Sentou-se num banco de jardim. O mesmo de sempre. Fitava particularmente uma árvore, que apesar de não lhe saber o nome, lhe transmitia uma sensação estranha de paz. E assim ficou, tranquila, todo esse tempo sem se preocupar com mais do que uma ou outra festa no dorso do cão em resposta aos seus latidos. Até que uma voz a fez recuperar os sentidos:
-Minha querida Maria. Como estás? Oh… - abriu os braços por impulso mas depressa se recompôs - mais bonita do que nunca. – e sorriu.
Era Luís, um velho conhecido de Maria. Ultimamente, desde que soube destas «saídas», passa pelo jardim todos os dias, mal sai do escritório. Na empresa do pai. Fato e gravata, nunca tira das mãos a pasta para suavizar o nervosismo.
Maria sorriu um pouco, um sorriso seco, disse: “Olá Luís” e voltou-se para o cão. Estiveram assim uns segundos, ela sentada, ele de pé a admirá-la, nervoso.
-Não se senta? Esteja descansado que não mordo.
Ele tentou disfarçar com um sorriso. Sentou-se devagar, olhou o cão. Ganhou coragem e virou-se então para ela, com a pasta sobre os joelhos.
-Bem sei que não morde, sempre a brincar a Maria. Estava era distraído a contemplar os seus lindos olhos.
-Não comece outra vez. Estou a ficar farta das suas histórias. Não lhe chegou já?
-Não, desculpe-me. Mas é você… Não me consigo aperceber do que faço. Mas por favor, não vá, isso foi só uma vez, juro. – e via-se o desespero no seu rosto.
-Muito bem. Mas ai de você que comece outra vez aí a declamar a plenos pulmões. Vou-me logo embora. – e apontou com o dedo para a saída do jardim.
Ficaram uns minutos em silêncio, ele sempre direitinho, olhar baixo na direcção da pasta; ela ocupava-se do cão.
Luís tossiu um seco. – Já pensou naquilo que eu lhe disse?
-Naquilo o quê? – olhou para ele com a sobrancelha direita levantada.
Ele engasgou-se um pouco.
-Sobre… - e ia entrelaçando os dedos – sobre… - tossiu de novo – o nosso jantar.
-Não há muito em que pensar. – sempre serena, no mesmo tom de voz, e brincando com o cão que agora se apoiava no banco.
Luís, muito devagar, pôs a mala à sua esquerda. Abriu-a sem o menor barulho e tirou uma rosa, envolvida num plástico transparente. Maria sempre de volta do cão. Agarrou decidido a rosa, deu um pequeno salto, bastante desengonçado, para a frente de Maria. Elevou a rosa com a mão direita e deixou cair a esquerda sobre o joelho. Ela ficou sem reacção.
10 comentários:
quero o fim :D
E eu também quero o fim :| o problema do poço, é que não tem fundo, logo se me atirasses a corda não a chegava a apanhar :/ tou sempre a descer. E não dá para mexer! Mas vá, é só papel para queimar.
oh.. eu também queria que me dessem assim uma rosa :') *
:) que bela maneira de nos deixar curiosos!
Gostei muito, tive imagens de tudo *
Amoroso, este - comovente!
O meu segredo é o mesmo do filme: I was watching him first :p
Pois deixava, não pode ser!
E não gosto da frase que tens ali em cima, ai!
Fiquei curiosa =D
anciosa pelo fim, está particularmente interessante o decorrer da historia (:
ela vai ter que aceitar, depois na rosa nao há hipotese :)
Mau mau! Não é nada que eu identifico-me com muito.
Já te inspiravas, já já.
Enviar um comentário