Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


sábado, 18 de abril de 2009

O Jardim - I de III

Ela chamava-se Maria Isabel. Tinha cabelos castanho-escuros, mas que aclaravam e brilhavam com muita luz. Uma madeixa que caía sobre um rosto bonito. Pele clara e olhos castanhos, alta e de formas apetecíveis. Chegou aos 25 e nem um beijo dado.
(não era isto que eu queria escrever)
Parecia levar a vida com uma passividade muito sua, sem interesses, sem paixões, sem objectivos. Um mero correr. Aos 16, conseguiu convencer os pais a deixá-la sair dos familiares ares da sua aldeia por uma cidade no Litoral, em casa duma tia. Ela, já muito velha, vivendo só e cheia de problemas de saúde, acolheu com muito gosto a sobrinha. Os seus avos maternos apreciaram o "gesto” e passaram a apoiá-la em tudo; pelo menos, e como lhe dizia a avó: “Até a minha netinha arranjar um marido. Pretendentes não devem faltar” – e sorria, a neta nada respondia e mantinha a face inalterada.
(rapaz, que andas a fazer?, corta tudo e volta atrás)
Tinha poucos amigos e raramente saía de casa. Salvo um certo jardim que costumava aproveitar em dias de Sol, não muito longe de casa, sempre ao final da tarde, esperando pela brisa.
(continua, porra que é teimoso)
Havia um pequeno caminho de terra ladeado por bancos de jardim. Sentava-se e assim ficava, practicamente sem fazer nada, mesmo podendo admirar as árvores e as flores que tomavam a forma de figuras, olhar para alguém que pudesse passar, levantar-se e ir ao pé dum muro que ali estava, apoiar as mãos, e contemplar o mar que batia a poucos metros e a chamava pelo bater das ondas no desfiladeiro. Quanto muito, por vezes curvava-se e passava a mão pelo seu cão, que trazia em todas as ocasiões, e era grande e de pelo branco, muito dócil. Podia-se dizer que apreciava apenas o “respirar” daquele lugar.
(por enquanto fica assim...)
O dia a que me pretendo refirir não deveria ter sido diferente. Saiu, não sem antes ir ao quarto da tia ver se precisava de alguma coisa e comunicar-lhe a saída. Passou por um quiosque e comprou uma revista de moda, ajeitou os óculos escuros e olhou acto contínuo para o espelho duma loja, consertou o cabelo. Parou um bocado para ver a capa e de seguida tornou a caminhar, levava a revista dobrada na mão esquerda e a trela na direita. O queixo sempre direito e de olhar distraído.
(não era mesmo nada disto)

4 comentários:

Joana M. disse...

a minha mãe é Isabel Maria :p

devo confessar que hoje não estou nas minhas melhores atenções, amanha volto com mais tempo para te ler, atentamente ;)

U disse...

Mistério :p gosto do que ela faz quando sai de casa *

maria miguel disse...

o conto que comecei a escrever para o Prémio José Luis Peixoto é parecido!

U disse...

(já ando mais liberta da confusão, mas mesmo assim, quero um sermão quando os comentários voltarem!)