Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Les hautes solitudes - Philippe Garrel (1974)

Vi-o a primeira vez numa na Cinematea, na sala Luís de Pina, a qual, como bem sabe, não deverá dar ter mais de 50 lugares, e que se encontrava practicamente cheia nessa sessão. O filme é composto por fragmentos, pequenas imagens, situações, gestos, significados vários e sem que haja uma definição concreta e únia para cada um deles, filmando Jean Seberg (verdadeiro mito da Nouvelle Vague), Nico (à altura, namorada de Philippe Garrel, entrando em mais alguns filmes do mesmo, para além da sua participação nos Velvet Underground), Laurent Terzieff e Tina Aumont de uma tal forma que se torna possível distrinçar o que onde acaba a direcção e começa a espontaniedade e talento das actrizes/actor. Não me atrevo a considerá-lo um filme mudo, apesar de não haver diálogos nem sons, isto porque o silêncio que emana não traz só o seu toque, como é construído não só na nossa imaginação como nos próprios ouvidos,  ensurdecendo-nos, deixando-nos mais despertos para qualquer subtileza, vendo os filmes dos outros. Cada uma das pessoas presentes naquela sala construí, assim, o seu próprio filme, e assim continuaram, mesmo após as luzes acesas, em silêncio durantes mais uns minutos, até que, aos pouos, quando um se prepara para deixar naquela sala uma parte de si e colocar uma máscara para enfrentar o resto do mundo.

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