mesmo tempo que, o seu olhar, agora fixo em mim, e o corpo, um pouco inclinado para a frente, a ocupar a maioria do vazio entre os dois carros, obrigavam-me a tentar adivinhar rapidamente o que teria ela dito, como uma carta à qual tinha de responder sem saber por onde começar. O gato, ainda na janela, miava.
-È os óculos de sol? - disse ela - Muito escuros não é?
Mantive-me parado. Se pudesse sair de mim e ver-me ao longe, com uma lata perdida junto ao pé direito, e ar embasbacado, acho que riria de mim. Ela tinha agora a mão esquerda apoiada na anca, e torcia o lábio.
-Devias pôr protector, - continuou, agora a gesticular com a mão direita - estás muito vermelho.
-Já me avisaram das radiações solares à noite, mas eu não quero crer.
-Não? Pois acho que devias, estava capaz de identificar alguns pontos negros na tua capacidade comunicativa.
-Apenas quando encontro alguém de óculos escuros.
-Mas eu não tenho óculos escuros.
-Não tens? Era capaz de apostar que tinhas... - levantei um pouco a mão direita na direcção dela - talvez dentro da tua mala.
Ela sorriu, enquanto olhava durante alguns instantes para o chão. Consegui ouvir uma respiração mais forte e ritmada aquando do sorriso.
-Não me parece uma grande aposta. - disse ela - Não há grande risco numa aposta dessas, terias pouco lucro.
-Mas há boas hipóteses de ganhar.
Sorriu de novo.
-Sim, nisso tens razão. È até uma lógica interessante, segura. Há algumas assim. Mas queres saber se ganhaste ou vais continuar o espectaculo?
-Mas apetecia-te dizer já, era?
Caminhou na minha direcção, passos lentos.
-Um pouco. - Disse-me ao chegar perto. Baixou os olhos por um instante, raspava o sapato na calçada. Levantou a cara e vi-lhe um sorriso escondido. Os olhos, ligeiramente escondidos no cabelo, procuravam a minha cara. Eu, sem a perceber, sorria.
-Mas é que preferia descobrir depois... - e o meu sorriso, por instinto, abriu-se.
-Medo de alguma coisa?
-Não, nada disso. È que esses óculos interessam-me muito.
-Bem me parecia.
Os seus olhos estavam novamente fixos nos meus, uns olhos tristes. O meu sorriso tinha-se apagado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Desabafo

