Supor que algo poderá voltar a ser como foi equivale a relegar o decorrer do tempo, conferindo-lhe ainda um tom quase mítico, como que cíclico. Fazendo fé no que aprendi, o sujeito que anuncia tal concepção coloca-se fora da história, dando-lhe um significado próprio a partir não só do que observa, mas do que traz consigo ao observar esse próprio momento, ou momentos. Trata-se de esquecer que uma enunciação desse género implica, só por si, um corte com o passado, algo que se torna distante não só pela distância temporal, como pelo que implica em relação ao presente, e futuro. Parte-se do princípio que existe uma identidade fixa, o passado, esquecendo-se não só a dificuldade do seu acesso como as múltiplas interferências que o dificultam, modificando-o. Desde logo, neste caso, o peso que esse mesmo passado, agora idealizado, apresenta face a um futuro, em que, quer acabe ou não por ter uma influencia determinante, ou sequer parta de um verdadeiro desejo de o levar em frente, a verdade é que, pura e simplesmente, o passado nunca se repetirá. A carga deixada pelo passado influenciará sempre a acção, mesmo que inconscientemente, para além de que o próprio contexto será diferente, tal como os sujeitos, bem como o tempo poderá apresentar novos ritmos. E, no entanto, o problema maior não é o passado não se poder repetir, nem o facto de ele não se anular completamente, mas, sim, o receio do sentimento de ausência em relação ao mesmo se perpetuar, dificultando, desse modo, o surgir do novo.
Completando, de forma bastante melhor, esta parte final:
"A recepção do novo não pode significar, porém, uma hospitalidade acrítica, pois ele vem morar numa terra já habitada por homens com racionalidade ética e com memória; e é pela comparação, logo suscitada pela pré-compreensão, que a densidade do “aumento de ser” que ele oferece deve começar a ser avaliada. Caso contrário, cair-se-á na reificação da novidade, como se o tempo fosse, tão-só, um infinito somatório de momentos sem passado e sem futuro entre si. E se, como bem ensinou Ernst Bloch, só quem espera o inesperado o poderá encontrar, tal atitude, em vez de passiva, tem de ser activa; deve-se agir para criar, mesmo sabendo-se, de lição colhida nos desmentidos da própria história, que a confirmação da expectativa é, tão-só, o selo da carta que, dentro, também traz o anúncio do seu fracasso. Como, algures, escreveu Paul Valéry, “prevejo, logo, engano-me”. Só neste risco – que é inerente à afirmação da vida – o futuro continuará aberto. Consequentemente, a história só será mestra da vida se, em primeiro lugar, a vida for mestra da história." (negritos meus) - Fernando Catroga, Ainda será a História Mestra da Vida?, pág.34
Por agora, o receio prende-se na incapacidade de esperar.
Completando, de forma bastante melhor, esta parte final:
"A recepção do novo não pode significar, porém, uma hospitalidade acrítica, pois ele vem morar numa terra já habitada por homens com racionalidade ética e com memória; e é pela comparação, logo suscitada pela pré-compreensão, que a densidade do “aumento de ser” que ele oferece deve começar a ser avaliada. Caso contrário, cair-se-á na reificação da novidade, como se o tempo fosse, tão-só, um infinito somatório de momentos sem passado e sem futuro entre si. E se, como bem ensinou Ernst Bloch, só quem espera o inesperado o poderá encontrar, tal atitude, em vez de passiva, tem de ser activa; deve-se agir para criar, mesmo sabendo-se, de lição colhida nos desmentidos da própria história, que a confirmação da expectativa é, tão-só, o selo da carta que, dentro, também traz o anúncio do seu fracasso. Como, algures, escreveu Paul Valéry, “prevejo, logo, engano-me”. Só neste risco – que é inerente à afirmação da vida – o futuro continuará aberto. Consequentemente, a história só será mestra da vida se, em primeiro lugar, a vida for mestra da história." (negritos meus) - Fernando Catroga, Ainda será a História Mestra da Vida?, pág.34
Por agora, o receio prende-se na incapacidade de esperar.
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