Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Os Quadros - "Ken Kiff - Master of Saint Giles"


Quantos sou eu de facto? Quem me olha, será que sou eu que olho, chego a olhar alguma coisa? Onde estou, que sou? A árvore que lenta no seu divagar absorve todos os outros que sem se saberem se são eles ou eu, ou eles e eu, ou eles e eu e nada ou simplesmente, nada do que vos digo? Acho que nunca me consigo responder, e este verde, oh, deixem-me ver este verde. Será ele o nosso pé ou nós o seu? E tudo o que salta e deixa de ser se alguma vez o foi, todos nós, nenhum, nada. De onde fogem vocês? Digam-me! De onde fogem vocês?
Eu não sei porque fujo, sempre vivi na Terra que nunca ninguém viu, minha, só minha, ouviram, minha, ah… minha. E gostava de poder continuar a voar, ter um botão onde carregasse e misturasse tudo em espirais cada vez mais rápidas e concêntricas, salvaguardando sempre a identidade. Mas que identidade têm as coisas? Nenhuma, toda, alguma, outra que ninguém conhece, oh, como gosto de não conhecer o que vejo e fazer um mundo novo, só meu, o mundo de onde venho e não sei se é o mesmo que o vosso, é? Se for, não digam. Sim, talvez seja, talvez seja eu que não tenha identidade. Todas as almas deste mundo não me escapam. Escapam? Então sou eu que fujo, fujo e não vejo por onde ando pois já não é Mundo a terra que piso, desculpem-me estar aqui a falar do que não conhecem ou eu, do alto da minha Ignorância, não ser capaz de vos fazer conhecer, pois como vos disse, só conheço o que vejo ou nem isso pois talvez o que vejo não é o que realmente se depara, mas é algo, verdadeiro ou falso, que há de verdade em tudo isto? E se algo não chega para a Verdade tem de pelo nenos bastar para estas árvores, e estes monstros que não sei se são monstros ou eu ou tu ou outro que não sei agora quem dançando nas minhas estrelas, e eu, sim, disso seguro, eu vendo! Esqueçam, sim, esqueçam, nada faz sentido. Apenas se vos quisesse mentir fazia sentido, não quero!
E agora sim, sem conhecer ninguém, sem ver ninguém, sem ser ninguém, sem saber Verdade ou Mentira, sem o nada que me completa e o tudo que me tira à minha volta digo: Se não é o que vejo, quanta alma sou!

( P.S: Rita, tinha prometido. Espero que gostes :D )

1 comentário:

Rita Silva Avelar disse...

Por vezes penso que estou no centro do mundo. E isso é sem dúvida egoísta. Mas...quem não o faz?
Gostei desde texto, não só pela imagem mas também porque é um pouco e no fundo uma descrição do que tu és. gostei genuinamente ;)

Beijo