Estou há muito em cima duma linha e não sei quanto mais posso aguentar. Se cair, sei que, e tendo em conta o que se julga ser bom nesta sociedade, me darei bem. Sempre me soube desenrascar, sempre me dei bem sozinho, no máximo admito estar metaforizado nos textos que invento, aí exponho-me, adoro jogar comigo em pequenas coisas, da mesma forma como adoro descobrir os outros atrás de pequenas linhas, de uma ou outra palavra, sou até capaz de apostar a sua expressão corporal enquanto escreviam tal coisa, risos, lábios trincados, olhares baixos, mãos na perna que sobe na cadeira e se procura esconder; a imaginação dos outros fascina-me, a minha é demasiado geral. Raramente peço conselhos e nunca - deixo aqui um pequeno aparte pois a memória pode ser traiçoeira - chorei os meus sentimentos à frente de alguém a pedir apoio, não é quem sou. Mas agora estou farto, quero que se foda toda a teoria, os julgamentos e quem julga. Ou melhor, nem quero isso, apenas que me deixem em paz e me deixem viver a vida à minha maneira, mesmo que ao não fazer o que julgam estar certo possa-me dar mal, sinceramente não me importa assim tanto. Talvez seja da idade, sei que isto pode parecer um pouco fatalista, mas o medo de acabar mal não existe em mim, os meus 19 anos sempre me deram muita força, por vezes meto-me a correr feito um louco até chegar ao limite e mesmo quando chego não paro. E o que dizem também não me importa assim tanto, a não ser que influencie directamente na minha vida. Um dos sentimentos que raramente tenho - não me lembro da última vez que o tive - é inveja, e nunca me conseguirão enervar a sério por terem qualquer coisa que eu até poderia querer. Nem de outras formas é fácil, por vezes o meu irmão, mete-se a brincar comigo a pensar que eu possa ser do PCP ou do BE - não sou, embora não negue algumas afinidades com o BE, mas não sou - e então fico calado a ouvi-lo, a rir-me enquanto ele critica as ideias económicas desses partidos, os jovens desses partidos, "é pessoal que não interessa a ninguém", diz-me a brincar, por vezes também entro na brincadeira, pois aí já-me é mais pessoal e os nervos sobem um pouco, e começo a gozar com os "betinhos" da JSD e da JP, ou seja, e perdoem-me a generalização, aqueles gajo que andam de camisa a mostrar os pelos do peito à Paulo Portas, cujos professores iam aos domingos a casa dos papás para convívio, que andam com uma loira atrás para daqui a 10 anos espancarem-na, e que agora serve acima de tudo para os levantarem quando estão bêbados - os rapazinhos não levantam mais nada. Mas eu quero, acima de tudo, distância disso, não me interessa nada disso por muito que me chateiam a cabeça. Aliás, esse é pessoal que me enerva, detesto ideias fixas, nada a fazer. Mas também, quando lhe digo isso a brincar, sei bem que ele não é nada assim, tenho orgulho de ser irmão dele, e isto também não passam de generalizações. Quero viver a vida à minha maneira, duma forma mais calma, interessa-me muito mais o contacto humano, não necessariamente as ideais - de qualquer tipo, nem que seja aquela gente que se põe a teorizar excessivamente sobre a arte, acho que os pequenos toques devem ser principalmente descoberto, se não fica mais difícil perceber como se chegou a essa simplicidade - ou o conforto material - embora não me importe nada com ele, apenas não o quero como símbolo de qualquer coisa atingida.
Acho que a linha abana porque há muito não é fortalecida, o balão está a dar as últimas e preciso de mais oxigénio, e para isso acho que a minha ida para Lx será fundamental - pena ser só na 2ªfase -, novas experiências, novas pessoas. Não me quero esconder, preciso de algo novo - acho mesmo que alguém -, uma emoção - preocupa-me muito a minha actual incapacidade de as criar. Sei que se cair, também não serei o oposto, mas não serei nada, serei mais um no vazio, e eu quero fazer mais, não apenas para mim, seja de que maneira for. Mas primeiro, necessito do ponto de partida, do abrigo, embora tenha de ser mesmo real, caso contrário não sou apenas eu a ser enganado.
Agora ainda estou em cima, mas a linha abana cada vez mais. Quero sentir o perigo apetecível das emoções contraditórias e crescer a partir daí, apenas a partir daí.

Sinto que falei muito sem dizer grande coisa, mas também tenho pensado tanto sem sair nada.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Guns N' Roses - Patience

Adoro o Slash neste vídeo, não só pelo excelente solo a partir dos 3:25 - incrível aos 4:13 -, mas também por estar totalmente concentrado a massajar uma cobra enquanto mulheres se vão deitando ao seu lado, uma após outra. Maneira de no rock n`roll dizer: "Desculpa, nada de pessoal, mas não és a tal. Não peças demais." Podem considerar isso insensível, eu discordo. Na minha opinião é até a defesa de algo com mais significado. Acho ainda que, usando a confrontação, passa-se melhor a mensagem.
Não é só a cara escondida pelos caracóis compridos e pela cartola, o cigarro a cair da boca, os casacos de cabedal com o símbolo dos Guns feito por ele. Também não é só, embora seja de longe o mais importante, a habilidade lendária com a sua Les Paul, que fizeram dele um dos maiores ícones da história do rock. A personalidade também conta para esse título, e quando se têm uma tão grande, sobressaí claramente.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Encontro I

