Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


terça-feira, 28 de abril de 2009

(um texto perdido entre tantos outros)

Um empregado morto nos trabalhos, o capataz de volta do meu irmão usando-se do cigarro para ganhar vantagem, justifica
-ninguém o mandou ser burro
pisgasse-se como os outros, mas parece que não gostava muito de beber
-aqui para nós que ninguém nos ouve
faz uma nova dança com o cigarro
-eu nem sou de falar, o patrão conhece-me
chega-se mais perto
-mas ele tinha a mania que era mais que os outros
pedras que pareciam rolar dum lado e doutro, o Sol que já não incomoda tanto pois um copo sempre ajuda com o calor e torna o trabalha mais rápido, o pó subindo
(subindo nada, tudo tão seco que parece casca, arranca-se e junta-se num molho como se fosse um livro, as minhas mãos à procura dum clip)
acrescenta
-já o pai era barbeiro, o senhor não chegou a conhecer
parecia pedir confidência depois dum gesto com a boca seguido dum piscar de olhos, deu um passinho ao de leve para trás
- agente voltou e esqueceu-se dele
uma tábua fora de sítio encontrou repouso na cabeça do mariquinhas
-acidentes acontecem
e abre os braços sabendo que mais nada se pode fazer, amanhã tenho uma consulta e se eu contar alguma coisa ao médico será que ele
(-tábuas?)
-é a vida
puxa tudo o que lhe resta nas goelas e escarra
(fingi-se interessar
-ah... ´tou a ver
ar e dentes de quem fuma, o cheiro que a bata não esconde, aposto se pudesse esquecer-se um bafo em cima de mim
-está a ver aqui?
apontando espaços brancos uns ao lado dos outros como um delta, uma luzinha gasta atrás, fala-me do rádio analizando o meu braço
-isto não anda mesmo nada bem
mete um ar intrigado mas de novo o mesmo)
-quer que o mande enterrar
dá uso ao fumo para disfarçar, contrariado escarra outra vez
-não me custa nada
aí, talvez consciente dos nossos olhares, apercebe-se finalmente do incómodo
-importa-se que fume
o meu irmão faz um gesto de indiferença com a mão que lhe passa despercebido
-o meu único vício sabe
assim que no ribeiro nem um fio para amostra logo uns poucos deixaram de fumar, este todo chupadinho nem por nada
-depois pago um copo ao padreco
despede-se com a mão raquítica estendida ao céu já depois de volver costas, memórias ocorrem-lhe
-agora que me lembro, esse cabrão ainda me deve dinheiro da aposta
que uma pessoa acaba sempre por perder-se e não é por ser padre que se safa, as recordações parecendo vir umas atrás de outras atormentam-no e vira-se novamente para descarro de consciência
-na volta passo pela barraca da mãe
escarra novamente e dá um bafo que parece tranquilizar-lhe as ideias
-quem os fez que os trate
e perde-se no horizonte, manco da perna direita.
Por enquanto esqueço-me, (vírgula)
(o porquê disto, digam-me, orienta-te que já vai sendo tempo, o capataz onde, atenção ao poste mesmo aí à frente)
não digam nada a ninguém mas o clip nunca apareceu.

(P.S: esta história é puramente ficcional. deixo esta nota depois de ter visto o primeiro comentário. só para não criar confusão. :D)

12 comentários:

U disse...

Pronto, perdi-me completamente.
Alguém fez mal/foi injusto com teu irmão (?) e há-de pagá-las.
Acho que mais que isto, não percebo.

U disse...

LOOOOOOOOOOOL.
Sou parva como tudo xD posso usar a desculpa do sono, mas eu acho que é mesmo parvoíce, ignorância ou estupidez. Podes escolher a que achares melhor.

U disse...

Estou muito atrasada (mas eu sou mesmo assim, nunca a horas, desviada do tempo.)

'stracci disse...

Gosto da originalidade, do estilo muito próprio.

al disse...

tens toda a razão. mas é o que querem quando me pedem textos ..

(amanhã leio este teu post, desculpa :x) *

Joana M. disse...

Os teus comentários são sempre uma doce surpresa :D
e tu ri-te à vontade, que aquela besta de homem só dá para rir..
quanto à vontade de bater em alguém.. eu cá tive vontade de me enfiar num buraco bem fundo - humilhei-me e acho que nem merecia :x

tu também tens momentos frageis assim?

Tani disse...

o teu estilo de escrita é tão bonito de se ler :)

ja tinha saudades de passar aqui.

Joana M. disse...

Há pessoas que julgam ter o Rei na barriga e ainda conseguem pôr o Rei na barriga dos outros, de tão engenhocas se julgarem - e partem do geral para o particular porque a carapuça serve - aí já não há muito que se possa fazer. Não ligues a comentários daqueles, se precisava daquilo para ser feliz então é mais triste do que julguei que fosse.
Adiante, eu gosto da voz dela porque acho que tem um profundidade e uma força muito próprias, mas amo é a música, que é de Etta James *-*
Adrian Brody também é dos meus preferidos - ele tem sempre um misto de mistério e reserva e, na minha opinião, fez um papelão em O Pianista :o

mas já estou a divagar ^^'
Gosto tanto de ler as tuas atenções Nuno - trazes sorrisos ao meu dia :)

U disse...

Vou ter que discordar, mas com justificações válidas.
Já sei qual foi o meu erro, não li bem o título do teu post.

maria miguel disse...

se estava perdido valeu a pena ter sido encontrado e colocado aqui!
obrigado :) beijinho

Xaninha disse...

gosto mesmo desta forma tão viva que escreves, (: apesar deste texto ser ficcional é tão realista que me senti no meio do fumo enquanto lia :b
um beijinho *

Anónimo disse...

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