Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quarta-feira, 10 de junho de 2009

(?) - II

Caí no momento a seguir, estou seguro disso. Estava escuro, tive de me apoiar para voltar a subir, numa rocha creio. Pode parecer estranho, mas sentia-me melhor quando caía; não sentia muito as dores das quedas, e era-me mais fácil respirar.
Passei a noite a andar com as mãos à frente. Andava abaixado e apalpava. De manhã reparei que estava cheio de marcas, já todas secas. Paus, pedras, arbustos, julgo que o som de pássaros ... algumas imagens na minha cabeça.
Não faço ideia como cheguei a casa. Estava já claro - os olhos doíam-me muito quando acordei. Não sei quanto tempo andei por lá, a minha mulher disse que eu havia saído por volta das 21:00. Depois disso, e falando com toda a certeza, só o momento em que apareci à frente de casa - estive alguns minutos a olhar para a porta, incrível como não passou ninguém. Procurei uma chave que temos escondida, mas estava noutro sítio. Assim que entrei, deitei-me no sofá e adormeci. Já estava consciente o suficiente para não fazer barulho e ninguém me chateou. Depois de acordar soube que esqueci-me da porta aberta.
A minha mulher acordou-me por volta das 10:20, vi no relógio da sala. Ela disse-me que eu lhe perguntei onde estava. Depois foi o que estava ela a fazer - tratava-me das feridas. Ela acabou - disse-me que eu não parava quieto com as mãos - e eu fui para o meu quarto dormir. Só depois conversamos.
Contei tudo isto ao meu médico. Ele disse que era normal. Fiz tudo isto por estar em delírio, não deveria ter saído de casa.

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