Ia para casa dum amigo quando a encontrei. Era de noite, talvez umas 10 horas, na rua mais ninguém, e via-a sair dum prédio. Parei de seguida, durante alguns segundos. Reparei nos cabelos compridos e soltos, sem conseguir diferenciar ao certo a cor mas certo que escuros, deveria ter uns metro e setenta de altura. Trazia um vestido solto, azul. A mão esquerda corria por um pequeno muro enquanto descia umas escadas, passos lentos e olhos na calçada. O muro num estilo mais clássico e que acabava num vaso.
Acabou a escadaria e virou-se na minha direcção, passos rápidos a ganharem vida dentro do vestido. Levava umas chaves a brincarem no indicador esquerdo. Soprou um vento e, enquanto os meus cabelos imóveis, os dela assaltaram-lhe à cara e consegui ver uma rasta, sorri. A mão que segurava as chaves foi acima e pôs os bandidos na ordem, a outra mão levava uma pequena mala castanha. À medida que me aproximava, os meus passos tornavam-se inexplicavelmente mais lentos e, para além da distância, ela continuava de olhar perdido e ocupada a brincar com as chaves. Deu-me uma vontade enorme de meter conversa, pensei na rasta e sorri de novo; voltei a olhá-la e as chaves a rodar, os olhos agora perdidos num gato umas janelas acima a pedir atenção, e o meu sorriso maior; pensei no que lhe poderia dizer e as minhas pernas quase que a inverterem sentido.
Havia agora uns 50 metros entre nós quando a vi entrar numa ramificação de carros estacionados, e parar diante de um. “Foda-se”, disse baixo, depois de pensar que se ia embora. Ela abriu um pouco a porta e com a porta veio uma luz de dentro. De repente, a cara mais clara, fácil de definir para quem capaz disso, a minha atenção ficou-se num piercing no sobrolho e novo leve sorriso da minha parte. A luz mais difusa e os seus olhos capazes de esconder o mundo, o vestido escorria-lhe pelo corpo e apercebi-me que era azul-claro, com um pequeno adereço que já não me lembro bem. Inclinou-se mais um pouco para se chegar ao assento e eu ainda com mais atenção. Acabou por entrar, deixando a porta aberta.
Baixei os olhos e o chão sujo, dei um pontapé numa pedra que saltava da calçada. "Qualquer coisa diferente", disse em voz baixa, e que agora preparava-se para sair de carro. Nesse momento, os meus pés mais esclarecidos apesar de eu afónico. Olhei o gato, ainda se encontrava na mesma janela, a miar da mesma forma. Na rua um ar baço, as luzes dos postes davam outro toque às coisas, um carro depressa a fazer notar o motor fora do sítio, fumo por trás dele, desapareceu à direita, sem o pisca nem o travão necessários à curva.
Aproximava-me cada vez e, ao subir de novo a cara, reparei que ela estava de pé, com uma mão a fechar a porta, (o barulho tão agradável) e a outra no telemóvel, provavelmente a escrever uma mensagem. O meu passo voltou a abrandar, engoli em seco, e deixei-me ficar a olhá-la, parada de frente para a porta. Ela deixou de escrever e pôs o telemóvel na mala, experimentou a porta a ver se estava fechada pois apercebi-me do barulho, levantou a cara e os olhos, de início baixos depois inteiros, na minha direcção. Baixei os meus e levei a mão direita à cabeça, "Diz qualquer coisa...", pensei.
Ao passar por ela, ouvia-a falar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Candidatura 2009 - "Use Your Ilusion II"

  • A primeira opção não me interessa, mas entre as opções a que me limitei era das que tinha mais saída, e é na FSCH - Nova de Lisboa.  Geografia e Planeamento Regional.
  • A segunda e terceira opções são Sociologia. Tem algum interesse para mim, pois tenho algumas preocupações sociais. Não é muito fácil de se arranjar emprego mas ainda se encontra qualquer coisa. A segunda igualmente na FSCH, enquanto a terceira no ISCSP - Técnica de Lisboa.
  • A quarta é a que me interessa mais, de longe, entre todas as opções que existem no nosso Ensino, mas como a saída é quase nula, decidi não arriscar tanto apesar de ter mais vagas disponíveis que a primeira, e aposto que não se chegarão a preencher. Estudos Artísticos, variante de Artes e Culturas Comparadas. Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
  • A quinta está apenas para ouvir um pouco menos do meu pai - aceita apenas esta e a primeira, e mesmo assim com muitas reticências, "ah, sempre entras para o Estado". Sei que a última decisão tem de ser minha, mas acreditem que ouvi-lo não é fácil - ainda nem lhe falei da 4ª e 6ª, "pus umas engenharias no politécnico como o ano passado".  Aceitei também por duvidar muito que chegue a entrar aqui, poucas vagas felizmente. Administração Pública, igualmente no ISCSP.
  • A última é Estudos Portugueses e Lusófonos, e está aqui por ainda ter 56 vagas que nunca serão preenchidas e com isso assegurar a minha entrada em Lx. Igualmente na Faculdade de Letras.
Estou confiante, na 2ª fase tenho um médio 14,5, mais 2 valores que na primeira. Mas mesmo assim preferia já estar de malas aviadas.

*"Use Your Ilusion II", quarto disco dos Guns n` Roses. Recomendo Don`t Cry.
Alguém tem um alicate? Estou quase a passar por aqui.

domingo, 13 de setembro de 2009

Travão

Vou abrandar, poucos post se seguirão a este, não faz sentido o que faço. Estou quase incapaz de sentir qualquer coisa em que não esteja raiva, e isto não é apenas em relação à escrita, embora se reflicta nela ao não conseguir chegar a nenhum lado. Preciso de abrandar por mim, sem saber se alguma vez voltarei a 100%, mas com a certeza de que deveria ter feito isto há muito, muito tempo.


I`m locked in this guitar and I never learned how to play it:

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Cumplicidade


Quem é o cãozinho da mamã, quem é? Tão bonito que ele é, porquê esse canto do olho na direcção do dono? Não ligues ao dono
(eu não ligo)
deixa-o tal como eu haveria de fazer e quem sabe se um dia
(ainda estou para saber como lhe caí nas cantigas, uma pessoa quando é nova não pensa, bonita sempre fui e agora aquele badameco
juro que quando eu ao espelho naquele altura bonita, havia era coisas por trás a estragar a imagem
uma figura destas no meio de gente tão ilustre, e depois ainda hão-de falar de mim na altura de apontar as culpas mesmo que eu para ele
-veste isto, não vistas isso
ele nada, vira-se para mim a rir com aquela cara de parvo e julga que eu fico contente, e agora a juntar o almoço todo a beber, o bafo que ele deve trazer meu Deus)
mas esquece tudo isso meu querido, por mim até podias partir as garrafas que a mamã não se importava nada
(ele tão trapalhão, nódoas na mesa, garfos no chão, se não fosse eu a avisa-lo voltava a usá-los, que porco, para ele a boca só para comer dado que a refeição inteira de virado para o prato, nenhuma palavra
nem comigo...
incapaz duma conversa civilizada, de discutir uma ideia, meu Deus onde tinha eu a cabeça, tanto que me avisaram)
mas não ligas não, nunca mais lhe roas os sapatos, ou melhor, estraga-os a todos que já sei o que fazer quando chegar a casa, vais ter um jantar como nunca tiveste
(ele tão cego, de certeza que não reparou no homem que ainda não tirou os olhos de cima de mim
bela peça também este
mesmo com o que já lhe avisei continua a dar nas vistas desta maneira, tão despistados os homens, e ainda estou para perceber esta mania de se vestir como o meu marido
esta ideia de se imitarem uns aos outros só podia ser masculina
e se continua assim não dá para os chapéus do meu marido continuarem a aumentar em dois pontos, diverte-me o que lhe há-de custar a enfiá-los, bem feita)

tão querida a minha mulher, todos estes anos de casados e ela sempre a mesma, se por acaso deixo cair um garfo em público avisa-me logo que não se deve fazer
(ela não especificou mas claro que apenas em público)
primeiro tenta um simples olhar, apesar de aviso mesmo assim cheios de ternura, depois volta a entreter-se com o cão como se não fosse nada
(gosta muito do cão, embora seja óbvio pois fui eu que lho ofereci, tão bonitos os dois)
eu desvio o olhar pela mesa e aí a confirmação que qualquer coisa de diferente nela, sempre capaz de fazer o que menos se espera
(claro que não o mesmo que esta cambada de tansos onde agora pouso os olhos, conversas de política e economia, às vezes golfe ou ténis enquanto risos, apertos de mão rápidos, suaves palmadas nas costas, esperam pela sua vez para falar, as anedotas tão sublimes, tiques que só eles compreendem
a inteligência
uma vez por outra a prima que há muito já não vêem e fica sempre bem perguntar pela saúde, pelos miúdos e parece que boas notas, um ou outro já namora
a irreverência
a mais nova que têm um jeito para o ballet, nada como a primeira que em vez de mão apareceu-lhe um telemóvel incorporado quase desde nascença, o pequenote que já é o capitão da equipa de rugby
homem, o treinador muito boa pessoa, uma vez ou outra janta lá em casa
acabam-se as conversas e compromissos, horários, reuniões, portas a bater no andar de cima e mulheres dum lado ao outro tentando disfarçar a ausência do marido
-foi atender à minha sogra, anda inquieta desde que lhe descobriram diabetes, não demora nada)
e felizmente que a minha mãe uma saúde de ferro.

domingo, 6 de setembro de 2009

Estrangeiro

Estava ainda no corredor que dava acesso à sala, quando uma rapariga, que vinha do outro lado, levantou a cara e chegou-se junto a ele, beijando-o de surpresa. Não a conhecia mas o primeiro impulso fê-lo aproveitar e respondeu, aproveitou mais um bocado e deixou a mão direita cair-lhe pelas costas abaixo. Quando pararam e ela já sorria, olhou-a nos olhos e algo lhe causou impressão, algo de insaciável. Pensou que ela poderia ter acabado com alguém e arrependeu-se de ter respondido.
-È apoio? Se for preciso está uma cadeira ali atrás. - inclinou o corpo para trás e apontou sem tirar os olhos dela. Ela deu um passo atrás e olhava-o com vontade de vomitar, os olhos agora parados e os braços abertos à espera duma resposta.
-Estúpido. - e virou-se para a ver sair. Depois, levou a mão ao cabelo e percorria a sua cabeça, abanou-a ligeiramente e seguiu em frente, até à pista, onde mal entrou uma luz verde passou sobre ele e o obrigou a fechar os olhos.
Abriu um túnel no meio das pessoas que dançavam e encontrou um colega de turma. Este sorriu para ele e chegou a boca mais perto do ouvido dele.
-Queres ir beber um shot com o pessoal? - perguntou o colega.
-Já sabes que eu não bebo água.
-Deixa-te de tretas. Anda lá, tamos a fazer competição.
-Eu não bebo para fazer competição.
-Então bebes para quê?
-Para esquecer competições.
-Olha, vai-te foder. Se não queres não bebas que ninguém te obriga. Sempre com manias tu.
O amigo virou costas e ele fez o mesmo. Até à saída odiou a música que se ouviu e perguntou-se porque ainda continuava a vir a sítios como este. Mal saí, levou as mãos aos bolsos e encolheu-se o máximo por causa do frio. Virou uma rua à direita e viu um amigo dele que costumava por ali estar de noite, sentado nas escadas dum prédio ainda em construção. Aproximou-se, assim que o viu o amigo sorriu-lhe, ele fez o mesmo. Sentou-se igualmente nas escadas e, um pouco melhor abrigado, tirou as mãos dos bolsos.
-Frio, não é? Uma grande seca, só estraga o negócio. - disse o amigo. - Estava em casa a combinar as cenas com eles e calhou-me a mim. Mas já está quase tudo tratado, vai ser fácil.
-O que é que vão gamar?
-Um velho tem um mini-mercado ali adiante. O Paulo já trabalhou lá e disse que nem câmaras têm. E o gajo também não lhe pagou o ordenado.
-È o que deve com juros.
-Ora nem mais.
O amigo tirou a mochila das costas e apareceram duas ganzas já feitas, uma das quais levou com a mão à frente da cara dele.
-Queres?
-Não, deixa estar.
-Menino. Ainda estou para ver a primeira que fumas sozinho. - olhou para ele de novo, agora mais atentamente - Que se passa? Tás esquisito, pá.
-Não é nada.
-Se não é nada, é porque é alguma coisa, ou não? E tu é que és o homem das letras. Já agora, aquele russo que me emprestas-te, não me lembro agora o nome, foda-se, muita fixe. Era meio doido, não era? Mas vá, diz lá o que vai dentro dessa cabeça de vento.
-Dostoiveski.
-Ãhh?
-O autor que te emprestei.
-Pois, mas isso agora não interessa. Vá, diz lá o que te chateia.
-È uma rapariga.
-Ohhhh… Eu logo vi que havia aí saias. Eh pá, tens de deixar de pensar tanto, já te disse que elas não gostam de quem pense muito, é como se tivessem de ser sempre elas a mandar. O melhor é deixá-las falar e nunca, mas nunca, tentes percebê-las, é impossível.
-Deixas-me falar ou não? È incrível a quantidade de treta que te saí pela boca. Não te sentes mal com isso, tantas filosofias?
-Pronto, pronto. Já vi que estás de mau humor, fala à vontade.
-Estava a entrar na discoteca e veio uma rapariga na minha direcção, nem tinha dado conta nem nada, não a conhecia, acho que nunca a tinha visto na vida. - E contou-lhe o resto da história.
-Era boa?
-Não me lembro bem... mas sim, acho que era muito gira.
-E tu fizeste-a ir embora!? Estou lixado contigo.
-Não consigo deixar de pensar em qual seria o problema dela. E acho que agora ainda a lixei mais.
-O problema dela? O que gostava de saber é qual é o teu. Então uma gaja, e ao que parece boa, mete-se contigo e tu dás-lhe para trás. E se ela fez isso é porque sabia muito bem o que queria. E tu foste estúpido, por isso que te preocupas agora, se tivesses aproveitado não estavas assim.
-Tu não me deves estar a ouvir, de certeza. Eu não devia era ter-lhe respondido, nem depois ter dito o que disse. Acabava logo ali.
-Acabava para ti.
-E como é que eu podia adivinhar? Mas assim meti-me nisto. Pode parecer egoísta, mas se ela não me tivesse beijado acho que nem teria dado que estava ali. Mas agora não consigo parar de me preocupar com ela, dá-me vontade de correr os bares e discotecas da cidade toda à procura dela, pareceu-me toda lixada. E fazer o que fez não resolve nada.
-Mas quem és tu para dizer que não resolve nada? O destino pôs-ta á tua frente e só tinhas era de aproveitar, foi tudo o que o destino te pediu.
-Que se foda o destino! Não acredito nessa merda. Eu bem lhe vi os olhos, não me perguntes como mas sei que alguma coisa não estava bem.
-E sempre a dar no mesmo, estás sempre a inventar. Já pensaste que ela poderia querer apenas uma curte? Já pensaste nisso?
-Duvido muito. E não é só isso, é comigo também. Foda-se, sinto-me tão vulnerável. Bastou um beijo dela e fiquei logo todo maluco, não me consegui controlar, como se não estivesse em mim até lhe ver os olhos. Estive tão mal, não acredito que estive tão mal. E acho que o que lhe disse foi como que a responder a isso, a vingar-me de alguma maneira. Porra, só dá-me vontade de vomitar. - abanou a cabeça - E dizer tudo isto, porra, tu conheces-me, sabes que não sou destas tretas, sempre a falar, foda-se! E a culpa disto é tua, tu é que me fizeste falar e agora tenho de a encontrar. - abanava a cabeça, levou as mãos à cara e deixo-as escorrer pela face, subindo-a. De seguida levantou-se
-È assim pá, que é queres? Nada a fazer, um gajo não consegue resistir. Olha, dá mas é aí uma passa. - e pôs-lhe de novo a ganza à frente da mão.
-Deixa estar, não me apetece. Porta-te. - e saíu a correr.

sábado, 5 de setembro de 2009

Who I am...

is close to that Italian boy, doing volunteering in India and trying to find who he is while is growing up.


Lições de vôo, um filme que recomendo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Is This It?


Can't you see I'm trying?
I don't even like it. I just lied to
Get to your apartment, now I'm staying
Here just for a while
I can't think 'cause I'm just way too tired

Is this it?
Is this it?
Is this... it?

Said they'd give you anything you ever wanted
When they lied, I knew it was just stable children
Trying hard not to realize I was sitting right behind them

Oh dear, can't you see? It's them it's not me
We're not enemies; We just disagree
If I was like them all pissed in this bar
He changes his mind, says I went too far
We all disagree
I think we should disagree, yeah

Is this it
Is this it
Is this it

Can't you see I'm trying?
I don't even like it. I just lied to
Get to your apartment, now I'm staying
Here just for a while
I can't think 'cause I'm just way too tired



Fuck, this is it.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Noite de cadeira de três pernas

Ao seu lado uma cadeira com três pernas e óbvio que de cu no chão, nas suas mãos a outra perna a raspar pelo chão, para trás e para a frente, dum lado ao outro, em rectas e em círculos, por entre as suas pernas, ao longo da direita, a raspar a esquerda. Uma parede de tijolos nas costas, vermelhos apesar de diferentes com a Lua e as sombras da parede da frente. A perna de madeira sozinha entre as mãos já que os olhos apenas peito e início das pernas. Um carro passou e da cabeça um gesto, os olhos acompanharam e carro apenas nos ouvidos, dos ouvidos passou às pernas
(movimento de inclinarem-se)
das pernas ouve um ligeiro recuo e a mão esquerda que ainda segurava a perna da cadeira obrigada a largá-la e dar-se a conhecer ao chão, o chão alcatrão com restos de areia de certeza já que inúmeros pontos vermelhos depois do cumprimento, os olhos lançados na parede da frente e no segundo seguinte já esquecida tal como as costas dos tijolos
(não contar com um ligeiro adormecimento ainda sentido e pequenas dores, principalmente nas costas, e as pernas que até ao segundo terceiro metro custaram a responder)
depois do segundo ou terceiro metro
(não estou certo)
inúmeros que se seguiram e com eles luzes, outros carros, risos sem voz e corpo à sua passagem, passadeiras sem darem sinal
(dando origem a pequenas corridas dum lado ao outro embora sem grande preocupação, não tanto pela elevada hora da noite onde pouco movimento como se sabe)
postes que por vezes ao seu encontro sem se desculparem
(mal-educados os postes)
inútil a espera pelo pedido de desculpas dado que nem um olhar para trás ou qualquer sinal de afrouxamento
(palavra utilizada numa linguagem mais própria da de instrutor de condução ou qualquer outro chico-esperto que se julga habilitado a isso)
escadas onde se desconhece a altura apesar de tantas vezes subidas, na parede buracos dum lado e doutro onde se escondem de perfil pequenos rectângulos de madeira cujo objectivo é a passagem de seres humanos
(quem diz seres humanos refere-se igualmente a electrodomésticos, plásticos, mobília e afins)
e onde por uma razão desconhecida há chaves de difícil acesso que pedem colaboração ao joelho direito enquanto se faz um ligeiro barulho com a boca sem tradução possível para palavras
(qualquer coisa como huu; bem disse que não sabia)
e se deixam num qualquer lado para posterior perda de tempo e amaldiçoamento
(-já tás pouco atrasado)
na entrada óbvio que nada, ou seja, sofá, televisão, papéis
(julgo que papéis)
revistas, jornais
(ia dizer livros mas livros não pois todos eles noutra divisão onde é permitida mais concentração caso disposição para isso)
pensa-se noutras coisas e para quê o trabalho em descrevê-las
(não descrevê-las pois feias, o mau gosto desta gente)
e dado isto os pés encaminham-se para a varanda onde acabam por encontrar descanso no muro, as costas numa cadeira aproveitada da casa dum amigo
(não exactamente da casa, o amigo sabe-a toda e logo uma piscina pois claro, a cadeira daquelas que normalmente brancas e com um toque áspero devido a anos e anos ao relento por descuido, os braços cruzados sobre o peito, a mão viva por instantes até que o olhar no buraco onde a cadeira com três pernas e uma arrancada relembra à mão necessidade de descanso, os olhos sem parar no local da outra cadeira até serem vencidos pelo sono.

(a vontade que tenho de ter sido assim, não estava agora a pensar nisso, a minha imaginação vale o que vale)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Era num bar a que normalmente iam. Na mesa que ocupavam, de madeira, tinham apenas 2 cafés por cima. Até chegar ao balcão havia um espaço para dançar. As mesas estavam muito juntas, e o barulho da música tornava quase impossível ouvir outras conversas. Faziam tempo para uma festa onde iriam depois.
-Porque não vais e falas com ela?
-Quem? - respondeu a olhar pela sala.
-Ela. - apontou, depois de reparar que neste momento dançava para outro lado no meio do bar - Não me digas que ainda não a viste. Têm estado a noite toda a olhar para ti.
-Por acaso não, a sério. Perco-me a falar contigo.
-E ela também se perdia.
-Não me interessa.
-Vai lá, deves-lhe isso.
Ele levantou a cabeça e, de olhos bem abertos, mirava a sua amiga.
-Eu o quê!? Mas por acaso matei alguém? Acho que nunca falei com ela nem nada, que treta é essa agora?
-Tu não falas com ela nem com ninguém, já antes mal te ponhamos os olhos em cima, andas todo apanhadinho rapaz. E agora, alguém como ela, muito fixe na minha opinião, que têm estado o tempo todo a olhar para ti, ficas aí sentado. Ela é muito gira, não é? È o que tenho ouvido os rapazes dizer, "toda boa", mais gira do que eu até. È, não é?
-Capaz de ser, nunca reparei bem. Mas já que falo pouco, e já que os meus dias são uma seca, aproveito para ficar aqui a chatear-te. Tenho os meus direitos.
-Então e se eu me for embora?
-Eu paguei ao segurança para trancar isto tudo. Estás condenada.
Na mesa, ele agarrava a colher do café e ia-a rodando na chávena vazia, a amiga virou-se e encontrou-a encostada à parede, a fazer que não com as mãos a alguém que a chamava do meio da confusão.
-Não vais deixá-la ali, pois não?
-Estava bem a pensar nisso.
-Odeio quando te pões com estas coisas, como se tu fosses de ferro. Ao menos uma palavra.
-Isso ainda era pior. Não tenho nada contra a rapariga, mas não me diz nada, é-me um pouco indiferente, que é que queres que eu te faça? E detesto o que está a fazer, como se estivesse à espera, se fosse lá ainda fazia pior.
-Tu não és bom da cabeça. Não, tu não és é humano, há alguma coisa que bate aí dentro? Que é que te custava? Ao menos uma explicação. A outra não está aqui se é isso que te preocupa. Porra, mal a conheces. Se calhar nem à festa vais.
-Tu não a conheces. E não te preocupes, prometeram-me Strokes e bebidas à borla, claro que vou.
-Para mim não faz sentido nenhum. - olho-o nos olhos e abanou a cabeça.
-O quê? Os Strokes ou as bebidas à borla? Fácil, tanto um como outro é curtir até o resto começar a ficar mais claro.
-È mesmo impossível falar contigo, nem sei porque continuo, bem me avisam.
-Devias experimentar o segurança, nem imaginas o maço de notas que lhe pôs nas mãos e agora por mais que tente nem vê-las.
-Sabes que mais? O segurança distraiu-se.
Ela levantou-se e virou costas sem dizer mais nada.
-Espera. - tinha os olhos no chão e massajava as pernas, esteve uns segundos calado - Queres mesmo saber? - voltou a agarrar numa das colheres e rodava-a na chávena enquanto falava - Os olhos dela, são tão grandes, tão vivos que nem sempre consigo olha-la de frente, como se bloqueasse. È a única pessoa a quem não consigo imaginar o que está a pensar. È completamente doida, quando não estou bloqueado não consigo parar de rir, e se por vezes me deixa nervoso, diz logo qualquer coisa que me faz sentir à vontade. Tenho medo como nunca tive. Sinto ainda que era capaz de a fazer feliz, mas nunca vou ter a oportunidade. E acho que ela gosta de outro.
A amiga puxou a cadeira e voltou a sentar-se.
-Ela já sabe?
-Não. - respondeu ele enquanto passava a mão pelo cabelo, deixou-a cair até chegar à barba que deixou mal cortada.
-Não!? E ainda falas da pobre coitada que está ali à tua espera?
-Aconteceu, eu não estava à procura, conheci-a por acaso e comecei a acha-la interessante, tenho vindo a conhecê-la e cada vez mais gosto dela. Tenho cada vez mais medo de me precipitar, ou de deixar passar algum sinal verde, o que duvido que venha a acontecer.
-Agora ainda me parece pior, isto não é nada teu. Chegas mesmo a bloquear? Quer dizer, ficas sem saber o que dizer?
-Às vezes.
Ela riu-se.
-Já sabia que ias gozar.
-Desculpa, mas têm graça vindo de ti.
-Vou beber qualquer coisa, queres? Pago eu, mas aviso-te já que é forte.
-Como se chama?
-È... - e à medida que se misturavam na multidão deixaram de se conseguir ouvir.

These are the Strokes: